tag:blogger.com,1999:blog-70775714413742946992024-03-13T15:59:05.420+00:00Se EU Quisesse"Se eu quisesse enlouquecia" é a primeira frase de um conto de Herberto Helder, do livro "Passos em Volta". Para mim, este "se eu quisesse" abre o mundo a infinitas possibilidades; deixa que a imaginação flua e que a vida se manifeste no entrelinhamento do mero desejo e do realmente acontecido. Entre uma margem e outra, escrevo.Sóniahttp://www.blogger.com/profile/17561234896898472416noreply@blogger.comBlogger425125tag:blogger.com,1999:blog-7077571441374294699.post-19922710636749317632017-10-05T19:46:00.001+01:002017-10-05T19:46:23.923+01:00O Maravilhoso Jardim de Bella BrownA vida lá fora. <br />
Os sons das coisas a acontecerem.<br />
O tempo a tiquetaquear.<br />
<br /><br />
É, no fundo, a confirmação de que não há antes nem depois. <br />
Hei de apressar-me se quero chegar a tempo. Ou se quero chegar a lugar algum.<br />
Só que a pressa não pertence a este tempo aqui. <br />
Parece que a pressa é avessa ao tempo que me atravessa.<br />
Hei de ser paciente.<br />
Escutar (e não apenas ouvir) os lugares que são os tempos de outros tempos mais o tempo que agora se faz.<br />
Hei de ser eu.<br />
Não sei ser de outro jeito. Não tenho jeito para ser qualquer outro.<br />
<br /><br />
O meu maior infortúnio?<br />
<br /><br />
A vida cá dentro.<br />
Os sons que não oiço mas imagino. <br />
O tempo a tiquetaquear.Sóniahttp://www.blogger.com/profile/17561234896898472416noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7077571441374294699.post-16939454841120765092016-10-18T07:17:00.001+01:002016-10-18T07:17:29.897+01:00Acerca do Bob Dylan<div style="text-align: justify;">
Tem sido muito o ruído à volta do Nobel da Literatura deste ano.</div>
<div style="text-align: justify;">
Consagra-se um "monstro" das canções e não um(a) das letras.</div>
<div style="text-align: justify;">
Eu diria, e depois de passados o espanto e espasmos iniciais, que a literatura tem espaço suficiente para nela caber mais do que os escritos/livros/autores convencionais.</div>
<div style="text-align: justify;">
A literatura tem pendor disruptivo, que é o que permite a cada ser, sociedade, país, cultura avançar na direção do outro, bem como na direção do futuro - o único tempo possível.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Se o Bob Dylan é americano, se é símbolo de uma cultura <i>pop, </i>se não escreveu nenhuma obra de referência, enfim, pretextos para não se aceitar aquilo que é inevitável: o mundo não é o mesmo que conhecemos e que ainda vamos tratando por tu.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E só a literatura para reconhecer e abraçar tal diferença. Trazendo a margem para o centro, empurrando o centro para a margem.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Lídia Jorge, aguenta. </div>
Sóniahttp://www.blogger.com/profile/17561234896898472416noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7077571441374294699.post-27463298682739387412016-10-18T06:56:00.001+01:002016-10-18T06:56:17.979+01:00LiteraturaO que fica do que passa...Sóniahttp://www.blogger.com/profile/17561234896898472416noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7077571441374294699.post-31232856657369485272016-10-16T23:59:00.001+01:002016-10-16T23:59:25.800+01:00A morte não é para todos<div style="text-align: justify;">
Eu quarenta, ele quatro.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- <i>Mãe, vais morrer amanhã?</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
(murro no estômago, no âmago do meu eu)</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- <i>Não sei</i> - disse - <i>eu acho que não, mas todas as pessoas morrem um dia.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
- <i>Mas eu não quero que TU morras.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
- <i>Eu não sou diferente dos outros.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
- <i>Não és?</i></div>
<div style="text-align: justify;">
- <i>Não.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
-<i>Agora estou triste.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
(novo murro no estômago, bem no âmago do que eventualmente é meu)</div>
<br />Sóniahttp://www.blogger.com/profile/17561234896898472416noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7077571441374294699.post-37936527978969143832016-10-04T05:06:00.001+01:002016-10-04T05:21:22.787+01:00A Partida<div style="text-align: justify;">
Fica, porque, senão, vais levar-me nessa mala que fizeste sem a minha ajuda.</div>
<div style="text-align: justify;">
Fica, porque ires implica o adeus e eu não estou preparada para olhar-te ao longe, de longe.</div>
<div style="text-align: justify;">
Fica, só mais um dia, só mais uma vida, que te custa esperares uma vida? </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Que te custa?</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Já a mim, custa-me o tamanho da tua ausência que será maior que tu.</div>
<div style="text-align: justify;">
Custa-me o vazio desta casa sem o teu corpo dentro.</div>
<div style="text-align: justify;">
Custam-me todas as palavras engasgadas nesta garganta que nunca terei coragem de pronunciar.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div>
Vai.</div>
<div>
Não olhes para trás, é lugar de passados. De fantasmas também.</div>
<div>
De coisas acontecidas e com cheiro a mofo.</div>
<div>
<br /></div>
<div>
Vai.</div>
<div>
Não hesites um segundo. Poderá ser tarde e o futuro não espera por ti.</div>
<div>
Sem pressa, um passo. Depois outro.</div>
<div>
<br /></div>
<div>
Vai porque, não sei como, o meu colo encolheu. Já não serve.</div>
<div>
Não te serve.</div>
<div>
<br /></div>
<div>
Ainda assim, mesmo assim, ficarei por aqui com esperança de um regresso. </div>
<div>
Como se o meu colo (imagina!) pudesse ser um lugar maior e ter o tamanho exato do teu tamanho.</div>
<div>
Imagina...</div>
<div>
<br /></div>
<div>
<i>Que custa?</i> </div>
<div>
<br /></div>
Sóniahttp://www.blogger.com/profile/17561234896898472416noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7077571441374294699.post-18142596110978936042016-02-11T10:41:00.000+00:002016-02-11T10:41:51.744+00:00eu não sei quem te perdeu<div style="text-align: justify;">
Os corredores frios. Os procedimentos, exatamente como estabelecido, para impedir a ansiedade de entrar. Ainda que ela já tenha entrado antes. E vá permanecer durante. Depois também, mas só um bocadinho.</div>
<div style="text-align: justify;">
Um bocadinho é aceitável, não é?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Os cheiros do cheiro dos outros. Aos quais não me habituo. Nem quero.</div>
<div style="text-align: justify;">
