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quarta-feira, dezembro 29, 2010

Código de "Deséctica"

Hoje tive de assinar uma declaração em que garantia ter cumprido com rigor o Código de Ética da empresa.
No local onde estava escrito Código de Ética assinalei com um asterisco e, no final da declaração, escrevi o que a seguir transcrevo:

* Apesar de desconhecer o Código de Ética em vigor na empresa, declaro que o cumpri com todo o rigor. Acrescento apenas que desconheço se tirar macacos e colá-los debaixo da secretária conta como infracção ao código! Ou ficar especada a olhar para o vazio, a pensar em tudo o que não se relaciona com o trabalho, também conta como infracção ao código! Ou se falar dos directores também conta como infracção ao código! Ou rir com e dos colegas...

Nota: Acho que, afinal, não deveria ter assinado a declaração!

quinta-feira, dezembro 23, 2010

Bem, se não nos virmos...

Por que razão quando as pessoas se cruzam connosco na rua nos desejam Feliz Natal da seguinte maneira?

- Bem, se não nos virmos, feliz Natal.

E se dissessem só "Feliz Natal" não serviria?

segunda-feira, dezembro 06, 2010

Tanga ou Sunga?

Sinto-me a viver num país tropical, tal é a humidade e o calor que emana da atmosfera.
Só falta mesmo os políticos irem trabalhar de tanga... ou de sunga, que é uma tanga mais sofisticada porque brasileira!
E tudo o que é importado... é bom!

(Já estou a imaginar o Teixeira dos Santos, com o seu ar de pai natal grave e cinzento, a fazer contas de subtrair - nos Açores fazem-se de somar porque os açorianos são portugueses de outra estirpe -, vestido com uma tanga branca, com a bandeirinha da UE estampada ao centro) 

quarta-feira, novembro 17, 2010

Seja o que DEUS quiser

Há burburinho no ar, burburinho que é inquietude, burburinho que é medo. Pressinto que há pessoas com medo, sobretudo medo de ter de justificar o trabalho que, afinal, toda a gente espera que faça.
Vive-se numa fase em que um gesto, uma decisão ou uma atitude pode prender alguém nas malhas da desconfiança.
"Se existes, logo és corrupto" é a máxima que se pode ler nos corredores por onde movimento os meus passos ou os meus saltos, naqueles dias em que decido vestir-me de empresária de sucesso, a trabalhar numa empresa de sucesso.
Acho uma certa graça a este movimento colectivo - procura-se inferir as mudanças que se advinham: este fica, este sai. Esta vai para aqui. Aquele salta para lá. Este fecha. Aquele esfuma-se...
Na verdade, não se sabe de nada, mas como num jogo de xadrez, joga-se com as pessoas, com as posições que ocupam como se de meras peças se tratassem - entretém, faz rir e permite escapar ao burburinho que se infiltra na pele como a humidade nos ossos; como um grito calado que, quando se fizer ouvir, explodirá nas mãos de uns quantos!

sexta-feira, novembro 12, 2010

A Lista, não de Schindler, mas de Manuel Godinho

Com a publicação da lista das prendas oferecidas por Manuel Godinho, no jornal diário I, oferece-me dizer o seguinte:

1. Preciso urgentemente que me expliquem - tim tim por tim tim - o significado de corrupção. Receber um presente de alguém faz de nós corruptos?
2. Se a resposta à pergunta anterior for "sim", deixo uma sugestão: afundem o país e construam um novo, porque duvido que haja entidades isentas nesta coisa à beira mar plantada.

sexta-feira, novembro 05, 2010

Os homens e o vinho

Ontem, enquanto apanhava um pouco do sol do dia, ouvi:

- Os homens são como as uvas. Têm de ser bem pisados para dar um bom vinho.

