Não percebo porque demoramos tanto tempo a fazer determinadas coisas. Talvez, sem sabermos, estejamos apenas à espera do momento certo para fazê-las.
Ontem foi o dia certo para ver Rodrigo Leão ao vivo pela primeira vez. E que vez. E que primeira.
O Coliseu estava cheio. O palco também: sintetizador, acordeão, violino, viola de cordas, violoncelo, baixo e bateria. Por detrás deles, o sol. Pequeno, primeiro. Imenso, depois. Crescia com a música.
Não consigo reproduzir em texto as sensações que o concerto, desenrolando-se, acontecendo, fez nascer em mim: senti extâse. Senti compaixão. Senti tristeza. Amor. Felicidade. Dor. Melancolia. Saudade. Senti-me a mim, nua, exposta.
Nunca pensei ser possível cantar de forma irreprensível em português, em inglês, em francês, em castelhano. É possível. Ana Vieira fê-lo diante dos meus olhos que eram também os meus ouvidos. A minha boca era ouvidos. As minhas mãos em ouvidos se tornaram. O meu corpo, todo ele tímpanos a descoberto.
Apeteceu-me, variadíssimas vezes, voltar atrás com a "cena". Ouvir de novo aquele lamento de violino em crescendo. Apeteceu-me ter um comando e fazer pausa, rewind vezes sem conta, sem conta ou peso ou medida. Impedir o fim. Como quando assistimos a um filme que nos diz tanto que desejamos desesperadamente adiar o seu final.
Histórias, A Corda, Pássaros de Panjim, Viagem a Goa, This Light Holds So Many Colours, Sleepleess Heart, Vida Tão Estranha, Cathy, No Sè Nada, Ya Skaju Tebe. Outros. Muitos outros temas em festim de composição clássica, revestida de contemporaneidade futurista.
Brilhante, foi por isso que saí de lá a cintilar.
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