As portas com pessoas para fora e para dentro. Apetece-me espreitar. Saber de qualquer coisa. Uma coisinha servia.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Escondo-me aqui atrás a fingir que não me importo, só para que os minutos que as horas têm dentro fiquem suportáveis.</div>
<div style="text-align: justify;">
Pior do que a espera é a espera nestes corredores. Antes esperar-te como de costume. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Deixei-te a sorrir.</div>
<div style="text-align: justify;">
Gosto da forma como sorris. A abraçar o mundo numa luz só tua. O mundo, acho, não chega para ti. Está-te curto. Encolhido. Engelhado.</div>
<div style="text-align: justify;">
Hás-de reinventá-lo. Determinar um tamanho em que caibas com todas as tuas dúvidas.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
As camas deste lugar também não te servem. São curtas. Encolhidas. Engelhadas.</div>
<div style="text-align: justify;">
Ainda vamos rir juntos dos pés que te ficarão de fora, sem qualquer conforto de colchão ou estrado.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Espero-te, ansiosa.</div>
<div style="text-align: justify;">
Espera e ansiedade, que raio de par: feitos um para o outro. Um par dançante. Tango.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Não sei quem te perdeu, porque desde que nasceste só te encontro, mesmo de todas as vezes que te perdi. E hei-de perder. E outra vez encontrar nem que seja um instante. Aquele em que eu possa, consiga talvez, ter-te pequenino nos meus braços.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E o teu nome que não é pronunciado. Perdeste-te?</div>
Sóniahttp://www.blogger.com/profile/17561234896898472416noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7077571441374294699.post-80459645582745005772015-10-01T07:19:00.000+01:002015-10-01T07:19:44.715+01:00Só Caetano<div style="text-align: justify;">
Doce, como há poucos.</div>
<div style="text-align: justify;">
Meigo, como haverá ainda menos.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Nasceste para consolar-nos. </div>
<div style="text-align: justify;">
Ainda me lembro do choque ao saber-me grávida tão pouco tempo depois de estar grávida: <i>"está aqui uma coisinha"</i>, disse a Madalena. Uma coisinha.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Estava enganada. Não eras uma coisinha. </div>
<div style="text-align: justify;">
De todos, foste o que nasceste com mais força. Não precisei procurar-te. Ouvia-te. O teu choro era percetível a quilómetros, como se dissesses: estou aqui.</div>
<div style="text-align: justify;">
Eu sei, bebé. </div>
<div style="text-align: justify;">
Eu vejo-te. </div>
<div style="text-align: justify;">
Sinto-te. </div>
<div style="text-align: justify;">
Amo-te.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Não me lembro de ensinar-te nada. Quando quero ensinar-te, já tu aprendeste.</div>
<div style="text-align: justify;">
Bebes água pelo copo.</div>
<div style="text-align: justify;">
Sobes para as cadeiras, mesas, camas.</div>
<div style="text-align: justify;">
Desces das cadeiras, mesas, camas.</div>
<div style="text-align: justify;">
Cantas as canções sem dizer as palavras.</div>
<div style="text-align: justify;">
Danças as canções mesmo que sem palavras.</div>
<div style="text-align: justify;">
Escolhes os livros. As histórias que queres que te contem.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A tua língua tem dicionários próprios: Bu - Có - Zó - Pei.</div>
<div style="text-align: justify;">
Sabes sempre o que queres, mesmo não querendo. </div>
<div style="text-align: justify;">
Não desistes, insistes.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Abraças como poucos.</div>
<div style="text-align: justify;">
Afagas como nenhuns.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
És o meu Caetano. Sem Veloso, mas com a mesma capacidade de me enlevar.</div>
<div style="text-align: justify;">
Tens um jeito próprio.</div>
<div style="text-align: justify;">
Enamorei-me de ti,contigo para sempre.</div>
<div style="text-align: justify;">
Mesmo sabendo que, de todos, és o que não me escolhe em primeiro lugar. </div>
<div style="text-align: justify;">
Preferes o Lucas. E eu aceito a tua preferência, resignando-me com amor. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-8IkqYc-f31o/VgzPiU_cGsI/AAAAAAAAAXU/XtgbfJL400E/s1600/P9228115.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="http://4.bp.blogspot.com/-8IkqYc-f31o/VgzPiU_cGsI/AAAAAAAAAXU/XtgbfJL400E/s320/P9228115.JPG" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
Sóniahttp://www.blogger.com/profile/17561234896898472416noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7077571441374294699.post-79017721276518735382015-10-01T06:35:00.000+01:002015-10-01T06:35:01.430+01:00Afinal, o casamento ainda é deste tempo<div style="text-align: justify;">
Vais casar.</div>
<div style="text-align: justify;">
Casar. Casarcasarcasarcasarcasarcasarcasarcasarcasarcasarcasarcasarcasarcasarcasarcasarcasarcasarcasarcasarcasarcasarcasarcasarcasarcasarcasarcasarcasarcasarcasarcasarcasarcasarcasarcasarcasarcasarcasar.</div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>"Ai vida"</i>, diz a Branco e eu acompanho-a - ai, vida...</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Era ainda ontem e estavas ao meu colo, a sobrar-me dos braços. Deves ter sido o primeiro. Estreaste-o. E eu gostava tanto que me lembro de esconder-me de todos só para pegar-te. Tudo servia como desculpa. </div>
<div style="text-align: justify;">
<i>"Tia, ele estava a chorar."</i> Mesmo que não estivesses.</div>
<div style="text-align: justify;">
Treinavas-me, sei-o agora, para ter estes braços de mãe, capazes de aninhar todas as dores do mundo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Era ainda ontem quando me emocionava com a tua redação escolar a confessar a vida inteira dedicada ao futebol, a confessar a mágoa de não poder jogar, pois a doença então descoberta roubava-te esse sonho, antes mesmo de saberes sonhar.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Era ainda ontem, foi ontem, sei-o, que abandonaste todos os jogos em que perdias. Vencer era o teu ADN, a derrota era assunto dos fracos e, esses, não te interessavam. </div>
<div style="text-align: justify;">
Eu ria-me. A Tânia ria-se. a Rita ria-se. Tu irritavas-te.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Era ainda ontem que me consolavas pela perda. A perda de um amor já ido. A perda irremediável dos que partem e não voltam. </div>
<div style="text-align: justify;">
<i>"Prima"</i> é assim que começam todas as tuas frases...</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>"Prima"</i>, eu oiço-te. Eu oiço-te. Até no dia em que corri que nem louca a salvar o Rodrigo dos olhares dos vizinhos, do gelado ensanguentado, da moto deitada no chão e do teu olhar perdido que dizia desculpa, mil vezes desculpa.</div>
