quarta-feira, dezembro 31, 2008

Ele há Diaz assim...

A ler o Diaz apercebo-me: porra, levo-me tão a sério. E pelo que leio nele, isto não é uma doença geracional. É mesmo uma patologia própria, que não dá para atribuir a qualquer causa exterior. Ajudar-me-ia, se desse.

terça-feira, dezembro 30, 2008

People

As relações humanas são do mais estranho e encantador que há. Julgará alguém que é o que é se no seu caminho não se tivesse cruzado com as pessoas com que se cruzou e, acrescento, com aquelas que deixou de se cruzar? Eu sou tanta gente e tanta gente é o que eu sou.


Já sei qual será a minha próxima leitura: A Última Aula, de Randy Pausch. A edição? Editorial Presença.

P.S. Acabei de fazer a minha pré-inscrição num curso de escrita criativa. Desta vez, com o Possidónio Cachapa. Talvez me aceitem.

segunda-feira, dezembro 29, 2008

E o prémio vai para?

Acabei de saber, por estes dias, que um dos meus escritores de eleição decidiu concorrer a um prémio de poesia para autores-revelação recorrendo ao uso de um pseudónimo e (imaginem?!) ganhou o dito prémio.
Factos a registar:
1. Um prémio para autores-revelação não deveria ser um prémio para autores-revelação? - Que motivos terão levado um autor de mérito reconhecido concorrer a um prémio "menor"? Para mim, é como se a Mariza decidisse concorrer a uma eleição para jovens fadistas, recorrendo a outro nome, mas não a outra voz ou experiência...
2. A mensagem transmitida aos outros concorrentes que preeencheram os requisitos pré-estabelecidos para o concurso é a de que, afinal, em determinadas circunstâncias, podem ignorar-se os pré-requisitos. - Em que mundo vivemos nós? Em que mundo deseja o meu querido autor que vivamos?
3. O universo editorial não escapou à crise generalizada que se instalou um pouco por toda a parte e este ano que está prestes a terminar trouxe agitamentos confusos e fusões ainda mais desconcertantes. Terá sido uma estratégia editorial que levou o meu autor querido a participar em estapafúrdio concurso?

Depois de ser informada desta história, lembrei-me imediatamente de uma professora fantástica que tive no meu primeiro ano de faculdade. Ela dizia sempre para evitarmos conhecer pessoalmente os autores dos livros, uma vez que a pessoa de carne e osso não corresponde, na sua maioria, ao autor de papel, transmissor de uma sabedoria infinita e humana. Apesar de compreender o que nos dizia, fui incapaz de seguir o seu conselho e relacionei-me com vários escritores. Um deles este de quem agora falo. Além de lhe admirar a mestria de uso das palavras e do senso com que arruma o mundo, reconheço-lhe a simplicidade com que tem lidado com o sucesso; por isso é que é tão difícil aceitar que pudesse participar em algo tão descabido. Ao mesmo tempo, a razão de ser da nossa humanidade está no facto de cometermos erros, de não sermos seres irrepreensíveis ou dotados da verdade absoluta. Por saber disto, aceito o erro do meu escritor de carne e osso; aceito o erro dos jurados que, apesar de serem informados mais tarde do facto, o mantiveram em concurso; aceito também o erro daqueles que insistem em defender a atitude do meu escritor em nome da amizade; só não posso deixar de lembrar que a amizade e o amor são dois sentimentos que exigem mais do que palmadinhas nas costas.

domingo, dezembro 28, 2008

P.S. Depois de escrever o texto anterior, pesquisei na Internet sobre o quadro que ainda recordava e consegui encontrá-lo. A Internet faz maravilhas, desta vez, trouxe-me de volta uma amiga de infância. É incrível perceber que a minha memória reteve o mais importante deste quadro. O nome do pintor? G. Bragolin, parece que se dedicava a pintar crianças em lágrimas.

o ano novo ou o novo ano?

