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sábado, junho 11, 2011

Passeio pelo passado

Andei a vasculhar no passado. Numas folhas amareladas, gastas, que a minha mãe ainda guarda lá por casa, numa gaveta apinhada de memórias antigas.
Não foi um regresso pacífico, embora tenha sido emocionado e emocionante.
Andei, mais propriamente, a vasculhar as minhas fichas avaliativas referentes à primária e aos primeiros anos do básico. Não é que aquelas fichas me tivessem despertado ou alertado para alguma coisa que eu já não soubesse sobre mim, apenas vieram reforçá-lo ou clarificá-lo dolorosa e dolentemente.
Embora não consiga recuar aos primeiros dias de escola, lembro-me de ouvir os relatos da minha mãe sobre o choro e a agonia que me assaltavam de cada vez que ela me virava as costas ou, pior, me largava a mão. A sensação de abandono e de desconforto conheço-a muito bem. Ainda hoje sou assaltada por ela  em variadíssimos momentos.
Não há uma avaliação, em qualquer dos anos, em que não apareça escrita a palavra insegura: "A Sónia é uma criança insegura."; "Muito insegura, a Sónia precisa ainda de..."
O medo de não ser capaz, de não ser suficientemente boa para mim e para os outros, o medo de ser julgada, o medo de ser rejeitada, o medo de não ser amada, o medo de enganar e ser enganada, o medo de ficar só, o medo, o medo, o medo, o medo, o medo...
Estranhamente, e por contigências do acaso e do destino, este medo nunca foi um agente paralisador, antes pelo contrário,  foi um autêntico activador de vontades.
A minha insegurança congénita não me paralisa, obriga-me a avançar e sempre de encontro a lugares maiores, maiores, até, do que eu própria.
Ainda assim, continuo a ser aquela menina atemorizada com a dimensão da sala de aula e com o excesso de vozes e bocas. Demasiadas, excessivas para conhecer e confiar.
Continuo a ser aquela menina que aguarda pela mão que a guiará, enfim, ao lugar de consolo.
Consolada. Não mais sozinha. É o que desejo, em cada dia, que me suceda... 

segunda-feira, fevereiro 21, 2011

Os gordos que querem ser magros e os magros que têm de ser gordos

Os estereótipos são uma carga adicional ao percurso de vida do ser humano, carga que, tantas vezes, não corresponde em nada àquilo que o indivíduo realmente vale/é/merece. Nas mulheres, essa carga aumenta exponencialmente - porquê? Porque além de bonitas, têm de ser magras. Mesmo que a natureza/genética contrarie o ideal estabelecido, há que recorrer a tudo o que estiver ao alcance para repor a ordem - dietas líquidas, mediterrâneas, as que só se pode comer sopa, as que só se pode beber chá, aquelas em que se come apenas fruta, as que se pode comer de tudo, enfim, são inúmeras as oportunidades e hipóteses no mercado para adquirir a silhueta das  raparigas fantásticas que aparecem na televisão, seja em filmes seja em campanhas publicitárias. E se as dietas não resolverem, há ainda os comprimidos ou o recurso à cirurgia (esta última hipótese é normalmente a primeira escolha das mulheres com carteiras mais recheadas).
Desconhecia por completo que, em determinadas sociedades, o culto da magreza não só não existe como o ideal feminino se consubstancia na gordura. De tal forma a gordura é sinónimo de prosperidade e fortuna que as mães aplicam uma dieta "ao contrário" às  filhas de 7/8 anos, preparando-as para o casamento. Esta dieta "ao contrário" consiste em alimentá-las à força, obrigando-as a ingerir quantidades absurdas de comida para engordarem ao ponto de se apresentarem apetecíveis ao futuro marido e, desta forma, não envergonharem a família. A mulher magra é  proscrita. Não serve para casar porque não alimenta o estereótipo de boa parideira.
A técnica de "engordanço" é conhecida por gavagem. E a esta técnica associa-se um método de tortura que consiste na colocação do pé da criança que se quer forçosamente alimentar entre dois paus que servem, por um lado, para imobilizá-la e, por outro, para causar-lhe dor a cada recusa de alimento.
O choro e o desespero que vi em algumas crianças da Mauritânia, nas quais eram infligidos tais tratos, não é muito diferente do choro e do desespero pelo qual muitas crianças ocidentais passam em virtude do olhar de desprezo e nojo que os outros lhes dirigem apenas por serem gordas.
Não consigo decidir qual a tortura mais odiosa, se a primeira se a segunda...

