sexta-feira, junho 08, 2012

Vamos Lá Perceber as Mulheres, Mas Só Um Bocadinho

Muitos tentaram.
Raros o conseguiram.
Nem mesmo as mulheres para se perceberem a si mesmas...

Vamos Lá Perceber as Mulheres, Mas Só Um Bocadinho é um monólogo interpretado pela psicóloga clínica, Marta Gautier, que está mais de duas horas a interagir com o público numa peça em que ninguém é actor. Não há ficção. E também não há cenário, pois, na verdade, aquilo não é teatro. Embora o espectáculo seja apresentado na sala de um teatro - no meu caso, no São Jorge - bem poderia ser em outro qualquer lugar. Desde que íntimo. Próximo. Confessional.
Mais do que entretenimento, ali a terapia desenvolve-se através - e por causa - do riso. As pessoas riem-se não só de si, dos seus, como também dos outros e, o melhor de tudo, com os outros.
Encenando pequenos episódios domésticos, Marta Gautier consegue iluminar aquilo que há de mais absurdo no ser humano - e não apenas nas mulheres.
Demasiado referencial, demasiado literal, demasiado mimético, falta ao espectáculo a dimensão teatral que permite o sonho, o devaneio, a liberdade. Ainda que no epílogo haja a tentativa (não conseguida) de resgatar as pessoas da sua comédia doméstica para as enfaixar contra a poesia da vida.
Não se dá pelo tempo passar, mas também não se dá qualquer mudança interior que a arte, tantas vezes, impõe.

segunda-feira, junho 04, 2012

A Dúvida é o que sempre foi: dúvida

Durante muito tempo - tanto que nem me lembro quanto - considerei que não queria ser mãe novamente. Mas a vida não se compadece com predeterminações arriscadas e definitivas e fez-me grávida, 15 anos depois da primeira vez.
Uma gravidez, ainda assim, não acontece do nada - ou não deveria acontecer. Há um contexto que permite que ela se deseje e, depois, se concretize.
Esta não foi diferente. Primeiro veio o amor e, logo depois, a certeza de querer prolongar, para fora de mim - de nós -, esse amor.
19 semanas. Estou grávida de 19 semanas.
A minha barriga cresce, devagarinho. Comecei a sentir o bebé, ainda que seja qualquer coisa muito incipiente.
Sinto-me cheia de dúvidas e, sobretudo, de dúvidas: se estará tudo bem, se é saudável, se a dor X ou Y é normal, se vai morrer, se...
E não há literatura ou voz médica que acalme e silencie estas dúvidas. São elas que me garantem que, às 19 semanas, eu já sou mãe deste bebé que cresce dentro de mim, comigo, para mim.
A grande - talvez a maior - tarefa da maternidade/paternidade é aprender a viver com dúvidas: estará bem, ficará bem, é feliz, será feliz.. E, nos intervalos dessas dúvidas maiores e existenciais, desfrutar do bem que sabe participar na formação de um ser humano que se deseja ter tanto de nós quanto ser mais do que nós, maior do que nós, diferente de nós - ser nós, sendo ele mesmo.
Estou feliz.
Quero vê-lo.
Abraçá-lo.
Cheirá-lo.
Pegar-lhe ao colo e embalá-lo nos meus braços o tempo que ele deixar. Para mim, será sempre o tempo da (minha) vida toda.