quarta-feira, junho 30, 2010

O amor é uma avenida de múltiplos sentidos

Andava por ruas incógnitas, olhava para as árvores e via estas acenarem-lhe com mãozinhas tenras e verdes. Pensava em si e na vida e quanto mais a pensava, mais ela se esvaía em obscuras e impenetráveis realidades. Quis gritar, mas o grito retombou num enorme silêncio, num gigante e perigoso silêncio.
A angústia crescia-lhe com os passos e lembrava-se dos delírios febris da infância - ao mesmo tempo murmurava:
 "Sou triste da vida. Tenho esta dor e não sei o que fazer com ela; pior, não quero nada dela."

Quantas vezes não sou este homem perdido dentro de si próprio? Quantas vezes não quero achar uma saída para fora de mim mesma? Quantas vezes não penso que sou triste da vida? E quantas vezes não sigo em frente por desconhecer o caminho para trás e por recear o caminho defronte? É ou não é o amor uma avenida de múltiplos sentidos?

quinta-feira, junho 24, 2010

O que faz de uma noite uma noite (quase) perfeita...

Em conversas soltas, apercebi-me, há muito pouco tempo, que não é correcto defender que a maternidade e a paternidade fazem mais sentido quando não há  diferenças geracionais significativas.
Não é verdade que uma mãe, aos quarenta anos, não possa proporcionar ao seu filho o que ele mais precisa: amor/ compreensão/companheirismo. Mas não há um único dia em que não me sinta privilegiada por ter tão pouca diferença de idade em relação ao Rodrigo. Não fora esse facto, como poderia ter estado eu, no concerto do Slash (ex-guitarrista da famosa banda dos anos 90 - Guns N' Roses), a dançar, pular e a cantar do seu lado?
Não passaram sequer 20 anos da última vez (na altura, a primeira)  que vi o Slash pisar um palco em Lisboa. E é tão bom ver a vida com os olhos de antigamente. Mais, é tão bom partilhar da alegria eufórica de um adolescente quando confrontado com alguma coisa que deseja e admira muitíssimo.
Tenho de agradecer à tia do Rodrigo este momento mais do que a ninguém, pois foi a sua súbita doença (nada de gravoso, acrescente-se) que me "obrigou" a ser o braço-direito do Rodrigo no concerto.
Não fossem os gritos infernais do grupo de rock português que abriu o concerto (Misslava); não fosse o cheiro de ganza espalhado pela sala do Coliseu; não fossem os telemóveis empunhados a toda a hora para sacarem uma imagem inédita do concerto, não fossem as horas que passei de pé depois de um dia de trabalho, não fosse este o concerto a que eu nunca teria ido, a noite de ontem teria sido perfeita!

segunda-feira, junho 21, 2010

Eu e SARAMAGO

Muito se disse, e acredito que muito se dirá, sobre a vida, a morte e, sobretudo, sobre a obra de José Saramago. Contudo, sendo eu amante da literatura e das artes, não poderia deixar de escrever sobre o tema: ia almoçar quando me apercebi que tinha ocorrido qualquer situação grave, foi a TSF quem me trouxe a notícia. Já tinha pensado invariáveis vezes que Saramago morreria muito em breve.
Nada de novo até aqui. O que talvez seja novo é eu dizer que a obra que mais me emocionou deste escritor foi Conto da Ilha Desconhecida e a que mais me perturbou  Ensaio Sobre a Cegueira. Perturbou-me tanto que ainda não acabei de ler as páginas finais. O romamance repousa e aguarda pelo meu amadurecimento intelectual e emocional.
Não era especialmente devota da literatura do Saramago, mas não posso deixar de me sentir triste pelo apagamento da sua luz literária, humana. Sou absolutamente devota aos escritores que, como ele, foram capazes de pensar a dimensão do Homem; pois, ao fazê-lo, deram passos determinantes, mesmo que imperceptíveis, no conhecimento desta massa tão disforme, tão absoluta e tão real que conhecemos como HUMANIDADE.

quinta-feira, junho 17, 2010

Off

De vez em quando odeio a minha vida. Odeio a minha pele. Odeio o que digo, o que penso, a forma como digo o que digo e penso o que penso.
De vez em quando, olho para mim e detesto-me. Detesto a rotina dos dias, o trabalho instalado na rotina dos dias, o que se diz, o que fica por dizer.
De vez em quando apetecia-me virar para mim o comando da televisão e carregar eu mesma no OFF...

quarta-feira, junho 16, 2010

Gillettes

Ontem, pela primeira vez, vi-me num supermercado à procura de gillettes e espumas de barbear que não tinham como finalidade as minhas pernas; ontem, pela primeira vez, as gillettes e as espumas de barbear tiveram como objectivo os bigodes do meu filho.
Quanto tempo faltará até que o acompanhe à Farmácia para aconselhá-lo sobre... preservativos?

segunda-feira, junho 14, 2010

Pés de... lã?

Foi só quando olhei para o lado que percebi, o senhor que se encontrava, como eu, na casa de banho de um restaurante na praça Jemma El Fna, estava com um dos seus pés enfiado no lavatório e esfregava-o convictamente enquanto eu, no lavatório ao lado, lavava as mãos para ir almoçar...

terça-feira, junho 08, 2010

Conversas de esquina em Marrocos

- Italian? Spanish? English? French?
- Não. Portugueses.
- Ah, Portugal: obrigado, Cristiano Ronaldo, José Mourinho, Figo.
(E eu, de cada vez que participava neste diálogo repetido em cada esquina, perguntava-me: E a Amália?! Fernando Pessoa?! Camões?!)

segunda-feira, junho 07, 2010

Marrakech dos pequeninos

Em Marrakech as crianças têm olhos enormes, redondos, expressivos. Riem-se e as ondas do seu sorriso enlevam-nos num abraço maior do que todos os abraços de todos os mundos.
Na verdade, acho que o que mais me impressionou na cidade foram as crianças e a ternura a que nos obrigam, ao olhá-las, ao partilhar o espaço que habitam.
Não falávamos a mesma língua, ainda assim, entendíamo-nos.
A língua do amor é a mais antiga de todas e não precisa de qualquer tradução.
Se eu pudesse, coisa que não posso, tornar-me-ia na mãe daquelas crianças e inventar-lhes-ia histórias todas as noites sobre princesas e príncipes, sobre castelos e masmorras, sobre lutas e disputas para que o seu sono fosse mais povoado, mais cheio de tudo e, sobretudo, mais cheio de mim.

quarta-feira, junho 02, 2010

Maroco

Estou em Marrocos e tenho tanto para contar, mas nao me entendo com o teclado. Detesto escrever sem conseguir acentuar as palavras bem...