terça-feira, outubro 06, 2009

Onde há fumo, há fogo?


Se o Jorge Mourinha - quem não conhece, é um dos críticos de cinema do Público - avaliar um filme com duas míseras estrelas (duas estrelas correspondem a "Razoável") - e quem diz o Jorge Mourinha diz o Vasco Câmara, o Luís M. Oliveira ou o Mário J. Torres - então é aconselhável uma ida ao cinema.

Não gosto de menosprezar o trabalho dos outros, e sei perfeitamente que a crítica é uma actividade difícil e delicada, quando realizada em consciência. Ainda assim, não posso deixar de manifestar a minha incredulidade perante juízos críticos que reduzem determinados filmes à medíocre medianidade.

Veja-se o caso de Longe da Terra Queimada, de Guillermo Arriaga, o fabuloso argumentista de Babel e 21 Gramas; Jorge Mourinha classifica o filme como "Razoável". Uma classificação absurda que se constata nos primeiros minutos do filme.

Alguém explica aos senhores críticos que os filmes não têm de ser exercícios de abstracção poética ou de masturbação intelectualizante para merecer classificações superiores à que estão normalmente dispostos a dar?

O filme traz-nos uma Charlize Theron gélida, que se alimenta do sexo que vampiriza a clientes do restaurante onde trabalha; uma Kim Basinger, mãe de família, que não desiste de sentir-se desejada (o plano que Arriaga faz das mãos da actriz não deixa margem para dúvidas, Kim Basinger envelheceu), um Joaquim de Almeida apaixonado por uma mulher que não é a sua; planos temporais distintos mas que interagem na perfeição (interacção muito bem conseguida numa das cenas finais, quando todas as personagens estão a entrar para o carro); uma história de amores e desamores, principalmente o desamor que algumas personagens sentem de si próprias; e a renovação da vida, da culpa, mas também da esperança pelo fogo.

Concordo que o filme não esteja ao nível de Babel, muito menos de 21 Gramas; a resolução do enigma narrativo é relativamente óbvia e a interpretação de Charlize Theron está muito colada à de Nicole Kidman em The Human Stain, um filme de Robert Benton, do ano 2003. Todavia, parece-me que "Razoável" não coloca o filme ao nível que ele merece.




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