segunda-feira, abril 19, 2010

Amor, amor

Escolhi o lugar mais alto, um que roçagasse os céus.
Espreitei ao de leve, antecipando a queda.
Nenhum som ao derredor. Como no princípio do Mundo. Antes do verbo. Antes de tudo.
Respirei fundo, inalando cheiros e sons. Inalando a vida. Só a minha.
Dei passos atrás: contei os passos: um - dois - três.
Balancei o corpo com força e dei velocidade às pernas.
Corri de encontro ao vazio e a minha alma entregou-se-lhe de corpo.
Voei como um pássaro.
Esvoacei como uma flor em pleno vento.
Só parei na queda. Que me foi amparada.
Antes acompanhada do que mal sozinha.


quarta-feira, novembro 25, 2009

Armada em boa, podia ter arranjado um 31

Cheguei tarde. Havia pessoas espalhadas pelo espaço nocturno, pouco iluminado, da moda (Lilipop?! Lolipop?!). Eram poucas e eu pouco as conhecia.Ou reconhecia?
A música tocava como toca nas discotecas: muito alta. As vozes tentavam sobrepor-se à música. Umas conseguiam, outras nem por isso. De qualquer forma, eu sorria sempre. Um sorriso diz tanto com tão pouco.
Na parede, projecção de frases emblemáticas: a enquadrar um momento de celebração. As t-shirts surtiam mais efeito do que as projecções, só não sei se mais do que a estátua.
Os cumprimentos ora se faziam com um estender de mão ou com um manear de cabeça a indicar um beijo, um único beijo na face. Comigo é que não, sem modas, arrisco sempre dois, não conseguindo evitar a atrapalhação do manear de cabeças: ai, que eu queria só dar um, mas ela espera o segundo!
Não dancei. Conversei pouco. Mas vi o que soube ser o futuro: no meio daquelas poucas pessoas em celebração, vi uma mulher magérrima, vestida de preto, com um copo de bebida na mão - nada de esquisito até aqui, a não ser as suas feições. Foi só quando ela se virou que topei o código de barras que ela tinha inscrito na pele das costas. No futuro, pensei, todos teremos esse código de barras, que permitirá identificar-nos em qualquer lugar ou em qualquer tempo.
Em ansiedade, mas sem poema, fixei aquela mulher que vi como se estivesse numa plataforma de ficção científica.
Armada em boa, ri-me dela, por ignorância. E só não arranjei nenhum 31 porque, apesar de esfomeado, o meu companheiro de viagem riu comigo, atenuando a ignorância por partilha.

quarta-feira, outubro 14, 2009

Escritaria

Depois de uma noite pouco dormida, nada como apanhar boleia destes raios de sol que ajudam o cerébro a espreguiçar as ideias que pairaram, revoltas, nos poucos lençóis que me confortaram, durante a noite.
Em dias como este, quando o sol me arrebata e acaricia suavemente, não me importo com os carros, aliás, nem deles me lembro.
Lembro-me de outras coisas, do sabor do iogurte com cereais desta manhã; das imagens da noite passada a entrar na minha consciência e eu a rejeitá-las, a dizer-lhes que as não quero, que as desprezo; lembro-me das leituras que fiz noite dentro, porque a noite teimou em não entrar em mim.
Há um novo livro de Saramago nas livrarias, Caim, e isso faz-me pensar que não deve haver ateu nenhum que se sirva tanto das imagens biblícas para fazer literatura. Ao mesmo tempo, penso que só um ateu pode usar essas imagens com o distanciamento exigido.
Em Penafiel decorre o Festival Escritaria, dedicado, este ano, a Saramago. Há literatura pelas ruas, nas pedras, nas paredes e nas lojas. Também nas lojas de lingerie se poderão ler as palavras do escritor. Até porque, diz ele, a nossa vida é toda ela ficção.
A minha não tenho eu a menor dúvida de que é. Como ficcional foi a noite de ontem que acabou por não se cumprir.

domingo, outubro 11, 2009

Aniversário

"No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto."
Álvaro de Campos, in Poesias de Álvaro de Campos

Há um tempo em que do tempo nada queremos, nada exigimos, nada esperançamos. O tempo em que, meninos, só temos tempo para ser feliz.