Não me identifico minimamente com ideais feministas, mas esta frase ficou-me no ouvido... confesso.

terça-feira, outubro 05, 2010

República mendiga

Fui passear a Lisboa. Nada melhor do que aproveitar, em dia feriado, a cidade esvaziada do correpio rotineiro, das filas de trânsito, do buliço apressado das pessoas. O feriado que comemora a República, que é qualquer coisa que devemos louvar, embora tenhamos tão pouca noção do seu significado. Principalmente num tempo em que os políticos governamentais fazem lembrar os reis com a sua incontrolável sede de impostos.
Ia a descer a rua do Trindade quando me deparo com alguém a dizer-me quase em surdina, em embaraço comprometedor:
- Dê-me uma moeda, a minha reforma é de € 238 e eles não ma entregaram ainda. Tenho fome, queria comer.
Era uma senhora de idade, mãe de alguém, avó de alguém. Era uma senhora que, em algum momento da sua já longa vida, trabalhou para um Estado que agora lhe dá € 238 mensais para sobreviver.
Chorei por dentro. Odeio a miséria. Dei-lhe € 2, com esperança que esse dinheiro lhe matasse a fome e a vergonha por umas horas.
Viva a República.

segunda-feira, setembro 20, 2010

Raiva

17 milhões. Foi quanto custou a visita do papa e da sua corja ao Reino Unido.
Em Moçambique, com uma quantia de 3,20 dólares, uma criança compra um kit (pasta, caderno, lápis e caneta) que lhe permite frequentar a escola; para a recuperação completa de uma criança HIV positiva malnutrida bastam 54 dólares e com 12.000 dólares poderá construir-se uma sala de aulas, beneficiando 150 crianças.
São ou não são os 17 milhões números sujos, vergonhosos e pouco cristãos?
Sinto raiva, ainda que seja um pecado tão capital.

domingo, setembro 19, 2010

Auto-retrato

O amor não existe.
Esta frase assombra-me o pensamento há dias e não sei o que fazer com ela. O que fazer dela.
Podia, quem sabe, usá-la como recheio da lasanha que pensei fazer hoje para jantar. Descascá-la e deixá-la refogar junto dos alhos e das cebolas. Aloirá-la. Não em excesso. Só até a cebola ficar branquinha.
Também podia pintar com ela as paredes do quarto. Usá-la como recorte, entre a cor branca e a cor verde timor - nos catálogos das tintas descobrem-se cores poéticas: verde paraíso; verde minho, verde roma; rosa doce; amarelo sol, amarelo lar e azul-o-amor-não-existe.
Talvez encher com ela a banheira e mergulhar o meu corpo cansado em cada sílaba pronunciada: o/a/mor/não/e/xis/te - perfumando o ar com o peso das palavras pronunciadas.
Ou podia agarrar nela e esfregá-la contra o rosto das pessoas que vivem convencidas de que o amor é um pressuposto de vida. Gritar-lhes bem alto para que oiçam aquilo que ela diz, mas não aquilo que pensam que ela diz - parece que eu nunca sei o que as palavras querem dizer, por isso, invento.
O amor não existe. O´Neill sabia-o.
O amor não existe "porque não há feito". É preciso saber fazê-lo.
Já me decidi. Vou barrar o raio da frase no pão, a ver se me engasgo nela...

quarta-feira, janeiro 13, 2010

Pista com obstáculos

A A5, em dias de chuva, é uma pista de 25 quilómetros com obstáculos. E quem ousar passar ao lado desses é imediatamente desclassificado. Deve ser essa a razão que motiva os automobilistas a observarem demoradamente cada um dos obstáculos na pista: carros acidentados e/ou carros avariados. Ignorá-los é que não, até porque se deve aprender sempre com os erros e as desgraças dos outros. Além disso, fila que seja digna desse nome quer-se é extensa e prolongada, com direito a emissão televisiva e a helicópetros a sobrevoarem a área.

Ontem tentei dar um pulinho a Almada, fazer uma reunião rápida e regressar num instante a casa, já que tinha o meu filho doente à minha espera. Ingenuidade minha considerar que conseguiria fazer uma proeza deste tamanho quando a chuva não dava tréguas e se mantinha irreprimível no seu devir. Não me lembro quanto tempo demorei no ir e no vir - tendencialmente apago as coisas menos boas que me acontecem - mas sei que demorei mais do que devia. Como é que eu sei? O Rodrigo ligou-me, desesperado, umas cinco vezes para certificar-se de que eu não iria abandoná-lo em casa, doente.

sexta-feira, janeiro 08, 2010

Benzo o quê?