<div style="text-align: justify;">
Não te culpei, um segundo que fosse, logo, não havia lugar para a desculpa.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
És íntegro, incorruptível nas tuas decisões e nos teus gostos. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
És deste tempo, sendo de outro. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
És tu, contigo e com o que escolhes ser de ti.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Não tenho dúvida de que sábado será um dia de muitas emoções. </div>
<div style="text-align: justify;">
Não me embaraçará as lágrimas porque marcarão a felicidade de te saber feliz. </div>
<div style="text-align: justify;">
Sê feliz.</div>
<div style="text-align: justify;">
Quero muito ver-te feliz.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
Sóniahttp://www.blogger.com/profile/17561234896898472416noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7077571441374294699.post-17211967610187526542015-05-08T01:40:00.000+01:002015-05-08T01:40:22.694+01:002013-2015Escrevi que nem louca nestes últimos anos.<br />
E não há um único rasto das palavras que juntei em frases e das frases que verti em texto.<br />
Tudo escrito em escrita que não se vê, não se sente, logo, não existe?<br />
<br />
Eu existo. Como sei?<br />
Sei-o porque tu me ajudaste a descobrir.<br />
Sim, tu.<br />
TU<br />
Só tu, mesmo tu.<br />
<br />
E tudo pode ficar como antes, mas nada ficará como antes.<br />
Depois de ti, o amanhã, com a escrita a tocar-me nos dedos e os<br />
sentimentos virados do avesso.<br />
Sem tempo mas com tempo para descobrir. Descobrir-me. Descobrir-nos.<br />
Há tempo.<br />
Haja tempo.<br />
<br />Sóniahttp://www.blogger.com/profile/17561234896898472416noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7077571441374294699.post-83116130340781531362015-05-08T01:07:00.000+01:002015-05-08T01:07:05.190+01:00Zé, o meu<div style="text-align: justify;">
Era uma vez o Zé, senhor de nenhumas fortunas e pouco dinheiro. A compensar-lhe o desgaste da carteira vazia, tinha o génio dos artistas.</div>
<div style="text-align: justify;">
Fugiu à mesa pouco farta, ao calor desenfreado e à lonjura de nenhures do alentejo e estabeleceu-se em Lisboa. Com ele vieram os quatro filhos e a mulher. Mas o Zé, de marido pouco soube, de pai pouco fez. </div>
<div style="text-align: justify;">
Os quatro filhos depressa se multiplicaram em netos e em bisnetos. Da mesa pouco farta, Zé passou a uma família farta. E fartava-se dela com frequência, embora nunca ninguém lhe tenha conhecido um esgar de impaciência ou de intolerância.</div>
<div style="text-align: justify;">
As mulheres, segundo a Maria, a esposa, também se multiplicavam e nem as primas escapariam a tamanha voracidade sentimental.</div>
<div style="text-align: justify;">
O Zé viajou - Espanha, Suíça, Holanda.</div>
<div style="text-align: justify;">
O Zé fez amigos até mais não: 1, 2, alguns, vários, muitos, tantos.</div>
<div style="text-align: justify;">
O Zé reinventou-se e nunca sucumbiu ao infortúnio, nem mesmo quando se viu obrigado a enterrar a Maria no cemitério de São Domingos de Rana. </div>
<div style="text-align: justify;">
Disse aos filhos que haveriam de morrer primeiro do que ele. Assim não foi, mas ao dizer isso ele não queria dizer isso, queria apenas sublinhar que se sentia eterno como se tivesse bebido água da fonte da juventude.</div>
<div style="text-align: justify;">
E foi jovem até não ser mais.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>(ainda tenho os teus olhos nos meus. ainda guardo o calor das tuas mãos nas minhas. menos um para amar. menos um para amar-me. sentir-te-ei pelos restos dos dias que ainda me sobram. chorar-te-ei como agora, no silêncio de quem não precisa mais nada para lembrar-te. somos iguais. quero honrar essa igualdade. tu avô eu neta. mas sem o meu avô como poderei manter-me neta?)</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
Sóniahttp://www.blogger.com/profile/17561234896898472416noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7077571441374294699.post-33999374523816702102013-09-19T14:15:00.001+01:002013-09-19T14:20:21.179+01:00Porque me fizeste mãe, filho<div style="text-align: justify;">
-<i> Mãe.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
A palavra fica, até hoje, ancorada no meu dentro. A desdobrar-me a vida em plenitude e satisfação.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>-Mãe, já viste que este ano eu só quero de presente coisas de que preciso mesmo?</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Sim, já vi. Já vi que te estás a tornar homem muito rápido. Pelo menos, para mim, é rápido demais, mesmo que ficasses criança a vida toda nunca seria tempo suficiente.</div>
<div style="text-align: justify;">
O amor de mãe é sôfrego, desesperado, ambicioso e egoísta. O amor de mãe é tão egoísta.</div>
<div style="text-align: justify;">
Se eu pudesse, porque querer eu queria, serias só de mim.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Dezassete. De-zas-se-te. Dez mais sete. Dez com sete.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E daqui a nada, o voo, por fim. Como fim de uma vida que conhecemos tão bem os dois. Nós os dois, juntos.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Filho, já viste que não me cabes no colo?</div>
<div style="text-align: justify;">
- Filho, já viste que a tua barba me pica quando me beijas?</div>
<div style="text-align: justify;">
- Filho, já reparaste que viras a cara para não me ver despida?</div>
<div style="text-align: justify;">
- Filho, já reparaste que fechas todas as portas atrás de ti?</div>
<div style="text-align: justify;">
- Filho, já reparaste que preferes conversar com os teus amigos do que comigo?</div>
<div style="text-align: justify;">
-Filho, já viste que eu estou menos mãe e tu menos filho?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Amo-te de um amor tão profundo que, estupidamente, choro só por escrever que te amo de um amor tão profundo.</div>
<div style="text-align: justify;">
Tenho tantas mas tantas saudades de nós. De nós antigamente. E tenho ainda mais saudades de nós no futuro.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
És único.</div>
<div style="text-align: justify;">
És vivo.</div>
<div style="text-align: justify;">
És pleno.</div>
<div style="text-align: justify;">
És vida.</div>
<div style="text-align: justify;">
És graça.</div>
<div style="text-align: justify;">
És eu.</div>
<div style="text-align: justify;">
És nós.</div>
<div style="text-align: justify;">
És meu, mesmo sendo do mundo.</div>
<div style="text-align: justify;">
És meu, mesmo quando não existir eu.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />Sóniahttp://www.blogger.com/profile/17561234896898472416noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7077571441374294699.post-54987487732741262632013-09-16T14:05:00.000+01:002013-09-16T14:16:10.889+01:00P de (P)essoamúsica de fundo como que a embalar-me os pensamentos<br />