Depois, vem o tempo em que do tempo tudo queremos, tudo exigimos e, esperançados, esperamos que a vida nos dê todo o tempo que tem. O tempo em que, crescidos, temos tempo para tudo, excepto para ser feliz.

Penso em ti menino. Cheio de tempo. E penso na poesia da Ana Paula Tavares:

"Cansada de voar pássaros

à boca do vento

a avó

cortou o pão e a mandioca."

Ana Paula Tavares, in Ex-votos

terça-feira, agosto 18, 2009

Mangueirais

É exactamente como se tivesse comido mangas: os fios podem não ser visíveis a olho nu, mas estão lá entrelaçados nos dentes e a provocar aquela sensação de desconforto. A verdade é que gosto de mangas, mas ainda não aprendi a comê-las de forma a não ficar com restos de fios entre os dentes...


quinta-feira, agosto 13, 2009

Ele e ela

(ela) - Tenho tanto medo.
(ele) - (sorrindo) O medo só te faz morrer por dentro.
(ela) - Não. Faz-me viver nas dobras do que sou.
(ele) - Então... ter medo pode ser bom?
(ela) - Em alguns casos, sim.
(ele) - Não percebo!
(ela) - (sorrindo) Eu tão pouco!

quinta-feira, julho 16, 2009

Sun... set

Embrulhada pelo sol da manhã a querer ser sol da tarde e sol da noite, fui.
Só não fui muito longe, não porque o sol da manhã me provocasse macerações na pele, mas porque o desejo de ter me provoca macerações na alma. E as feridas demoram o seu tempo a sarar, se é que saram definitivamente...

segunda-feira, julho 13, 2009

Mon coeur

Ou é a máquina de lavar loiça que avaria, ou o carro que deixa de funcionar, ou o marido que nos troca por uma morena altíssima, com sotaque latino, e umas mamas perfeitas que nem se mexem com o andar, ou são os filhos que pedem tudo, exigem tudo, nos levam tudo sem um obrigado suspenso pelos lábios, ou são os chefes que pedem tudo, nos exigem tudo, nos levam tudo sem um esgar de reconhecimento no olhar, ou é a família que só se lembra que é família quando precisa de um favor ou da nossa presença numa qualquer festa sem importância, ou são os amigos que andam demasiado ocupados a ser amigos de tantos outros amigos e a sobreviver aos caos da vida de todos os dias, ou é a televisão que estupidifica mais do que solidifica, ou é o Governo, a Nação, o Estado que nos rouba de nós próprios e nos torna reféns de uma realidade que não existe nem nunca existirá, ou é o cão do vizinho que ladra sem parar, ou as crianças do bairro que gritam e pulam como se o mundo fosse acabar - irá, com certeza, mas não hoje, não agora - ou é o carteiro que insiste em colocar as cartas do vizinho na nossa caixa, apesar de avisado do facto, ou são as doenças a levar-nos a saúde e a juventude para um lugar distante, afastado do alcance das nossas mãos, ou é a preguiça a impedir-nos de ser quem gostaríamos e a deixar que nos contetemos apenas com o que somos, ou é a ambição do "ter" a corroer-nos por dentro, a fazer-nos olhar em volta desejando outro telemóvel, outra casa, outro carro, outra televisão, outro marido, outra mulher, outros filhos exactamente como aqueles que aparecem nos anúncios comerciais, ou é o tempo que não sobra e que, entretanto, é gasto com o que não importa, ou é isto ou a ausência de tudo isto... "E assim/ Nas calhas da roda/ Gira, a entreter a razão,/ Esse comboio de corda/ Que se chama coração." (Autopsicografia, Fernando Pessoa)