Não me lembro desde quando desvalorizo as comemorações do novo ano. Só sei que é desde há muito, talvez desde a época em que eu era tão menina e tão calada que passava horas a interrogar-me sobre o mundo à minha volta. Lembro-me, por exemplo, de um quadro que a minha avó tinha numa das paredes da sua sala, era uma tela enorme emoldurada por um doirado gasto. Na tela vivia uma menina com um penteado semelhante ao meu. Embora ela fosse loira e tivesse olhos verdes. Também tinha um xaile vermelho aos ombros e duas lágrimas no rosto. Sei que não eram as lágrimas que me levavam a ter a certeza da sua tristeza, era mais a profundidade do seu olhar, o beicinho pendurado nos seus lábios e a circunstância da sua solidão. Cheguei a chorar com aquela menina que não conhecia verdadeiramente, por ser uma menina aprisionada numa tela; porém, identificava-me com ela e todas as vezes em que a olhava tornava-me nela própria. Desconhecia as razões da sua amargura, muito menos o significado de «amargura», mas lembro-me, já nessa altura, de compreender a tristeza e de querer encontrar razões para a sua existência: deixaram-na ali, pensava. Deixaram-na ali sozinha e ela está triste por causa disso. Julgo que a solidão me afligia (continua a afligir-me ainda hoje, pelo menos a solidão que eu não escolho) ou quem sabe pensasse outras coisas que agora não consigo recordar; contudo, de uma coisa estou certa, passei horas a tentar, em silêncio, adivinhar as razões que estariam por detrás daqueles olhos tristes iguais aos meus. Não era uma miúda alegre como hoje sou uma mulher alegre. Pergunto-me, será estranho que sendo eu uma mulher alegre me faça confusão a euforia das comemorações do revéillon? Ou não serei eu, afinal, uma mulher assim tão alegre?
Não me lembro, de facto, desde quando sinto que estas comemorações são inúteis, como inúteis são todas as promessas que se fazem:
1. Não vou comer mais doces;
2.Vou deixar de fumar;
3. Vou deixar de cobiçar a mulher do meu amigo e/ou foder o marido das outras;
4. Vou viajar;
5. Vou tirar um curso;
6. Vou emagrecer;
7. Vou praticar ginástica;
8. Passarei a ir ao teatro;
9. Não vou adormecer em frente à televisão;
10. Não vou fechar os olhos e pensar em outras mulheres enquanto a minha própria me engoma a camisa que vou vestir no dia seguinte;
11. Não vou bater umas na casa de banho do meu escritório;
12. Não farei mais sexo virtual.

Na verdade, estas listas não são nada mais do que reminiscências deprimentes da nossa educação católica, que nos leva a acreditar que a vida é mais equilibrada e honesta quanto mais insípida ela for.
Recuso-me este ano em ceder à tentação de participar em festas só porque é suposto que nesta data se festeje seja o que for. Recuso-me igualmente em subir para cima de uma cadeira e devorar 12 passas (que odeio) para ter direito a pedir os meus 12 desejos - que a maior parte das pessoas esquece dois minutos depois - e recuso-me ainda mais a estar na companhia de pessoas que se encontram em exaltação total só porque estão certas da inauguração de um novo ano. Pois, este ano quero ceder apenas à tentação de estar comigo mesma, provavelmente numa praia qualquer, a olhar o mar e a imaginar a vida que existe dentro e fora dele. Este ano exijo que a minha solidão se concretize e seja uma escolha própria, como a roupa que vestirei em seguida. Uma escolha como outras que faço na vivência quotidiana dos meus dias. Uma escolha que me pertence em exclusivo. Tenho dito.

quarta-feira, dezembro 24, 2008

amor e poesia

perdoa-me. perdi-me de novo.

não ouvi dizer-te que fazer amor comigo é como escrever poesia. mas é, eu sei que é. também sei que as palavras te doem por dentro, é por isso que as guardas onde ninguém as espreita. não podes censurar-me por descobrir o que gostarias de dizer-me, não podes... se soubesses, dir-me-ias que fazer amor comigo é como escrever poesia. as diferentes posições são como a busca incessante pela palavra certa. as mãos que me afagam é como se procurassem o ritmo que as palavras exigem. as músicas são as ninfas dos poetas: inspiradoras! eu e tu escrevemos poesia juntos. eu sei que sim; apesar de nunca te ter ouvido dizer que fazer amor comigo é como escrever poesia. nunca disseste que fazer amor comigo é como escrever poesia. é porque nunca fizeste amor comigo? ou é porque fazer amor comigo não é como escrever poesia? eu gosto de acreditar que sim. e como nunca dizes o que as palavras são capazes, invento que oiço a tua voz dizer-me que fazer amor comigo é como escrever poesia. nesse instante, em que oiço a tua voz que invento, oiço também as palavras que nunca me dirás, dizendo-me: fazer amor contigo é como escrever poesia.

perdoa-me. mas tenho a sensação de que me perdi de novo.

terça-feira, dezembro 16, 2008

Digam: 33!

Tenho medo de confessá-lo. Ou talvez não seja medo, mas vergonha. Não, também não será vergonha. É mais a verdade sobre aquilo que penso deste processo que me atinge aos poucos: o envelhecimento. Não tenho medo de morrer; a morte não me assusta mais do que, por exemplo, uma trovoada gigante ou não me arrepia mais do que uma barata grande e preta a passar-me por baixo dos pés. O envelhecimento... bem, pensar no envelhecimento faz-me tremer por dentro. Será que é por isso que olho para os velhos com um reconhecimento implícito e que me apetece abraçá-los e dizer-lhes que a vida também deve poder ser bonita após as rugas; com a reforma e a independência dos filhos?