se eu tivesse pensamentos<br />
a vida impede-os<br />
atrasa-os<br />
adia-os<br />
evita-os<br />
<br />
E eu deixo-me ir, como no resto<br />
porque não há nada que sobre depois disto que nos resta<br />
não é dinheiro o que nos resta<br />
não é emprego<br />
não é economia<br />
não é dignidade<br />
nem é nada<br />
<br />
mas o nada de nada, o nada vazio que está no lado oposto do nada de Pessoa<br />
<br />
Às vezes nem pessoa nos resta<br />
Ser pessoa obrigaria os pensamentos a acontecer<br />
não haveria nada que os pudesse impedir, atrasar, adiar ou evitar<br />
<br />
Ser pessoa é não poder ir, como no resto<br />
Ser pessoa é estar com o Pessoa em quase tudo o que escreveu<br />
é ser tudo mesmo sendo nada<br />
<br />
É comover-nos<br />
É compadecer-nos<br />
É partilharmos<br />
É descalçar os nossos sapatos e calçar os dos outros<br />
<br />
Como descalço os meus sapatos e calço os dos outros?<br />
<br />
Não sei, se soubesse os pensamentos sobravam-me e<br />
hoje<br />
neste instante<br />
no momento em que digo "no momento"<br />
tenho fome de silêncio<br />
<br />Sóniahttp://www.blogger.com/profile/17561234896898472416noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7077571441374294699.post-58397584031936799222013-05-10T15:16:00.000+01:002013-05-10T15:17:25.856+01:00Estranha forma de vida<div style="text-align: justify;">
Quando caminho pelo longo corredor que vai do meu gabinete ao do meu director, vou convencida de que os assuntos que levo entre os dedos são importantes, muito importantes, tão importantes.Como consequência, a imagem que tenho de mim, nesses pequenos momentos, é de que sou importante, muito importante, tão importante. Eu e o trabalho que é realizado por mim.</div>
<div style="text-align: justify;">
Dou passos e, com eles, sinto-me crescer. Como a Alice, mas sem a bolacha mágica. </div>
<div style="text-align: justify;">
Penso: este assunto é importante, eu sou importante e desenvolvo um trabalho importante.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
mentira. </div>
<div style="text-align: justify;">
Uma mentira que conto a mim própria para me sentir grande no trabalho que desenvolvo todos os dias. Não faço nada que verdadeiramente mude o mundo - como sempre pensei que faria - ou sequer o microcosmos.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ao caminhar pelo longo corredor que vai do meu gabinete ao do meu director, vou convicta de que os assuntos que levo entre os dedos não são importantes, muito importantes, tão importantes. Como consequência, a imagem que tenho de mim, nesses momentos, é de que sou insignificante, muito insignificante, tão insignificante. Eu e o trabalho que é realizado por mim.</div>
<div style="text-align: justify;">
Dou passos e, com eles, sinto-me diminuir. Como a Alice, mas sem bolacha e sem mágica.</div>
<div style="text-align: justify;">
Penso: nenhum assunto é mais importante do que o mundo, que está em mudança. E eu faço parte do mundo, de um dos seus múltiplos e inacabáveis microcosmos. Eu estou em mudança. O mundo muda comigo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
mentira.</div>
<div style="text-align: justify;">
A nossa vida é toda ela uma encenação da qual vamos sendo melhores ou piores actores. E da minha encenação faz parte julgar-me importante pelo que faço, da forma como o faço. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Portanto...</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
Quando caminho pelo longo corredor que vai do meu gabinete ao do meu director, vou convencida de que os assuntos que levo entre os dedos são importantes, muito importantes, tão importantes.Como consequência, a imagem que tenho de mim, nesses pequenos momentos, é de que sou importante, muito importante, tão importante. Eu e o trabalho que é realizado por mim.</div>
<div style="text-align: justify;">
Dou passos e, com eles, sinto-me crescer. Como a Alice, mas sem a bolacha mágica.</div>
<div style="text-align: justify;">
Penso: este assunto é importante, eu sou importante e desenvolvo um trabalho importante.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-TI5BTYZ6PFA/UY0BNT9rAbI/AAAAAAAAAVM/EcAp-L6XJUs/s1600/Alice-no-Pa%C3%ADs-das-Maravilhas-scan.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="205" src="http://3.bp.blogspot.com/-TI5BTYZ6PFA/UY0BNT9rAbI/AAAAAAAAAVM/EcAp-L6XJUs/s400/Alice-no-Pa%C3%ADs-das-Maravilhas-scan.jpg" width="400" /></a></div>
<br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
Sóniahttp://www.blogger.com/profile/17561234896898472416noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7077571441374294699.post-75647643599280535902013-04-04T15:30:00.004+01:002013-04-12T14:06:57.914+01:00Retrato<div style="text-align: justify;">
Não és simpático. Tens um sorriso selectivo. Sais ao teu pai, diz a avó Natália. </div>
<div style="text-align: justify;">
Ainda outro dia, a avó Xana esgotou as brincadeiras e não conseguiu arrancar-te um esgar. Nem uma intenção. Nada.</div>
<div style="text-align: justify;">
Há alturas, porém, em que o riso chega espontâneo, honesto, natural. Quando o mano velho chega a casa ou o pai, quando vês o Tomi ou uma qualquer criança.</div>
<div style="text-align: justify;">
Delicias-te com água. Com a que bebes e, sobretudo, com a que te envolve na hora do banho. </div>
<div style="text-align: justify;">
Estou morta por te levar à praia, no verão. Já nos estou a ver aos dois embrulhados na areia, com a toalha enrodilhada aos nossos pés, sem qualquer utilidade. Já estou a ouvir o teu pai reclamar com a areia que trazemos nos pés, nas mãos, no corpo. E a tia Rita a exigir que não nos aproximemos dela.</div>
<div style="text-align: justify;">
És observador, curioso e desconfiado. Não gostas de sítios novos. Ou de pessoas desconhecidas. </div>
<div style="text-align: justify;">
O teu pior pesadelo são viagens prolongadas de carro. Reclamas. Esperneias. Reivindicas.</div>
<div style="text-align: justify;">
Gostas de comer: leite, sopa, papa, fruta: maçã, pêra, banana. Quando te digo ba-na-na, ris-te à gargalhada. Ba-na-na. Só de escrever dá-me vontade de rir: <b>ba</b>-<b>na</b>-<b>na</b> (rio-me).</div>
<div style="text-align: justify;">
Gostas de música. Antes, adoravas estar ao meu colo a dançar. Agora, queres estar no chão para encontrares o teu próprio ritmo. Abanas as pernas e simulas passos, os teus primeiros passos. Desajeitados, envergonhados, mas passos. Os teus.</div>
<div style="text-align: justify;">