sexta-feira, junho 12, 2009

Vacaciones

Os pés na areia. A areia quente nos pés que se escondem.
A luz pouco sincera da noite. As estrelas ocultadas num oceano de céu. Mas estão sempre lá, paradas, bonitas, brilhantes, luzentes, ainda que nem sempre as vejamos. E o que não se vê, não existe?!
Os risos estridentes dos outros a fazer ricochete nos ouvidos sensíveis de poucos.
As férias são como as ondas: vão e vêm. E os amigos são como as férias e as ondas: vão e vêm; mesmo que haja uns que vão mais do que vêm e outros que vêm mais do que vão.

sexta-feira, maio 29, 2009

uma noite na alfredo

maternidade alfredo da costa. 24.00. um futuro-quase-pai e quatro amigos. não havia esquina, nem solidó, mas havia um carro-vassoura com famous, gelo e copos de plástico. também havia minis. um fim de noite improvável com pessoas improváveis.
anetodas. álcool. risada. boa disposição. alegria porque o nascimento não deve ser celebrado de outra forma.
grávidas. muitas grávidas em fim de gestação. pais, rostos de ansiedade encostados às cadeiras da urgência. cigarros. telefones a tocar a toda a hora.
dor. agonia. contracções que vão e vêm e quando vêm trazem a força de mil trovões.
abraços. outro gole de uísque partilhado pelas bocas. abraços. medo: "e se o bebé nasce com algum problema?" não nasce. frémitos percorrendo o futuro-quase-pai e os amigos, que os disfarçam sob o álcool, os cigarros e os abraços.
afonso. teresa. miguel. família desenhada sob o olhar atento de médicos e enfermeiros. scooter. o médico que fará o parto veio de scooter. deixou o carro em casa e veio de scooter. boa! um médico que viaja de scooter. alívio.
sinos. sinais. cansaço. espera. mais abraços. histórias de angola, de uma angola que foi o passado de uns, é o presente de outros e a terra prometida para os que sobram. que são poucos. quase nenhuns. só um: eu!
brindes. conversas em frente e dentro do carro-vassoura. fotografias para aprisionar a memória e não deixá-la falar por si. tradição. falta dela.
tradicional improvisado. nascimento adiado. já falta pouco, mas o pouco parece tanto. abraços. até amanhã. e amanhã nada disto soará igual.

terça-feira, março 03, 2009

Março

Março.
A árvore que existe em frente à janela da minha cozinha já tem folhas.
As folhas que existem na árvore que está em frente à janela da minha cozinha já tem pássaros.
Os pássaros que saltitam nas folhas da árvore que existe em frente à janela da minha cozinha já cantam.
O canto dos pássaros que saltitam nas folhas da árvore que está em frente à janela da minha cozinha é doce e sincero.
Doce e sincero é também o início de qualquer nova estação. Mas Março anuncia aquela que faz do canto dos pássaros, em folhas de árvores existentes à frente de qualquer janela, de qualquer cozinha, a mais ansiada, a mais desejada também.
Espero-te, Março, no canto desta estação.

quinta-feira, fevereiro 05, 2009

Gotcha YA!

Eu vi o céu carregado e dentro desse céu, que eu vi carregado, vi igualmente um bando de aves em voo uníssono. Eu vi, ainda que dentro de um carro com vidros fechados, por causa do frio, um bando de aves que perfazia também um corpo de bailado em suspensão no firmamento; eu vi e tive o vislumbre da poesia em voo e em horizonte.
Eu vi o agitamento das asas em sincronia meticulosa e o céu carregado por detrás a fornecer o enquadramento, a cor e a luz. Eu vi ISTO enquanto conduzia o meu carro, como faço todas as manhãs, para deixar o meu filho na escola. Não era uma tela de Munch, nem uma composição de Schumann ou um livro de Borges; eram simplesmente pássaros a deslocarem-se nos céus pela manhã. Eu vi o carregado céu e os pássaros em bando e, por momentos, apesar de fechada dentro de um carro, descendo a rua que desço em cada um dos dias, senti Munch, Schumann e Borges naquela imagem. Eu vi porque, para ver, é só saber olhar.

terça-feira, janeiro 27, 2009

ARE WE HUMAN?