Há expressões na língua que me deixam espantadíssima, como a "benzó Deus". É utilizada por familiares a cheirar a mofo e quando estão na presença de uma criancinha adorável. Ainda ninguém me explicou a verdadeira utilidade desta expressão, mas eu não desisto, um dia a coisa dá-se.

quarta-feira, setembro 02, 2009

A Margarida é uma Vénus confundida

Sou mulher. A dimensão que se inaugura sempre que constato tal realidade é imensa. Gosto de metade dessa dimensão, dispensaria a outra metade. Por exemplo, detesto as horas que gasto a depilar-me, independentemente da sensação de conforto que me traz durante os dias seguintes; detesto a história do mete tampão, tira tampão que a menstruação obriga - é cliché? acham? isso é porque nunca experimentaram a dança, deviam experimentar, ai pois deviam!; e gostaria de ser mais imatura que a maior parte dos homens que conheço para que o encantamento em relação a eles se prolongasse um pouco mais no tempo.


Há outra coisa que eu detesto, e que dispensaria no imediato, as crónicas da Margarida Rebelo Pinto no Sol, principalmente aquelas em que fala de banalidades, que são quase todas. Então a senhora escreve uma crónica à qual dá o nome de Marte e Vénus (uhhhh, que original) onde discorre sobre a inevitável objectualização da mulher pelo homem (leiam aqui) e, imaginem, de todas as fotos que aparecem dos cronistas do Sol, a Margarida é a única que tem direito a uma de corpo inteiro (vejam aqui), de perna cruzada e com olhar sensual. O que me provoca uma dúvida: ó Margarida, serão só os homens que fazem da mulher um objecto sexual vendável e apetecível?



P.S. Fiquei com outra dúvida, mas esta é mais banal, queria perguntar à Margarida qual o significado, naquele contexto, de gadjets.

sexta-feira, agosto 28, 2009

Os meus lábios cor de azeitona lima

A minha devoção às azeitonas nunca me trouxe nada de muito bom, excepto aqueles minutinhos iniciais de prazer e deleite que duram normalmente até à manhã seguinte em que me aparece uma, ou várias aftas na boca.

Por que não desisto eu de comê-las? Eu penso nisso de cada vez que acordo com a boca disforme e de cada vez que a minha alimentação se torna num exercício de dor. Mas não dura muito. É só deparar-me com aquelas coisas redondinhas, a cheirar a oliveiras, que os meus olhos se perdem em desejo.

Hoje acordei com os lábios da Angelina Jolie. E não fosse a dor que sinto, era uma mulher feliz!


quarta-feira, agosto 26, 2009

Cartazes para todos os gostos

É sempre assim. A poluição visual em épocas de eleições afecta-nos mais do que a outra poluição, a recorrente, pela qual até já sentimos um certo carinho.

Os partidos investem sempre muito na proliferação de slogans eleitoralistas associados às fotografias dos candidatos.

Este ano, porém, não pude deixar de reparar que os outdoors são ligeiramente diferentes e não sei se me agradam. Por exemplo, o Paulo Portas que está ao lado do Mercado da Ribeira - sendo um mercado faz sentido a sua presença - revela claramente que o canditato tem um problema na vista ou isso ou aquele olho semicerrado tem subjacente a si uma qualquer estratégia de marketing, sendo, na verdade, um piscar de olhos malconseguido aos eleitores que ele tanto quer conquistar.

Sobre os do PSD nem vou manifestar-me, aliás, já houve manifestações suficientes sobre o rosto da Ferreira Leite estampada em cartazes que são, antes de tudo, um perigo para a circulação rodoviária.

Depois há os cartazes da candidatura do Isaltino Morais - esse grande senhor - à Câmara de Oeiras. O seu rosto não aparece em nenhum deles, sendo substituído ou por frases emblemáticas ou por rostos de pessoas de ar simpático. Não percebo a razão por detrás desta opção. Não pode estar relacionada com o facto do autarca ter sido condenado a sete anos de prisão efectiva, por favor, ninguém em Oeiras quer saber disso para nada!

O Jerónimo de Sousa aparece sem óculos no cartaz do PC. Fica giro sem óculos. As pessoas que usam óculos não podem aparecer em cartazes de campanhas eleitorais. Porquê? É que ficam menos giras. E para ganhar votos ao PSD há que ser mais giro do que a Ferreira Leite. Difícil, tarefa difícil!

O PS tinha uns cartazes todos catitas com o primeiro-ministro mais sexy do mundo, só que deixei de os ver. Inveja é o que é!