A tua história favorita é a do Dentes, o tubarão que, pela primeira vez, vai à escola com a sua sacola. O Dentes morde tudo por onde passa. Curioso, tu também mordes tudo por onde passes - é da idade. Atacas-me e eu, retaliando, ataco-te. Passamos horas nisto: tu mordes-me e eu, fingindo-me aborrecida, mordo-te também. Tu ris-te e eu, só de te ver rir, rio-me para ti.</div>
<div style="text-align: justify;">
Não te pareces comigo. És igual ao teu pai. Gostava de ver qualquer coisa meu em ti, mas sabe bem ver em ti o teu pai que não conheci.</div>
<div style="text-align: justify;">
Sou doente de amor. Uma doença que não terá cura. Nem eu quereria essa cura. Negar-me-ia a aceitá-la.</div>
<div style="text-align: justify;">
Quero ver-te crescer. </div>
<div style="text-align: justify;">
Fico aqui à espera de te ver crescer.</div>
<div style="text-align: justify;">
Não te esqueças que estou aqui, à espera, de te ver crescer.</div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="http://1.bp.blogspot.com/-YotLY1Pi4Xk/UV2NbrRUwcI/AAAAAAAAAU4/XElFK9fEuAQ/s1600/Lucas20122.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="400" src="http://1.bp.blogspot.com/-YotLY1Pi4Xk/UV2NbrRUwcI/AAAAAAAAAU4/XElFK9fEuAQ/s400/Lucas20122.jpg" width="266" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Lucas do Mar - porque foi de lá que vieste</td></tr>
</tbody></table>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
Sóniahttp://www.blogger.com/profile/17561234896898472416noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-7077571441374294699.post-88643318751110138002013-04-03T15:15:00.001+01:002013-04-03T15:15:29.652+01:00A minha vida...<div style="text-align: justify;">
... não dava um livro.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Não dava um livro ou uma notícia. Nem uma reportagem. Não dava coisa nenhuma.</div>
<div style="text-align: justify;">
A minha vida é como tantas. Igual. Sem tirar nem por. Sem por ou tirar.</div>
<div style="text-align: justify;">
Na minha vida há amor, desamor, há mal-entendidos, bem-entendidos.</div>
<div style="text-align: justify;">
Há memória, há passado, há arrependimento. </div>
<div style="text-align: justify;">
Também há saudade, daquela que aperta a garganta e a deixa sequinha, sequinha (sim, avó, a saudade que seca a minha garganta tem o teu nome inscrito).</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Na minha vida há dúvida, mais dúvida que certeza. Aliás, há tanta dúvida que eu mesma duvido que a minha vida seja mais do que a tentativa de reparar todas as dúvidas que desenham o meu percurso.</div>
<div style="text-align: justify;">
Também há dívida. Devo coisas a pessoas. Coisas pequenas, mas também coisas grandes.Há dívidas que nem sei nomear ou traduzir em linguagem.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
De linguagem percebe o Sócrates. Já o ateniense era bom nisso. Regressou e com ele trouxe a sabedoria - nunca a humildade - de chamar as coisas pelos nomes. Goste-se ou não se goste, estou em crer que José Sócrates foi o melhor primeiro-ministro português. Se não o melhor primeiro-ministro, o melhor político.</div>
<div style="text-align: justify;">
Sou capaz de entender os ódios que uma declaração como esta possa gerar. Mas isto é realmente o que penso. </div>
<div style="text-align: justify;">
Cavaco Silva, Durão Barroso, António Guterres, Pedro Santana Lopes. Nenhum destes foi melhor ou fez mais pelo país. A diferença, que é sinal dos tempos (que são inevitavelmente outros), é que José Sócrates foi julgado na praça pública como nenhum outro até aqui. Não houve nenhuma área que tenha sido poupada: nem orientação sexual, nem moralidade, nem ética. Foi alvo atroz de uma campanha de descrédito cuja finalidade falta apurar. </div>
<div style="text-align: justify;">
Se cometeu erros? Claro. Quem os não comete, cometeu ou cometerá?</div>
<div style="text-align: justify;">
Só um líder para gerar tanto medo. Nem o PS escapa à onda de medo que o seu regresso político provocou. </div>
<div style="text-align: justify;">
Veio para se defender. Tinha direito a fazê-lo, pois não houve ninguém que o fizesse em sua vez. Por si. Nem aqueles que se dependuravam nas badanas dos seus casacos impecavelmente engomados.</div>
<div style="text-align: justify;">
Sócrates tem a inteligência de poucos. Será com curiosidade que assistirei às próximas lides da sua arena política. Tem alguns cavaleiros pela frente que não hesitarão em cravar-lhe no dorso bandarilhas. Só que não se esqueçam os seu opositores que em Portugal (à excepção de Barrancos) a morte do touro é proibida na praça e, na verdade, ele está mais para forcado do que para touro.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
Sóniahttp://www.blogger.com/profile/17561234896898472416noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-7077571441374294699.post-48069050646300797582013-03-25T13:52:00.002+00:002013-03-25T13:53:47.649+00:00<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="http://3.bp.blogspot.com/-InVOPkL321g/UVBUjJuMpOI/AAAAAAAAAUo/ZZGvLVXY_Ms/s1600/Casamento+Alexandra+17112012.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="265" src="http://3.bp.blogspot.com/-InVOPkL321g/UVBUjJuMpOI/AAAAAAAAAUo/ZZGvLVXY_Ms/s400/Casamento+Alexandra+17112012.jpg" width="400" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Do amor, com amor, pelo amor. Amor a mil. Amor de dia, de noite. Com frio, ao calor. Sem reservas. Amor de mãe. O meu. Para ti.</td></tr>
</tbody></table>
Sóniahttp://www.blogger.com/profile/17561234896898472416noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7077571441374294699.post-18507355656248143082013-03-22T15:11:00.001+00:002013-03-22T15:11:24.009+00:00o meu país já não se chama<div style="text-align: justify;">
O que anda este país a fazer às pessoas?</div>
<div style="text-align: justify;">
O que seria deste país sem as pessoas?</div>
<div style="text-align: justify;">
O país. As pessoas.</div>
<div style="text-align: justify;">
Não há país que não seja para as pessoas, pelas pessoas.</div>
<div style="text-align: justify;">
E haverá pessoas sem país?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Há um barco à deriva no tejo, nem sei se leva gente dentro.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O meu país, como o barco, está à deriva num rio que não se chama tejo mas tem outro nome qualquer. Terá um nome ou, no limite, Nenhum Nome Depois, como o da Maria.</div>
<div style="text-align: justify;">
Gostava de saber o que pensa a Maria deste barco, em forma de país, à deriva pelo rio: rio acima e rio abaixo.</div>
<div style="text-align: justify;">
As pessoas gostam de ter um país. Interessa-lhes por razões de justificada identidade. </div>
<div style="text-align: justify;">
Já duvido se o país gosta de ter pessoas. Se gostasse, o chão frio não seria cama digna para alguns deitarem a cabeça; se gostasse, a fome não amarelecia o rosto de outros tantos; se gostasse, as crianças não teriam nas mãos vazias o medo do futuro.</div>
