segunda-feira, março 26, 2012

Balanço da greve geral de 22 de Março de 2012: dois fotojornalistas atingidos a murro e a pontapé e regular funcionamento das instituições (transportes incluídos)

Vivemos entre hipócritas. No meio deles. Debaixo deles. Por cima deles. Ao lado deles.
Somos eles.
Alarido. Greve Geral. Transportes. Paralisia. Xis por cento de adesão. Confrontos. Movimento 15 de Outubro.
A greve geral foi um fiasco. Ninguém com coragem política para o dizer. Só eu. Quem nem política e muito menos corajosa. Apenas atenta.
A maior parte das pessoas não pode prescindir de um dia de ordenado para ir para as ruas brincar às bandeirinhas, aos murros e aos pontapés.
O alarido que se montou à volta da Brasileira, como em esplanadas das redondezas, dá vontade de rir. Ou pior, embaraça o mais fraquinho dos gregos.
Haverá motivo para tanta discussão à volta da atitude da polícia?
Não tem a polícia obrigação de zelar pela ordem pública?
Queremos deixar os arruaceiros destruir o que ainda nos resta do que entendemos por liberdade?
As condições de vida dos portugueses não vão sofrer qualquer alteração por via da banditagem, algazarra e confusão.
Cabe-nos a  todos nós, que, em conjunto, somos "os portugueses", agarrar no pedaço de Portugal que nos cabe e fazer com ele o melhor que podemos e sabemos. Isso implica deixar as  montras partidas ou a força bruta para outros.

quarta-feira, março 21, 2012

Por que morrem as crianças?

Os judeus acreditam que Messias está ainda por vir. Que este chegará numa altura de paz absoluta no Mundo.
Eu, se querem saber, duvido.
Duvido, em primeira instância, da existência de um Messias.
Em segundo lugar, da sua chegada numa altura de paz absoluta.
Se assim fosse, qual a utilidade da sua vinda?
Comprovar a sua existência?
Só aos cépticos (e cegos) - como eu - é necessário provar ou comprovar qualquer coisa que se prenda com a religião, com a crença.
Ou se acredita.
Ou não.
A terminar, é imprescindível que duvide do conceito "paz absoluta".
Se já nem PAZ se sabe o que significa... quanto mais absoluta.

(...)

Tenho sono.
Sinto um torpor a crescer-me de dentro.
Se não parecesse muito mal, dormiria em cima da minha secretária. Os braços enrolados e por cima destes a cabeça pendente, semi-adormecida.
Os olhos, lânguidos, a cerrarem-se contra a minha vontade, a verem coisas imaginadas de mentir.
A respiração lenta, num sopro sonhado.
A consciência a entregar-se ao vazio de não existir.
O descanso, enfim, a tomar conta de mim, como uma mãe do filho.

(...)

Não tenho a força dos judeus. Nem a crença dos cristãos. Não tenho as convicções dos muçulmanos. Nem as certezas dos protestantes.
Mas sei que não há nada que justifique a morte de uma criança.

segunda-feira, março 19, 2012

Singularidades de uma rapariga falsamente loira

Todos os que me conhecem sabem da minha aversão a dias marcados no calendário para celebrar o amor.
Não reconheço legitimidade nesse acto. Os pais, as crianças, as árvores, os imigrantes, as mães, os refugiados, as mulheres preexistem e pós-existirão depois da data assinalada.
Dir-me-ão, ainda assim, que essas datas cumprem a sua função: a de lembrar.
E quem disse que eu esqueço?
Quem?
Não é por ser dia do pai que vou gostar mais do meu pai.
Ou que por ser dia da árvore vou gostar mais de árvores.
Ou por ser dia do refugiado vou querer ajudar mais os refugiados.
As efemérides teriam mais e maior interesse se não viessem acopladas a frenesins de compra e venda.
A venda de flores dispara no dia da mãe. No dia do pai será a venda de aparelhos electrónicos. No dia dos namorados, a venda de bombons e ursinhos de pelúcia.