P.S. Não posso deixar de falar igualmente num dos cartazes do partido bloquista. Então não é que estes camaradas fazem publicidade aos outros candidatos?! Estão lá, e em versão repetida (para não haver qualquer dúvida) o Sócrates, a Manuela Ferreira Leite e o Santana. Ó pá, aceitem este conselho: experimentem colocar no cartaz a Joana Amaral Dias em biquíni e vão ver como os votos serão mais do que muitos. Com a vantagem de nem precisarem pagar a nenhuma agência para criar um slogan eficaz!


quinta-feira, agosto 20, 2009

Talk to the HAND


Sentir a sua mão no rosto devolvia-lhe a sensação de redenção absoluta. A pele do corpo virava galinha, num repente brusco e disparatado. Nem o bater do coração escapava, por acelarar-se em batidas descompassadas e persistentes. Ela não queria pensar muito no assunto. Pensar estraga, dizia para si própria, como se o dissesse aos ouvidos das amigas, no recreio da escola preparatória.

Aquelas mãos, ela sabia, não eram como outras que sentira no mesmo rosto e na mesma pele. Aquelas eram AS mãos. Mãos que demoravam horas a encenar os contornos específicos do seu rosto de mulher. Mãos que dispensam olhos, e até boca. Mãos que afagam, que apertam. Mãos que amam. Mãos que são MUITO em TUDO.

Voltados um para o outro, alheavam-se da vida que continuava além deles: o camião do lixo, os vizinhos a entrar e a sair, o relógio do tempo a tiquetaquear.

- Sandra - Foi a última coisa que ela ouviu, dita num murmúrio dolente, quente, húmido.

Afastou-o de si, olhando-o nos olhos:

«Depois de mim, depois das outras mulheres, é o meu nome que dirás, e nenhum outro.»


sexta-feira, junho 19, 2009

Traffic II

Só me conforta o facto de Durão Barroso ter sido apoiado por todos os líderes europeus para voltar a ser presidente da Comissão Europeia. Fico quase tão comovida com o sucedido quanto ele. E quase que esqueço a confusão de trânsito desta manhã e regresso ao estado de satisfação e felicidade anterior...

sexta-feira, maio 22, 2009

Narciso(a)

Acordei com uma voz sensualíssima, rouca, arrastada, perfeita. Resultado de uma constipação que não pode ser suína, uma vez que não estive no México ou nos EUA. Mas suína ou não, a verdade é que o muco me escorre pelas narinas e os atchins ecoam pelos corredores por onde me movimento. Já para não falar da vermelhidão dos olhos, que me dificulta o olhar.
Agora... esta voz é A VOZ. Se me fosse permitido, hoje comia-me. Agarrava-me pelas pernas e atirava-me contra uma parede, depois, sussurraria aos meus ouvidos para mais profundamente sentir esta voz sexy, quente que lembra as dançarinas de cabaret, com a boquilha e o cigarro na boca - ou lembrar-me-ia se alguma vez tivesse falado com dançarinas de cabaret:
- Pagas-me uma bebida ou subimos para o meu quarto?
- Com essa voz, esquece lá a bebida e passemos já ao quarto.

quarta-feira, maio 13, 2009

A pretidão do céu

(tia) - És mau.
(sobrinho) - Mau és tu.
(tia) - És preto.
(sobrinho) - Preto és tu.
(tia) - És lindo.
(sobrinho) - ...
O céu disse-lhe que o pai era preto. Mas o céu não fala, quanto muito, ouve. Mas ele insiste que o céu lhe disse que o pai era preto. Nós assentimos com os braços e avançamos com a vida. A nós não nos importa a cor da sua pele. Não nos importa mesmo. Só na medida em que sabemos que importa a outros. E que estes outros convivem com ele, não são seres resguardados na distância.
(sobrinho) - Não quero essa música. É feia. Põe Da Weasel.
(extensão de braços maternais) - Não podemos ouvir sempre música de pretos.
A escola, principalmente na primeira infância, tem de funcionar como extensão dos braços maternais e familiares. As mães não têm tempo, trabalham. Os pais não têm tempo, trabalham. E os filhos já não podem ficar entregues aos avós, pois estes também não têm tempo, trabalham. A extensão dos braços maternais e familiares não podem dar respostas como "não podemos ouvir sempre músicas de pretos."
Os pretos e os brancos. Nós e os outros. Os pretos. Os brancos. Nós. Os outros. Pretosbrancos. Nósoutros.
Já não tenho raiva, só pena dos ignorantes que vêem a vida com filtros de cor, raça, religião, etnia, estatuto social. Só pena.
A minha irmã descobriu hoje que o céu, afinal, não só fala como ouve: tem braços, pernas, boca e um cérebro de um tamanho tão mísero que lhe afecta a visão. Trabalha no sítio da extensão dos braços maternais e familiares e chama-se... imagine-se... CÉU!

