quinta-feira, fevereiro 25, 2010

A genialidade das teorias simples

Ontem bem tentei escrever um texto, mas o sistema informático não mo permitiu. É a censura moderna.

"Há duas coisas infinitas, o Universo e a estupidez humana. E não estou tão certo quanto ao Universo."

Albert Einstein

quinta-feira, fevereiro 18, 2010

Um é igual a dois, que são três

Não sei amar metades. Ou amar por partes. Ou ainda amar alternadamente. Não sei amar devagar. Com calma. Sem pressas. Ou amar a medo, com a cabeça ligeiramente inclinada para trás, a defender-me do porvir.
Sou exagerada no amor, como em tudo. Estou mais do que certa de que este é um tique de genética familiar. E como todos os tiques, ele é em mim e quase já nem dou pela sua existência...
Foi num dia comum de Fevereiro. Não estava excessivamente frio. A minha casa, por ser nova, encontrava-se vazia. Aos poucos, pensava, ela há-de ganhar vida e alma.
A minha irmã era uma barriga enorme, prestes a rebentar a qualquer hora. E essa hora não tardou demasiado. Foi só o tempo de descarregar as compras feitas no IKEA e correr para levá-la para a maternidade.
Vê-la sofrer mata-me por dentro, viajo quase instantaneamente para a casa da nossa infância, onde estamos as duas sentadas à mesa, ela numa ponta, eu na outra. Há palitos dispostos e eu incito-a a soprá-los. Com olheiras profundas e uma respiração ofegante - o som mais vivo é o da sua respiração aflitiva - ela sopra nos palitos com o vigor que a sua frágil saúde permite. Eu bato palmas e rio, procurando que a minha alegria a contagie também. Eramos apenas duas crianças a tentar escapar à voracidade da asma que lhe consumia muitos dos dias e das noites.
Voltamos à maternidade e às dores que o seu rosto e a sua voz revelavam. Levaram-na para dentro e não mais a vi. E nunca mais voltei a vê-la como antes. A minha irmã deixou, nesse dia comum de Fevereiro, de ser apenas a minha irmã. Desde essa altura, ela é a minha irmã e a mãe do meu sobrinho.
Desconheço qual das duas amo mais, se a irmã, se a mãe. Exagerada como sou, devo amá-las a ambas com a mesma força e a mesma verdade.
No dia 18 de Fevereiro de 2006, a minha irmã foi mãe do meu sobrinho e o meu tique de genética familiar ganhou novas razões para existir - mesmo sem delas precisar.

segunda-feira, fevereiro 15, 2010

Da razão de ser árabe

Depois do filme de ontem (O Visitante, de Thomas McCarthy) não admitirei que me venham acusar de atrasos. Sou árabe e aos árabes o relógio condescendesse sempre uma hora extra.
Pelo que nunca mais na minha vida acontecerá isto:
 Mãe - O almoço é às 13.00 horas.
Eu, em casa, já perto das 13.00 horas combinadas, a suar em bica, ainda por vestir, lavar a loiça, desligar o pc, despejar o lixo, desligar todas as luzes, a correr para que o relógio não me obrigue a chegar a casa da minha mãe pelas 14.00 horas, cheia de desculpas inventadas à pressa, no caminho, e ouvir:
Mãe - Contigo é sempre a mesma coisa. Combina-se às 13.00, apareces uma hora depois.
Após o esclarecimento obtido no filme de ontem, tudo será assim:
Mãe - Aparece pelas 18.00 horas.
Eu, em casa, perto das 18.00 horas combinadas, ainda por vestir, lavar a loiça, desligar o pc, despejar o lixo, desligar todas as luzes, vou, com calma e com paciência, dirimindo as actividades que se impõem. Ao chegar a casa da minha mãe, com a tranquilidade merecida, direi:
Eu - No horário árabe são ainda 18 horas. Cheguei mesmo a tempo...

sexta-feira, fevereiro 12, 2010

Dois pontos

1.
Era mais do que cedo. Quando vi, ao longe, o que me pareceu ser gnomos verdes, coloridos, nos separadores centrais da A5. Ao aproximar-me, percebi que aqueles gnomos eram, afinal, homens metidos em capas verdes, à mercê da chuva e do frio desta manhã de Inverno.
O que faziam aqueles homens ali, àquela hora, naquele sítio?
Podavam as árvores que estão plantadas no separador central da A5.
Até ontem nem tinha percebido que a A5 tinha árvores nos seus separadores centrais. Muito menos que essas árvores tinham de ser podadas. Ou que existisse pessoas a quem fora dada a tarefa de podar as árvores que eu ignorava.

2.
51 anos. E olho para ela, para a velhice que lhe vai acontecendo, sabendo que não faltará muito para chegar a minha vez.
16 anos. São esses os escassos números que nos separam.  16 passos que se dão num ápice de vida.
34 anos; o meu número correndo atrás do número dela.
Quero conservar o seu riso de menina. As rugas cavam-lhe o rosto de memórias, mas o sorriso permanece puro, ingénuo, igual a antes.
Quando crescer quero ser como ela.

quinta-feira, fevereiro 11, 2010

Lições

"O segredo da vida não está em impedirmos as quedas, mas em erguermo-nos cada vez que caímos."

Nelson Mandela

terça-feira, fevereiro 09, 2010

O peso da vida

O aumento de trabalho súbito e sem pré-aviso tem-me afastado das páginas do meu diário pessoal. Ao início do dia sou arrastada para um turbilhão de "coisas por fazer" ao final do dia sou mitigada pelo peso das "coisas feitas e das que ainda faltam fazer".
Acho que preciso de tempo.
Alguém tem tempo para vender? Para emprestar? Para oferecer?
Alguém?
Olá?

quarta-feira, fevereiro 03, 2010

Lágrimas de rio

Quando eu era pequenina e cabia na palma da mão dos grandes ou no abraço quentinho da minha mãe, sem que sobrasse de mim qualquer pedaço visível, atravessar a Ponte 25 de Abril era um momento de euforia e medo. Lembro-me de pedir ao meu pai que passasse com o carro na via com furinhos, na via de onde se podia espreitar o rio. Era raro abrir a janela, tinha medo de que o rio, ao sentir-se bisbilhotado, me engolisse inexoravelmente, mas encostava  o meu rosto de encontro à janela para que a visão se desse dentro dos meus olhos.
Uma vez, num Verão qualquer, por causa da ausência de ar condicionado, o meu pai manteve todas as janelas do carro abertas e, ao passarmos na Ponte, uma vespa entrou e picou-me o pescoço. Entendo agora que as lágrimas que chorei nesse dia não foram de dor. O rio percebeu que eu não o iria reter nos meus olhos, porque estava demasiado ocupada em esquecer a ousadia da vespa que me picara, e fez-me uma visita. Não tendo eu olhado o rio, veio ele olhar-me a mim, e as lágrimas que pensei chorar, eram, afinal, as mãos de água que o rio usou para me acarinhar na visita que não lhe fiz.