Só não dispara o mais importante, porque não é vendido em sítio algum: o amor das coisas simples.
Ainda por cima, só as coisas simples podem ser verdadeiramente BELAS.

7 semanas e meia

Estou grávida. 15 anos depois, voltou a acontecer-me.
Nada do que era, é-o novamente.
Há 15 anos, a gravidez era poesia, era felicidade, era paz.
Depois de tudo o que sei, o que vivi, o que me contaram, a gravidez é um "caminho que se faz caminhando".
Ainda é cedo para sonhar, mas o sonho dá-se de cada vez que olho para o meu corpo em mudança.
Ainda é cedo para dar a gravidez como garantida, mas eu abraço a expectativa de voltar a ser mãe.
Um dia depois do outro - digo; dizem-me -, mas eu olho para o calendário e assinalo a data do provável parto.
Tenho de aguardar pela passagem do tempo. Faltam 4 semanas para respirar de alívio.
Se aguentarei as 4 semanas sem sonhos, sem expectativas?
Não creio.
Não se pode dizer a um toxicodependente que não pode usar drogas.
Ou a um diabético que não pode abusar do açúcar.

sexta-feira, março 09, 2012

Não passo cavaco ao Cavaco

Ninguém no seu perfeito juízo, em Portugal, entenderá a campanha que o presidente da República quer levar a cabo contra o anterior governo PS e, especialmente, contra José Sócrates.
Faz-me recordar a igreja católica que, na luta desenfreada pela impunidade, criou Santanás.
José Sócrates e o governo PS cometeram muitos erros, talvez erros a mais, todavia, se haverá alguma coisa a ter em consideração na época de governação minoritária PS, será a identidade do então presidente da República... Cavaco Silva.
Não há forma de ignorar que Cavaco fede a erro, a incompetência, a inépcia. Ocupando um cargo determinante como o de "chefe" da nação, sendo, ainda por cima, economista, pouco contribuiu para melhorar o estado de coisas. 
Surpreende-me que tenha tempo, sequer, para escrever memórias. Para escrever a justiça que só o tempo cristalizará. Oito meses nada valem numa nação com mais de 800 anos. Uma nação que existia e existirá depois de Cavaco.  
A História não será favorável a um presidente como este, o primeiro a ser formalmente sujeito a uma petição popular assinada por cerca de 40 mil portugueses que reclamaram a sua demissão.
Não assinei a petição.
Nem precisava.
Há mortes que não se anunciam.
Acontecem. 

quinta-feira, março 08, 2012

Escroto televisivo

Haverá alguém que me explique quem são aquelas pessoas furiosas, indignadas, azedas (sente-se o cheiro apesar da distância que a televisão salvaguarda) com ódio dentro e fora, que aparecem nos noticiários, à porta dos tribunais, com vontade de fazer justiça com as próprias mãos?
Haverá alguém que me explique a razão por que a maior parte dessas pessoas não se penteou ou  não possui dentição completa?
Haverá alguém que me explique se estas pessoas são os novos Robins dos Bosques ou serão apenas desocupados, em busca dos seus 5 minutos de fama?

quarta-feira, março 07, 2012

*Insurpreendidos

E quando queremos surpreender alguém e não conseguimos?
Isso é ser completamente inútil?
Ingénuo?
Incapaz?

 - Pai, estás em casa?
- Não, filha, vim ver o Benfica, estou com uns amigos.
- Onde?
- No Retiro.
- Ah...
- Mas não me vês hoje, vês amanhã.
- Mas quero contar-te uma coisa.
- Contas amanhã.
(Pai, não percebes que tenho uma bola aqui dentro, pronta a explodir, e não posso esperar que o jogo acabe, quanto mais aguentar que chegue amanhã!).
- ...