quarta-feira, abril 29, 2009

Time to work

Três pessoas reunem-se à volta de uma mesa. O pretexto? Assuntos de extrema importância.
Um vodka com maracujá para os três.
Discutem-se banalidades informais como a probablidade de um crash económico definitivo se a Polónia colapsar.
A ementa e a decisão pronta: peixinho-espada preto com banana frita, por favor.
Uma garrafa de vinho tinto: Quinta Maria do Carmo (existe? se não existir seria qualquer coisa parecida e igulmente cara).
Avançam-se outras coloquialidades para despistar o stress. O Almeida Santos entra e senta-se com o seu séquito. A sala está repleta de gente engravatada, com os bolsos cheios de urgências laborais. E daqui a nada, com o sangue regado de vinho e vodka.
A conversa deriva de aeroportos, de medo de voar para o facto do Drácula ser húngaro e não romeno. Filhos da puta dos romenos que se abarbataram da figura draculiana.
O meu amigo X e o meu amigo Y, todos importantíssimos e em cargos de fina posição, disseram-me isto e aquilo e mais uns quaisquer blá-blá-blá.
Os copos de vodka despachados. Falta ainda a garrafa de vinho.
O Jardim, se não fosse a querela com o Sócrates, já tinha abandonado o governo: O QUÊ?????
Avancemos, ah e tal que os acorianos são uns lentos e uns incapazes que vivem à custa dos nossos impostos. Lá não há estábulos para as vacas, não é preciso. Há filas de trânsito porque o pessoal pára no meio da via para ir beber café: ahahahahahahahah - foda-se, o riso é estridente e eu não aguento mais tanta demonstração de snobismo, racismo, homofobia e lisboacentrismo, por isso, faço um shut down ao cérebro.
O que se passou depois?
Não faço ideia. E ainda bem.

quinta-feira, março 19, 2009

Amar... livros

É como quando trocamos olhares com alguém pela primeira vez: a mesma ansiedade, a mesma compulsão para o toque, para ver e ser visto, a mesma capacidade para ignorar tudo o que existe à nossa volta, a mesma necessidade do cheiro, de sentir aquele cheiro único, próprio, a mesma vontade de o desnudar à nossa frente e fazermos amor com ele irrepetidas vezes, até à saciedade, à fartura, à lassidão: até que o seu corpo inexista e se torne o nosso corpo.
É assim de cada vez que olho para o livro que estou prestes a iniciar. Enquanto não devoro as folhas e me alimento das palavras que as compõem, limito-me a olhar para ele e a desejá-lo intensamente.
O meu próximo livro chama-se Somos o Esquecimento Que Seremos (El Olvido Que Seremos - no título original) e, para mim, nesta fase, não há outro que me apeteça tanto como este: eu bem digo, como aqueles olhos com quem trocamos olhares pela primeira vez. O seu autor é colombiano e chama-se Héctor Abad Faciolince.
Verdade seja dita, nem aos livros sou fiel. Sou incapaz de ler apenas um. Há sempre vários na minha cabeceira, ainda que normalmente vagueie entre dois deles. Como os Sinais de Fogo, do Jorge de Sena, é um romance altamente introspectivo, difícil de ler; intrometo-me nas páginas de outros, para que o regresso ao original seja mais intenso e dedicado.
Ainda me vem o tal papa não-sei-quantos pregar à fidelidade e à abstinência, recusando o benefício dos preservativos na contenção do HIV.
Não fossem os preservativos, já eu tinha parido não sei quantos livros-bebés à custa de tanta infidelidade literária. E depois quem os sustentaria? O tal papa não-sei-quantos? Que deve saber tanto de crianças, de fidelidade, de HIV e de pobreza como de abstinência.
E por que não se abstém ele e a Igreja Católica de fazer comentários totalmente absurdos e em desacordo com o mundo actual?
Eu digo: a infidelidade é uma certeza e a abstinência uma violência.