Episódio I - Numa escola qualquer
- Olha, olha. Este chavalo ainda não foi ao castigo.
- Ya. Pega no gajo.
Sobre o olhar de todos os outros, os da conversa anterior desatam a correr atrás do puto que, sozinho e isolado, procura debater-se e impedir os algozes de o levarem ao castigo. Num golpe de sorte, consegue esconder-se dentro do pavihão. A sensação de estar a salvo foi curta: os outros dois entraram também. Frustrados por não o terem caçado no pátio, onde a tortura seria mais facilmente aplicada, deitam-no ao chão e despejam sobre o seu corpo atlético, ainda que sozinho e isolado, uma jorrada de pontapés que lhe acertam em cheio. Condoído de uma mágoa interior, muito mais do que qualquer dor física existente, enrola-se sobre o seu corpo, cerra os dentes e adia as lágrimas. Até que um dos pontapés lhe acerta em cheio nas partes. Onde? Nos colhões, pá. Acertámos-lhe nos colhões. Aí não conseguiu mais disfarçar a dor que se instalava rapidamente contra a sua vontade de criança. Não pôde mais levantar-se do chão. As lágrimas infectavam-lhe o orgulho e a virilidade.
- Caga no gajo. Bute saír daqui antes que venha a cota da funciónária.
- Ya. Bora.
Episódio II - Num supermercado qualquer
Numa fila de supermercado, uma mãe, acompanhada pelos seus dois filhos gémeos, arruma as compras nos sacos. Os miúdos não têm mais do que 6 anos. A mãe não mais de 40. Um deles chora copiosamente, pedindo por tudo que ela lhe compre não-sei-o-quê extremamente importante e imprescindível à sua vida de criança mimada e mal-criada. O outro, porque cúmplice da vontade do irmão, empurra a mãe, chamando-lhe entre dentes de "", ao mesmo tempo que cerra os punhos e lhe dá socos nas costas e na barriga. A mãe, empanturrada de trabalho, de frustração e de cansaço, ignora o choro e, pior, os socos. Continua, como que apática, a arrumar as compras dentro dos sacos de plástico. As compras arrumadas dentro dos sacos de plástico são tudo o que ela lhe apetece controlar. Os filhos gémeos continuam, porém, na sua demanda por não-sei-o-quê vital que lhes acentua a veia autiritária e ditadora sob o olhar vazio da mãe. Outro soco. . És má.
Episódio III - Nuns semáforos quaisquer
Sinal vermelho de um lado. Sinal verde do outro. Regra? Os que têm sinal vermelho param. Os que têm sinal verde avançam.
A fila de carros estende-se mais do que o habitual. Há pressa para chegar a casa. Há pressa para fazer o jantar. Há pressa para sentir o cheiro dos filhos . Há pressa para ver o telejornal. Há pressa e pressas. O sinal está verde. Pode avançar-se. Só que os que têm sinal vermelho não impedem a marcha, impedindo os que têm agora sinal verde de fazer o que é seu direito. Um dos carros, afoito, decide avançar contra os carros que deviam estar a aguardar a sua vez. O carro, afoito, buzina. Os outros lançam-se em protestos, levando o dedo indicador à testa. O carro, afoito, ignora-os. Ele sabe que é a sua vez de passar.

sexta-feira, janeiro 16, 2009

One step to nowhere

O espectro dos sonhos aligeirado pelo espectro dos passos. Resta saber de onde vêm estes sonhos. De mim? Ou daquilo que é suposto vir de mim? Nunca sei, ou raramente sei, até onde chega a minha liberdade. Gostava de acreditar que os sonhos me pertencem, pois já os passos não duvido que sim.

domingo, janeiro 11, 2009

Sábadomingo

Quando o domingo desce em mim, há saudades que flutuam nos meus pés de criança. Não vejo o riso. Não oiço o amor. E perco-me na incerteza do certo e do errado. Quando o domingo desce em mim, as saudades são o gosto do inverso, submerso em tudo o que foi experimentado até aí: no instante em que a porta se fecha e o sábado é já domingo.