Primo a campaínha.
(silêncio)
Demoram a abrir-me a porta da rua.
Vejo luz na janela da casa de banho.
Dão-me permissão para entrar. Entro.
Primo, mais uma vez, a campaínha. Desta vez, já estou na porta de entrada.
Oiço, do outro lado, voz e braços agitados, a comprimir contra a porta todas as forças e poderes do mundo natural e sobrenatural:
- Santiago?
- Sim.
- É a tia. Consegues abrir a porta?
- Sim.
- E vais demorar muito a abri-la?
- Não.
Consigo perceber, rapidamente, que a porta está fechada à chave e que ele não conseguirá abri-la sozinho.
- A avó?
- Está a tomar banho.
(Mãe, tenho uma bola aqui dentro, pronta a explodir, e não posso esperar que o teu banho acabe, quanto mais esperar pelo dia de amanhã).
- ...

Não fui capaz de surpreender seja quem for. O que não me surpreende.


*Insurpreendido: Palavra inexistente, mas possível, da Língua Portuguesa.
adj. Que não foi surpreendido.

terça-feira, março 06, 2012

O meu cérebro. As suas asas.

Estou com dificuldade em concentrar-me.
Qualquer pretexto serve para me afastar do trabalho. Passei a última meia hora a olhar para as copas das árvores a abanar com o vento. Contei as árvores. Tentei contar os ramos, mas não passou disso mesmo: uma tentativa.
No telhado, há aquilo que deduzo ser pedaços de pão. Alguém, como eu, alivia o seu mal-estar a distribuir pão aos pássaros. Só vejo os pedaços de pão. Pássaros não.
Vejo os carros. Distingo-lhes a cor. Vou contá-los. As motos também contam como carros? Não me parece.
(sono)
Queria regressar. Não consigo. O meu cérebro paira algures longe de mim. Fora de mim. Tem asas.
(...)
Chegou um pássaro. Pequenino. Está  a dar bicadas ao pão. As suas penas voam como árvores.
As minhas penas crescem. Têm troncos e raízes. Só não têm verde.
Vou sair. Procurar as asas e cortá-las: RIP.

segunda-feira, março 05, 2012

Vacas com letras

O amor ao ensino é, para mim, sagrado. Como na Índia é a vaca.
A maior prova desta sacralização dá-se esta quarta-feira, com o início de uma nova edição dos cursos de Português Língua Estrangeira, da qual serei, mais uma vez, professora. Isto sem me terem pago a anterior edição, que decorreu em Novembro de 2011.
Não demorei a aceitar o convite, aliás, o "sim" aconteceu mesmo antes de se dar o "Queres?".
Tenho o privilégio de ser professora por opção e não por necessidade de sobrevivência. Aquilo que considero o verdadeiro luxo. Mesmo que luxo e sagrado não sejam cristamente compatíveis...

quinta-feira, março 01, 2012

As pessoas de quem se esquece

Um dos meus maiores e mais sentidos medos era, em tempos, esquecer-me de ir buscar o meu filho ao infantário. Acordava a meio da noite, em pânico controlado e controlável, a refazer mentalmente o dia anterior e a certificar-me de que ele dormia, tranquilamente, no quarto ao lado.
Ontem acabei por perceber a razão deste meu medo. Não era a insegurança da maternidade. Não era a insegurança dos meus verdes anos. Era o conhecimento objectivo de que sou uma esquecedora e uma abandonadora profissional.
Desde o início deste ano, eu e um colega que mora na minha zona tomámos a decisão consciente de fazer algumas viagens por semana juntos. Ganha o ambiente, ganha a carteira e ganhamos os dois que, em vez de virmos a pensar na própria vida, conversamos um com o outro sobre o que nos apetecer. Se não nos apetecer, também não conversamos.
Ontem abandonei o meu colega nas instalações da empresa onde trabalhamos. Vim-me embora sem qualquer peso na consciência. Larguei-o sem olhar para trás e cheguei a casa cheia de mim.
Só hoje de manhã, quando lhe retornei uma chamada telefónica - tentou falar comigo ao final do dia, sem sucesso - é que percebi que me tinha esquecido de lhe dar boleia de volta para casa...