quarta-feira, outubro 14, 2009

Escritaria

Depois de uma noite pouco dormida, nada como apanhar boleia destes raios de sol que ajudam o cerébro a espreguiçar as ideias que pairaram, revoltas, nos poucos lençóis que me confortaram, durante a noite.
Em dias como este, quando o sol me arrebata e acaricia suavemente, não me importo com os carros, aliás, nem deles me lembro.
Lembro-me de outras coisas, do sabor do iogurte com cereais desta manhã; das imagens da noite passada a entrar na minha consciência e eu a rejeitá-las, a dizer-lhes que as não quero, que as desprezo; lembro-me das leituras que fiz noite dentro, porque a noite teimou em não entrar em mim.
Há um novo livro de Saramago nas livrarias, Caim, e isso faz-me pensar que não deve haver ateu nenhum que se sirva tanto das imagens biblícas para fazer literatura. Ao mesmo tempo, penso que só um ateu pode usar essas imagens com o distanciamento exigido.
Em Penafiel decorre o Festival Escritaria, dedicado, este ano, a Saramago. Há literatura pelas ruas, nas pedras, nas paredes e nas lojas. Também nas lojas de lingerie se poderão ler as palavras do escritor. Até porque, diz ele, a nossa vida é toda ela ficção.
A minha não tenho eu a menor dúvida de que é. Como ficcional foi a noite de ontem que acabou por não se cumprir.

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