Hoje faço 33 anos e sinto-me feliz.

sexta-feira, dezembro 12, 2008

A Mãe do meu Filho

Foi um amanhecer como outros. Menos cabelo, talvez, por razões de corte na noite anterior. Acordei-o, aos pulos. Ainda de olhos fechados, disse-me qualquer coisa como: Boa, não tenho uma irmã de dois anos, tenho uma mãe de 32! Sorri. Sei que me disse isso com a satisfação de poder ter-me aos pulos, na sua cama. Entendemo-nos. Respeitamo-nos. A surpresa veio de mansinho, inesperada, enquanto lhe assinava uns testes para ele devolver às professoras. No teste de Inglês, na parte da composição, li no título: My Mother. Não emoção de lê-lo, as lágrimas e o reconhecimento por ignorar-me as falhas (imensas, gigantes), valorizando o amor. Reescrevo o texto do Rodrigo por vaidade, por pura vaidade. Mas também para que eu nunca esqueça que um dia ele me olhou assim:


My Mother

My mother is tall and slim, she paints her hair blond but it is trully dark. She has brown eyes and she is tender and also sweet. Her name is Sónia. She likes to talk with her friends, she likes to cook and she also likes her work.
She is funny, she thinks "out side of the box", she is a great mom and i get on very well with her. We talk, we play with each other, we go to the cinema and we teach ourselves the things we know. I just love her so much! She is a manager at EP- Estradas de Portugal. She was also a reviser at the magazine TV 7 Dias.

terça-feira, dezembro 09, 2008

Folha BRANCA




Há vento lá fora. E um azul imenso, infinito. A água do rio tem pequenas ondas brancas, da espuma. Parecem cardumes de peixes, essas ondas pequenas. As árvores dançam ao som do vento, que lhes canta uma melodia apressada. Fora desta paisagem, existo eu. Talvez hoje pudesse ser uma daquelas árvores que vejo daqui, por uma nesga de claridade e vidro. Ou talvez pudesse ser uma daquelas ondas pequenas e curtas, de espuma branca; revoltas de encontro à água. Hoje acordei com uma sensação de turvidade esquisita. As pessoas incomodam-me. As vozes das pessoas incomodam-me. Os risos incomodam-me. O som dos risos incomoda-me. Apetecia-me abrir os braços e ficar entregue ao vento, exactamente como aquelas árvores lá fora. O vento desgrenharia as minhas emoções, que precisam de uma arrumação desalinhada.




Há medo aqui dentro. Há tristeza. Há solidão. Há desconforto: e dentro desta paisagem, existo eu. Mais do que árvore, onda ou espuma, sou uma folha branca, rasgada aos pedaços e atirada ao vento que sopra.


foto: flickr.com/photos/patchetudo/2523527675




terça-feira, dezembro 02, 2008

Eu sei o que é, mas não digo

É o frio que nos desconforta os sonhos. São as pessoas nas ruas à procura de tudo. Também de nada. São as luzes que iluminam as ruas - na Liberdade, as lágrimas são de luz e escorrem pelos rostos cansados das árvores. São as lojas em frenesim, antecipando ganhos. São as pessoas em frenesim, advinhando gastos. São as crianças em frenesim, ignorando custos. É o bolo-rei. São os azevinhos. São os sonhos. É a torta de chocolate, o bacalhau, as couves. É a toalha de mesa vermelha e dourada. É a árvore com enfeites. São as luzes a piscar. São as prendas que se pensam. Mais as que se dão. E aquelas que se recebem. São os sorrisos nos lábios. Tantas vezes, é a tristeza nos lábios daqueles que ignoramos, não por maldade, mas por desconhecimento. É a solidariedade. É o pai natal gordo e barbudo em cadeiras luxuosas dos centros comerciais. São os sinos da igreja. É a missa do galo. São os pedaços de papéis espalhados pelo chão. É a rena Rudolfo. São os trenós e os duendes. É a verdade e a mentira de mãos dadas. É o som dos brinquedos novos aos magotes. É o constante "Falta muito?" das crianças, nossas e dos outros. São os primos, os tios, os avós, os pais, os irmãos, os sobrinhos e os filhos amontoados, parecendo um. É a minha família. É a nossa família. É a família de toda a gente. E é o amor. É o amor que não resiste ao encanto frutado da época. É isto. É aquilo. É isto e aquilo e o que se quiser. Melhor, o que dele se fizer...