<div style="text-align: justify;">
O futuro. Que futuro? Qual futuro?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Este país não está com as pessoas.Não existe nas pessoas. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Hoje, este país poderia ter um nome qualquer. Ser qualquer outro.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Tenho saudades de ser pessoa no meu país. Oxalá o meu país tivesse saudade de ser pessoa.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
Sóniahttp://www.blogger.com/profile/17561234896898472416noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7077571441374294699.post-73665496315396149132013-03-20T14:25:00.004+00:002013-03-20T14:26:56.455+00:00A felicidade tem diasAcordo, devagar, de um sono que não foi profundo.<br />
Ainda encadeada pela luz, avanço pelo dia dentro. Há coisas que mudaram de sítio e pessoas que não moram mais nas casas de sempre.<br />
Não me lembro se sonhei ou o que sonhei.<br />
Estou sozinha, sei-o.<br />
Socorro-me de memórias, do embalo de músicas que já não oiço porque também já não mas cantam.<br />
Acordei diferente, sinto-o, ainda que o não veja.<br />
<br />
Gostava de ter tempo para acordar um pouco mais devagar.<br />
<br />
O sol não é o mesmo. As pessoas estão também elas diferentes, apesar de parecerem as mesmas.<br />
Um dia a mais no calendário do tempo.<br />
Um dia a menos no calendário da vida.<br />
Não voltaria a dormir, se eu pudesse.<br />
<br />
Se eu pudesse reuniria o antigamente, com o agora e com aquilo que há-de vir e dava-me por acabada.<br />
Por acabar está a felicidade, mas também não é certo que esta deva ter um fim. Ou um qualquer início.<br />
<br />
Voltei. Esperemos que também o resto volte para mim.<br />
<br />
Devagar. Com o sol a bater-me nas pestanas reflectidas na janela do carro em andamento.<br />
<br />
Estou aqui e não poderia deixar de dizê-lo.Sóniahttp://www.blogger.com/profile/17561234896898472416noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7077571441374294699.post-439270896125814002012-06-08T14:38:00.001+01:002012-06-08T14:40:44.506+01:00Vamos Lá Perceber as Mulheres, Mas Só Um Bocadinho<div style="text-align: justify;">
Muitos tentaram. </div>
<div style="text-align: justify;">
Raros o conseguiram. </div>
<div style="text-align: justify;">
Nem mesmo as mulheres para se perceberem a si mesmas...</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<em>Vamos Lá Perceber as Mulheres, Mas Só Um Bocadinho </em>é um monólogo interpretado pela psicóloga clínica, Marta Gautier, que está mais de duas horas a interagir com o público numa peça em que ninguém é actor. Não há ficção. E também não há cenário, pois, na verdade, aquilo não é teatro. Embora o espectáculo seja apresentado na sala de um teatro - no meu caso, no São Jorge - bem poderia ser em outro qualquer lugar. Desde que íntimo. Próximo. Confessional.</div>
<div style="text-align: justify;">
Mais do que entretenimento, ali a terapia desenvolve-se através - e por causa - do riso. As pessoas riem-se não só de si, dos seus, como também dos outros e, o melhor de tudo, com os outros.</div>
<div style="text-align: justify;">
Encenando pequenos episódios domésticos, Marta Gautier consegue iluminar aquilo que há de mais absurdo no ser humano - e não apenas nas mulheres.</div>
<div style="text-align: justify;">
Demasiado referencial, demasiado literal, demasiado mimético, falta ao espectáculo a dimensão teatral que permite o sonho, o devaneio, a liberdade. Ainda que no epílogo haja a tentativa (não conseguida) de resgatar as pessoas da sua comédia doméstica para as enfaixar contra a poesia da vida.</div>
<div style="text-align: justify;">
Não se dá pelo tempo passar, mas também não se dá qualquer mudança interior que a arte, tantas vezes, impõe.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>Sóniahttp://www.blogger.com/profile/17561234896898472416noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-7077571441374294699.post-78646942529328121562012-06-04T14:50:00.003+01:002012-06-04T14:50:35.303+01:00A Dúvida é o que sempre foi: dúvida<div style="text-align: justify;">
Durante muito tempo - tanto que nem me lembro quanto - considerei que não queria ser mãe novamente. Mas a vida não se compadece com predeterminações arriscadas e definitivas e fez-me grávida, 15 anos depois da primeira vez.</div>
<div style="text-align: justify;">
Uma gravidez, ainda assim, não acontece do nada - ou não deveria acontecer. Há um contexto que permite que ela se deseje e, depois, se concretize. </div>
<div style="text-align: justify;">
Esta não foi diferente. Primeiro veio o amor e, logo depois, a certeza de querer prolongar, para fora de mim - de nós -, esse amor.</div>
<div style="text-align: justify;">
19 semanas. Estou grávida de 19 semanas. </div>
<div style="text-align: justify;">
A minha barriga cresce, devagarinho. Comecei a sentir o bebé, ainda que seja qualquer coisa muito incipiente. </div>
<div style="text-align: justify;">
Sinto-me cheia de dúvidas e, sobretudo, de dúvidas: se estará tudo bem, se é saudável, se a dor X ou Y é normal, se vai morrer, se...</div>
<div style="text-align: justify;">
E não há literatura ou voz médica que acalme e silencie estas dúvidas. São elas que me garantem que, às 19 semanas, eu já sou mãe deste bebé que cresce dentro de mim, comigo, para mim. </div>
<div style="text-align: justify;">
A grande - talvez a maior - tarefa da maternidade/paternidade é aprender a viver com dúvidas: estará bem, ficará bem, é feliz, será feliz.. E, nos intervalos dessas dúvidas maiores e existenciais, desfrutar do bem que sabe participar na formação de um ser humano que se deseja ter tanto de nós quanto ser mais do que nós, maior do que nós, diferente de nós - ser nós, sendo ele mesmo.</div>
<div style="text-align: justify;">
Estou feliz. </div>
<div style="text-align: justify;">
Quero vê-lo. </div>
<div style="text-align: justify;">
Abraçá-lo. </div>
<div style="text-align: justify;">
Cheirá-lo. </div>
<div style="text-align: justify;">
Pegar-lhe ao colo e embalá-lo nos meus braços o tempo que ele deixar. Para mim, será sempre o tempo da (minha) vida toda.</div>Sóniahttp://www.blogger.com/profile/17561234896898472416noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-7077571441374294699.post-78699700246361492082012-05-24T14:24:00.003+01:002012-05-24T14:24:55.925+01:00No bairro do amor há mentiras que não são minhas nem tuas mas de quem as apanhar<div style="text-align: justify;">
Há momentos de esquizofrenia incontrolável, em que o teclado não chega para a quantidade de palavras que tenho para dizer. Outros há em que o teclado me sobra nos dedos e as palavras se silenciam.</div>
<div style="text-align: justify;">
