quinta-feira, maio 24, 2012

No bairro do amor há mentiras que não são minhas nem tuas mas de quem as apanhar

Há momentos de esquizofrenia incontrolável, em que o teclado não chega para a quantidade de palavras que tenho para dizer. Outros há em que o teclado me sobra nos dedos e as palavras se silenciam.
Reparei que fez hoje exactamente 30 dias desde a última vez que escrevi aqui, no meu lugar de intimidade e segredo.

Muitas coisas se passaram, entretanto. Não só em mim, comigo, mas também com os outros, comigo ou sem mim.
Morreram pessoas.
Morreram-me pessoas.
Houve viagens que se fizeram e outras que ficaram adiadas.
Segredos que me foram revelados e segredos que revelei.
Houve mentiras ditas como se fossem verdade. São estas as mentiras mais mentireiras, aquelas que as pessoas desejam incontrolavelmente que sejam a verdade.

Nunca me apercebi da curiosidade que suscito; vejo-me como uma pessoa vulgar, sem qualquer interesse relevante, e espanto-me de cada vez dou conta de que o meu nome é invocado por pessoas que nem sei bem quem são.
Sabem o nome dos homens com quem me deito, determinam os pais dos meus filhos - que variam consoante os gostos e a imaginação de cada um -, referem as actividades dos meus tempos livres, adivinham os meus medos e os meus desejos.
Não sei se ache graça. Se me ria. Se me espante.
Não sei se hei-de mandar as pessoas à merda.
Ou, talvez, dizer-lhes: "Vão-se foder e metam o nariz na miséria que é a vossa vida própria."
Não sei...
Talvez me ria. Talvez me ria às gargalhadas e pense: "Vão-se foder."
Sozinhas porque desconfio que não terão quem as queira acompanhar.