segunda-feira, outubro 24, 2011

Quem és tu?

Não estou a morrer, afinal.
Ou melhor, afinal, estou a morrer.
Isto na lógica determinista de que todos os que nascem, morrem.
Quntos são todos?
Todos, ora essa. E quando digo todos, são mesmo todos.
A minha doença é de Graves. Disse ela. E eu acredito no que ela disse. Respeitei-a, apesar do nome.
Quem se chama Leonce?
A não ser as figuras patéticas de televisão que num esforço desesperado para a diferença escolhem um nome de pronúncia difícil e de duvidoso bom gosto à filha, ninguém. Ainda que ninguém fosse também nome de alguém. Não de um alguém qualquer. Mas um de coroa e ceptro.
Não estou a morrer. Não há em mim uma quantidade maior de morte do que em outros que por mim passam.
Doença auto-imune, explicou-me. Como se eu não soubesse já. Como se não soubesse que sairia dali com mais medicamentos a tiracolo. Uns brancos, pequeninos, que me atacam assim que me tocam na língua: veneno. Blhac.
 Se pudesse, não os tomava. Quer dizer, eu poder posso sempre, mas isso seria atentar contra mim própria o que, na verdade, já acontece, visto que tenho a tal doença auto-imune. Ainda assim, uma coisa são os meus anticorpos andarem numa de rebelião massiva contra o meu sistema imunológico outra é eu decidir rebeliar-me contra o sistema médico e farmacêutico em prejuízo do meu próprio bem estar. Estupidez, diriam. Estupidez, assentiria.
Confirmações de diagnóstico - diz-me a Leonce - só com a análise aos anticorpos, que será efectuada lá para meados de Novembro.
Olho para ela, com olhos curvados, em jeito de súplica, as análises que fiz não chegam? Terei de fazer mais?
Desconfio que me cansarei rapidamente desta doença de Graves e dos comprimidos pequeninos que trago no bolso, nos dias em que a memória não me atraiçoa - como o de hoje, por exemplo.

Pior do que tudo isto, é viver num país tropical e, mesmo assim, ter de explicar aos alunos estrangeiros o que é a Primavera, o Verão, o Outono e o Inverno, quando num dia estão na Caparica a apanhar sol e no seguinte a calçar as galochas que lhes permitam atravessar a avenida que mais parece o TEJO, ainda que sem barcos.