Reparei que fez hoje exactamente 30 dias desde a última vez que escrevi aqui, no meu lugar de intimidade e segredo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Muitas coisas se passaram, entretanto. Não só em mim, comigo, mas também com os outros, comigo ou sem mim. </div>
<div style="text-align: justify;">
Morreram pessoas. </div>
<div style="text-align: justify;">
Morreram-me pessoas. </div>
<div style="text-align: justify;">
Houve viagens que se fizeram e outras que ficaram adiadas. </div>
<div style="text-align: justify;">
Segredos que me foram revelados e segredos que revelei. </div>
<div style="text-align: justify;">
Houve mentiras ditas como se fossem verdade. São estas as mentiras mais mentireiras, aquelas que as pessoas desejam incontrolavelmente que sejam a verdade. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Nunca me apercebi da curiosidade que suscito; vejo-me como uma pessoa vulgar, sem qualquer interesse relevante, e espanto-me de cada vez dou conta de que o meu nome é invocado por pessoas que nem sei bem quem são. </div>
<div style="text-align: justify;">
Sabem o nome dos homens com quem me deito, determinam os pais dos meus filhos - que variam consoante os gostos e a imaginação de cada um -, referem as actividades dos meus tempos livres, adivinham os meus medos e os meus desejos. </div>
<div style="text-align: justify;">
Não sei se ache graça. Se me ria. Se me espante.</div>
<div style="text-align: justify;">
Não sei se hei-de mandar as pessoas à merda. </div>
<div style="text-align: justify;">
Ou, talvez, dizer-lhes: <em>"Vão-se foder e metam o nariz na miséria que é a vossa vida própria."</em></div>
<div style="text-align: justify;">
Não sei...</div>
<div style="text-align: justify;">
Talvez me ria. Talvez me ria às gargalhadas e pense: <em>"Vão-se foder." </em></div>
<div style="text-align: justify;">
Sozinhas porque desconfio que não terão quem as queira acompanhar.</div>
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<br /></div>Sóniahttp://www.blogger.com/profile/17561234896898472416noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7077571441374294699.post-85776438514847463282012-04-24T15:34:00.002+01:002012-04-24T15:34:39.397+01:00Ainda eu não era nascida<div style="text-align: justify;">
Não tinha ainda nascido quando se deu o golpe de Abril.</div>
<div style="text-align: justify;">
Não havia eu, nem projecto de mim, quando a "Revolução"aconteceu em Portugal.</div>
<div style="text-align: justify;">
Mas não é por isso que não entendo o seu valor, a sua importância. É certo que será um entendimento romântico, talvez até estilizado, mas não é por isso que deixa de ser entendimento. </div>
<div style="text-align: justify;">
Entendimento é entendimento.</div>
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Não será necessário passar por uma guerra para rejeitá-la. Ou morrer para não querer morrer. Logo, talvez não seja determinante ter vivido o fascismo para desprezá-lo como forma de organização política, social ou cultural.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
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Em 1974, havia gente a lutar por valores mais dignificantes do que o déficite, <i>rating </i>e outras coisas estranhas e de difícil percepção - pelo menos para uma parola, como eu.</div>
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Em 1974, a liberdade de pensamento e de expressão eram o mote das cantigas que se entoavam nas ruas e das bandeiras que se erguiam no ar. Ou eu imagino que assim fosse.</div>
<div style="text-align: justify;">
Antes de 1974, eu não podia estar aqui a escrever textos. Pelo menos textos que não fossem elogiosos do sistema, das pessoas que compunham o sistema - como se de um ramalhete se tratasse.</div>
<div style="text-align: justify;">
E agora eu posso. </div>
<div style="text-align: justify;">
Eu posso e faço-o. </div>
<div style="text-align: justify;">
Cada palavra que escrevo é a confirmação da minha liberdade. </div>
<div style="text-align: justify;">
Da minha.Porque é impossível que exista apenas uma. </div>
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<br /></div>
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Antes de 1974, seria impossível haver gente a dizer na rádio ou na televisão que, por discordar das políticas do governo, não iria assistir às comemorações oficiais do 25 de Abril. </div>
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E agora podem.</div>
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Podem e fazem-no.</div>
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E há vozes que os apoiam. E há vozes que os criticam.</div>
<div style="text-align: justify;">
E a pluralidade de opiniões acontece. </div>
<div style="text-align: justify;">
O debate dá-se.</div>
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Tudo porque, um dia, ainda eu não era nascida, houve gente que ousou mais do que ser e ajudou a contruir o sonho das liberdades. </div>
<div style="text-align: justify;">
Festejando ou não. Comparecendo ou não nas comemorações oficiais, Portugal participa todos os dias naquilo que é o âmago de Abril: dizer o que se pensa quando se pensa no lugar em que se pensa.</div>
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Mesmo que hajam uns com mais direito a pensar do que outros.</div>Sóniahttp://www.blogger.com/profile/17561234896898472416noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7077571441374294699.post-73852113010416817792012-04-18T17:04:00.001+01:002012-04-19T13:53:09.875+01:00PorTITANICal<div style="text-align: justify;">
Acho que as pessoas andam distraídas daquilo que realmente importa.</div>
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E o que realmente importa não poderá ser a morte anunciada da Maternidade Alfredo da Costa nem as caçadas ao elefante do rei (vai em minúscula para ser fiel à grandeza do monarca) de Espanha.</div>
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Eu sei que é importante, de vez em quando, estupidificarmo-nos em frente à TV, até porque, muitas vezes, as matérias interessantes, cultas, inteligentes, criativas, não são suficientes e a nossa consciência (ou cérebro) precisa de se entreter com outro tipo de actividades, ainda assim, não posso deixar de me espantar com a onda de solidariedade humana que nasceu à volta da Alfredo da Costa nem com a onda de indignação gerada à volta das caçadas de elefantes do rei (mantenho a minúscula para ser coerente) espanhol.</div>
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<br /></div>
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Num país à beira do colapso, em que, semana após semana, são anunciadas pelo governo (uso a minúscula para demonstrar a pequenez dos que nos governam), eleito pela maioria dos portugueses (no qual orgulhosamente me excluo), medidas que revelam, acima de tudo, falta de honestidade e transparência política, há um povo entretido com o fecho de uma maternidade (inegavelmente histórica) e as caçadas de um rei moribundo.<br />
