segunda-feira, abril 26, 2010

Circus, circum

Como por magia, os circos aparecem nas localidades vizinhas dos grandes centros urbanos de uma noite para a outra.
Um dia não estão lá, no outro sim.
Nunca vi qualquer operação de montagem. De desmontagem também não.
É como se  soprassem para a concha das mãos e esse simples gesto habilitasse o surgimento de tendas, caravanas, grades, altifalantes, cartazes coloridos, bilheteiras.
Não gosto de circo. Em pequenina acho que me agradavam os animais e os palhaços. Isso e os trapezistas.
Hoje nada me agrada. Só me deixam curiosa estas operações de montagem e desmontagem únicas. Eficientes. Só isso.
Os animais retidos em jaulas enjoam-me. A rotina dos números enfadam-me. As graçolas dos palhaços enervam-me. Por tudo isto, prefiro reter-me apenas na forma inesperada como o circo vem e vai dos locais onde assenta arraiais.

quarta-feira, abril 21, 2010

Escritaria

De vez em quando dou-me conta de que, embora não sendo escritora, passo a vida a escrever... tal como a vida, que também escreve em mim...

segunda-feira, abril 19, 2010

Amor, amor

Escolhi o lugar mais alto, um que roçagasse os céus.
Espreitei ao de leve, antecipando a queda.
Nenhum som ao derredor. Como no princípio do Mundo. Antes do verbo. Antes de tudo.
Respirei fundo, inalando cheiros e sons. Inalando a vida. Só a minha.
Dei passos atrás: contei os passos: um - dois - três.
Balancei o corpo com força e dei velocidade às pernas.
Corri de encontro ao vazio e a minha alma entregou-se-lhe de corpo.
Voei como um pássaro.
Esvoacei como uma flor em pleno vento.
Só parei na queda. Que me foi amparada.
Antes acompanhada do que mal sozinha.


quarta-feira, abril 14, 2010

Minutos: só cinco

Tenho cinco minutos para escrever o que penso. Cinco minutos para apreender a verdade dos meus sentidos em frases com sentido. Cinco minutos onde caberão as palavras de hoje, mais as de ontem (que não escrevi) e mais as de amanhã (por desconhecer se escreverei). Cinco minutos entre o silêncio da escrita que não aconteceu e esta voz que acontecerá. Cinco minutos de nada a quererem ser cinco minutos de tudo.
Cinco minutos que tive e que não tenho mais. A cada cinco minutos que passam, estou cinco minutos menos nova e cinco minutos mais velha. Sobrar-me-á, no fim de tudo, cinco minutos para dizer aos que amo que os amo? Ou, a cinco minutos do fim de tudo, os que amo não passarão de memórias a cinco minutos de desaparecer?
Em cinco minutos a vida pode mudar, parar ou reacontecer.
Cinco minutos bastam para tanto.
Até para isto.

quinta-feira, abril 08, 2010

Os mortos são viajantes?

Eu e a minha irmã
Vamos à ópera
Assistir à história de 6 mulheres aprisionadas numa estação de metro
Não são umas mulheres quaisquer
São escritoras e todas suicidas...

Música: Hugo Ribeiro
Libreto: Armando Nascimento Rosa


Se tiverem curiosidade, espreitem aqui.

quarta-feira, abril 07, 2010

Graffitar mentalidades

Assisti ontem a uma palestra sobre graffiti em contexto rodoviário. Exceptuando a discussão óbvia (comprensível e pertinente mas que para o caso pouco me interessa) à volta da questão da perigosidade dos graffiti e da sua potencial  interferência na circulação e segurança rodoviárias, o que achei interessante foi perceber a necessidade incontrolável do ser humano em trazer para o centro o que pertence, por natureza, às margens.
Pelo que percebi, graffitar paredes é ilegal - quanto a mim, a inexistência de legislação sobre uma determinada actividade não faz dela ilegal, aliás, determinar qualquer coisa  ilegal é porque essa coisa está contra a lei o que, inevitavelmente, faz depreender que ela exista; a questão é que não há qualquer legislação sobre os graffiti e assim deve continuar.
O que torna esta actividade tão atractiva quanto marginal é a proibitividade que lhe está inerente.
Não faz qualquer sentido - não para mim - amordaçar este tipo de manifestação artística - espontânea e imediata - a leis, até porque a arte acontece sempre quando existe a capacidade ou a oportunidade de ultrapassar  e subverter normas ou tendências.
As artes de rua são para ser vividas na rua. Apreciadas na rua. No contexto de urbanidade que lhe dão suporte.
Não parece fazer qualquer sentido vir uma lei estipular onde podem ser pintados graffiti ou que cores deverão ser usadas. É tão absurdo quanto existir uma lei a proibir, nos textos literários, o uso de minúsculas quando se devem utilizar maiúsculas, ou o uso de palavras que não estejam dicionarizadas, ou impedir que a poesia reflicta sobre trivialidades - a ser assim, o que faríamos com Saramago, Guimarães Rosa ou Manuel de Barros?
Eu cá ia numa de graffitar mentalidades...









Skater by Ram

terça-feira, abril 06, 2010

Gravidez Ectópica

Há sempre um momento, antes da menstruação, que me ocorre a possibilidade de estar grávida. E sempre que isso me acontece, vou enumerando argumentação a favor e contra essa remota possibilidade:

Contra

  • Estou a aprender surf, se estivesse grávida esse objectivo teria de ser abandonado;
  • A liberdade que adquiri voltaria a ser posta em causa, com um bebé lá por casa;
  • Que casa? Não tenho casa para um bebé;
  • Estou no início de uma nova relação, um bebé seria uma aventura tresloucada e um possível tiro no pé;
  • Sinto-me pouco sexy grávida.


A Favor

  • Tenho 34 anos, o mesmo é dizer que as minhas entranhas estão a morrer, pelo que o timing seria o apropriado;
  • Sinto-me segura, tranquila e feliz comigo e com os outros;
  • Sou louca por aventuras com sinal proibido, daqueles gigantes, iluminados e impossíveis de ignorar;
  • Conheci o pai  (quase) perfeito.
Pelos vistos, há o que se chama de empate técnico entre o "a favor" e o "contra". Outros pesos e outras medidas entrariam na equação, caso estas pensatices não passassem disso mesmo...

segunda-feira, abril 05, 2010

Pintura colorida

Júlio Pomar dizia numa entrevista telefónica que deu à Antena 2 que teve a sensação, na viagem que fez a Moçambique, que as crianças, por serem imensas, não caberiam naquele espaço.
Esta imagem pictórica, poética até, lembrou-me que as crianças vão ganhando espaço à medida que os "adultos" (entre os 15 e os 49 anos) morrem infectados pelo HIV.