sexta-feira, março 18, 2011

O que escapa...

Para os que duvidam que a literatura é dispensável:

"Um homem que lê, ou que pensa, ou que calcula, pertence à espécie e não ao sexo; nos seus melhores momentos escapa mesmo ao humano. Mas as minhas amantes pareciam orgulharem-se de pensar somente como mulheres: o espírito ou a alma, que eu procurava, ainda não era mais do que um perfume."

Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano, Editora Ulisseia: 7.ª Edição (pág. 57)

quinta-feira, março 10, 2011

Porque sou deste tempo

Porque não sou politicamente activa.
Porque não acredito na política.
Porque não confio na classe que supostamente me representa na Assembleia.
Porque desconfio dos interesses que sustentam as decisões tomadas.
Porque recuso manifestações de rua.
Porque não me reconheço na chamada "geração rasca", "deolindas" e que tais.
Porque não me sinto motivada a participar numa "revolução" em que os arautos, em plena entrevista televisiva, dizem "as percas financeiras" em vez de "as perdas financeiras".

Reconheço que estamos numa época de transição, em que as mudanças, mais do que desejáveis, são imprescindíveis, mas assusta-me que as pessoas acreditem que a transição ou a mudança se faça pelo caos e pela desordem.
Por enquanto, acredito no sistema democrático e, consequentemente, nas escolhas decididas em tempo de eleições. As últimas legislativas deram a vitória ao PS, as últimas presidenciais, ao Cavaco Silva.
Goste-se ou não se goste, este é o panorama existente, pelo que a mudança, a ocorrer, terá de desenvolver-se neste quadro. Mais do que isto, é agir contra Portugal.

quarta-feira, março 09, 2011

O apego não quer ir embora/ Diaxo, ele tem que querer

Os acasos podem ser enriquecedores, apesar de ocorrerem com abundância nas nossas vidas. Aliás, cá para mim, a vida é mesmo uma sucessão de acasos.


Então, exactamente por acaso, esbarrei com a Maria Gadú este fim-de-semana e fiquei boquiaberta com a sensibilidade que é transmitida pela sua voz de apenas 24 anos. Voz jovem, é certo, mas um instrumento maduro e intenso quando se trata de veicular sentimentos e emoções.
Ouvi "Dona Cila" e, por acaso, pensei imediatamente no meu sobrinho e na dificuldade que sente em aceitar o seu tom de pele. Ele diz que é feito "de chocolate", mas deve ser de chocolate amargo, tal é a tristeza que manifesta em não ser feito "de leite" como TODOS os familiares que com ele convivem diariamente.
Os mulatos vivem numa realidade ambivalente, mais rica - com certeza - mas também mais confusa: não são negros e não são brancos. Acabam por estar num e noutro lado ou em parte alguma?
Embora reconheça que as sociedades deram passos significativos no sentido de integrar e aceitar a diferença, um negro continua a ser um negro, mas um mulato... o que será?