<br /></div>
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O atraso de 2 anos na reposição do 13.º e 14.º meses nos salários dos funcionários públicos; a proibição das reformas antecipadas, o aumento de quase 7% do gás natural (que representará, em 2012, o segundo aumento); o sucessivo aumento do preço dos combustíveis; o aumento sem precedentes do número de desempregados; a intenção de aumentar a idade da reforma sem antes reformar a mentalidade dos empregadores que continuam a desvalorizar colaboradores com mais de 30 anos; a constante ameaça (que não passará de mera ameaça, uma vez que o medo é o melhor amigo na guerra da ignorância insane) da falência da Segurança Social; o débil e confrangedor Sistema Nacional de Saúde, a verborreia institucional do Primeiro Ministro; a morbidez do ensino superior, todas estas questões deveriam ser discutidas abertamente pelos portugueses e a indignação deveria resultar daquilo que as mesmas suscitam ou fazem advinhar.<br />
<br /></div>
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Não podemos andar à deriva no Botswana ou na Rua Viriato, em Lisboa... corremos o risco de afundar, sem antes embatermos num icebergue de razóaveis dimensões.</div>Sóniahttp://www.blogger.com/profile/17561234896898472416noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-7077571441374294699.post-20988602496750997572012-04-04T15:17:00.001+01:002012-04-04T15:17:43.108+01:00Prisão sem grades<div style="text-align: justify;">
Fechada.</div>
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Encerrada no meu próprio mundo cor de rosa.</div>
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Conheço de cor os detalhes de cada parede branca cá de casa. Os leves riscos pretos, aqui e além, marcam uma passagem mais apressada, um objecto arrastado, os saltos esquizofrénicos do cão.</div>
<div style="text-align: justify;">
Enfadonhos e previsíveis: os meus dias.</div>
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Às 7 acordo. Fico deitada a tentar perceber os centímetros que a barriga cresceu. Não cresceu tanto como eu gostaria.</div>
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Às 8 é hora de dar o Zoref ao Rodrigo; apanhado, nas férias da Páscoa, por uma pneumonia.</div>
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Às 9, o pequeno-almoço. </div>
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Das 9 às 13, a invenção dos dias: leituras, escritas, telefonemas feitos e atendidos.</div>
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Almoço: comida ingerida mais uma vez.</div>
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Às 14, o descanso de nada. </div>
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Às 15, a televisão acesa e o <i>zapping</i> sucessivo: tenho dedos imparáveis e fome de qualquer coisa que a televisão não consegue saciar.</div>
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16, 17 e 18h: lanche; pão com qualquer coisa e leite. Vitaminas. Sais minerais. Vida a necessitar de consolidação.</div>
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19h, a preparação para o jantar. Ementa de hoje: polvo cozido. A mãe faz. A mãe que, ansiosa, assiste ao desenrolar dos acontecimentos últimos e procura espantar o medo com comida.</div>
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Digo-lhe <i>"Mãe, não precisas de preocupar-te. Nós fazemos o jantar."</i> Mas entendo que, para ela, esse gesto seja o seu remédio para afastar o medo e dizer-me <i>"Gosto de ti"</i>.</div>
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20h,de novo, o Zoref - antibiótico administrado de 12 em 12 horas, para que não hajam falhas, o alarme telefónico. Nunca fui mãe de remédios. Ou boa mãe de remédios. Esqueço-me deles. Corre bem nos primeiros dias, depois esqueço-me da hora. Há coisas que não mudam. Esta não mudou.</div>
<div style="text-align: justify;">
20h, o jantar: igual ao lanche, que já fora igual ao almoço e igual ao pequeno-almoço - máquina ingeridora de alimentos.</div>
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Se fosse quinta, que não é, é quarta, seria dia de Anatomia. Gosto dos dias que são de Anatomia. Há um instante de mim que é prenchido por aquelas histórias ficcionadas.</div>
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Hora de dormir. Fechar os olhos e imaginar outro mundo cor de rosa, longe, longe, longe, longe, longe daqui. Com as mesmas paredes.</div>
<div style="text-align: justify;">
Os mesmos riscos pretos.</div>
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A mesma mãe. Filho. Namorado.</div>
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A mesma Anatomia.</div>
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Livre.</div>Sóniahttp://www.blogger.com/profile/17561234896898472416noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7077571441374294699.post-79819906803883090762012-03-26T14:16:00.000+01:002012-03-26T14:16:32.423+01:00Balanço da greve geral de 22 de Março de 2012: dois fotojornalistas atingidos a murro e a pontapé e regular funcionamento das instituições (transportes incluídos)<div style="text-align: justify;">
Vivemos entre hipócritas. No meio deles. Debaixo deles. Por cima deles. Ao lado deles.</div>
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Somos eles.</div>
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Alarido. Greve Geral. Transportes. Paralisia. Xis por cento de adesão. Confrontos. Movimento 15 de Outubro.</div>
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A greve geral foi um fiasco. Ninguém com coragem política para o dizer. Só eu. Quem nem política e muito menos corajosa. Apenas atenta.</div>
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A maior parte das pessoas não pode prescindir de um dia de ordenado para ir para as ruas brincar às bandeirinhas, aos murros e aos pontapés.<br />
O alarido que se montou à volta da Brasileira, como em esplanadas das redondezas, dá vontade de rir. Ou pior, embaraça o mais fraquinho dos gregos.<br />
Haverá motivo para tanta discussão à volta da atitude da polícia?<br />
Não tem a polícia obrigação de zelar pela ordem pública?<br />
Queremos deixar os arruaceiros destruir o que ainda nos resta do que entendemos por liberdade?<br />
As condições de vida dos portugueses não vão sofrer qualquer alteração por via da banditagem, algazarra e confusão.<br />
Cabe-nos a todos nós, que, em conjunto, somos "os portugueses", agarrar no pedaço de Portugal que nos cabe e fazer com ele o melhor que podemos e sabemos. Isso implica deixar as montras partidas ou a força bruta para outros.</div>Sóniahttp://www.blogger.com/profile/17561234896898472416noreply@blogger.com3