quinta-feira, agosto 28, 2008

Saramago e a fila para o café (com ou sem vírgula?!)

Na fila para o pequeno-almoço, hoje cedo, enquanto pensava no meu chá e na minha torrada que estava prestes a degustar; falava-se, atrás de mim, sobre o acordo ortográfico e nas diferenças abissais existentes entre a Língua Portuguesa, falada em Portugal e a falada no Brasil. Como é óbvio, as minhas antenas puseram-se imediatamente à escuta - sim, se as duas senhoras estivessem dedicadas a discursar sobre as suas vidas privadas, os meus ouvidos desligariam automaticamente; se há coisa que me angustia, é ouvir falar sobre a vida de quem não me importa para nada.
Minutos depois - a fila estava extensa nesta manhã de Agosto - a conversa estendeu-se a um outro tema que me interessa igualmente: Saramago. Aproveito desde já para esclarecer que não sou leitora assídua, nem apaixonada, de Saramago. De tudo o que li (poesia incluída), gostei do Ensaio Sobre a Cegueira - que ainda não terminei; o livro está lá, à espera que eu tenha coragem de passar a fase das violações em massa - e mais ainda de O Conto da Ilha Desconhecida. Contudo, há comentários sobre a sua obra que me deixam indignada. Assim que as duas senhoras começaram a discursar sobre a falta de pontuação nos textos de Saramago, apeteceu-me dizer-lhes (mas não disse) que antes de expressarem uma opinião sobre um autor ou livro é obrigatório que cumpram a regra básica: lê-lo. Quem lê Saramago sabe perfeitamente ao que me refiro. Dizer que o autor não usa pontuação - segundo as ditas senhoras porque "tem medo de que ela lhe atrapalhe o pensamento" - é, basicamente, sucumbir ao cliché que adoptaram os seus não-leitores. Só um não-leitor dirá que o autor não usa pontuação. Não vou entrar em pormenores técnicos para não aborrecer-vos, mas quero apenas que atentem num excerto do conto que mencionei em cima:

Contudo, no caso do homem que queria um barco, as coisas não se passaram bem assim. Quando a mulher da limpeza lhe perguntou pela nesga da porta, Que é que tu queres, o homem, em lugar de pedir, como era o costume de todos, um título, uma condecoração, ou simplesmente dinheiro, respondeu, Quero falar ao rei, Já sabes que o rei não pode vir, está na porta dos obséquios, respondeu a mulher, Pois então vai lá dizer-lhe que não saio daqui até que ele venha, pessoalmente, saber o que quero, rematou o homem, e deitou-se ao comprido no limiar, tapando-se com a manta por causa do frio.

José Saramago, O Conto da Ilha Desconhecida
Este excerto exemplifica na perfeição as considerações que farei a seguir. É importante perceber que os autores necessitam, na sua jornada, de encontrar uma voz própria para contar as suas histórias. A literatura de hoje obriga à sustentanção da originalidade. Saramago, depois de dominar as regras dos sinais de pontuação, transmuda-as e adapta-as ao seu estilo pessoal: subvertendo a norma. À semelhança do que faz Mia Couto com as palavras que recria; ou José Luís Peixoto na forma como suspende e retoma as narrativas.
No excerto que escolhi, percebe-se como Saramago potencia o uso da vírgula, ela chega a substituir os dois pontos e o travessão - usados normalmente para introduzir o discurso directo - e até o ponto final. É certo que isto, ao início, pode fazer-nos alguma confusão, pois a leitura não flui como poderia. Todavia, é errado insistir no pressuposto de que o autor não pontua os seus textos; ele fá-lo, isso sim, de forma não convencionada, como se a sua intenção fosse a de aproximar o discurso escrito ao oral.
Eu queria ter dito exactamente isto que agora escrevo às duas senhoras (mas não disse).

quarta-feira, agosto 27, 2008

FALA COMIGO

Por que há momentos em que as palavras, apesar de ardentemente desejadas, não sabem de cor o que deviam dizer; por que há momentos em que a felicidade não é o que procuras, mas é o que acabas por alcançar; por que há momentos em que o silêncio arrasta mais sentidos do que todas as palavras existentes, e as por descobrir também; por que há momentos em que a tua pele sabe à pele de outros; por que há momentos em que o receio (é que ter receio é ter medo em doses menores, disseram-me) se torna menos importante do que tocar nos lábios de alguém; por que há momentos em que partilhar significa rir nas dobras do tempo, ao mesmo tempo; e um pijama branco e velho se transforma, melhor, te transforma numa personagem de contos de fadas; só por isso vale a pena a pena dizer-te: Fala comigo!


Ou então não fales comigo, mas contigo. Ao mesmo tempo, ouve esta música (tens de ouvi-la bem alto) e lembra-te que a vida só se vive uma vez - e é esta!

Brandi Carlile, The Story
All of these lines across my face
Tell you the story of who I am
So many stories of where I've been
And how I got to where I am
But these stories don't mean anything
When you've got no one to tell them to
It's true... I was made for you
I climbed across the mountain tops
Swam all across the ocean blue
I crossed all the lines and I broke all the rules
But baby I broke them all for you
Oh because even when I was flat broke
You made me feel like a million bucks
You do and I was made for you
You see the smile that's on my mouth
It's hiding the words that don't come out
And all of my friends who think that I'm blessed
They don't know my head is a mess
No, they don't know who I really am
And they don't know what I've been through like you do
And I was made for you.
All of these lines across my face
Tell you the story of who I am
So many stories of where I've been
And how I got to where I am
But these stories don't mean anything
When you've got no one to tell them to
It's true... I was made for you
Ohh yea it's true... that I was made for you

terça-feira, agosto 26, 2008

Sisters like no others

http://www.youtube.com/watch?v=_NQobRrZhvo

É engraçado que, dias após ter escrito um texto sobre mim e a minha irmã, por ocasião do seu aniversário, tenha assistido a um filme que retrata precisamente a relação complexa entre duas irmãs. O realizador de Margot at the Wedding (Margot e o Casamento, em português) é Noah Baumbach - realizador de A Lula e a Baleia - e os protagonistas são Nicole Kidman (Margot), Jennifer Jason Leigh (Pauline) e Jack Black (Malcolm). Com este elenco poderoso, talvez não fosse necessário aprofundar demasiado o tema.

Apesar do filme não ser "demolidor", é cru na forma como desfolha a relação caótica, exasperante e, por isso, sincera, de Pauline e Margot.

Podemos ser levados a pensar que as relações sanguíneas bastam para garantir os laços de amor entre as pessoas e que os irmãos se defendem e se amam porque é assim que está estabelecido (só desconheço onde). O que o filme prova, assim como o meu texto, é que as relações entre seres humanos nunca são o que deveriam; muito menos entre irmãos, sobretudo entre mulheres.

O que se passa entre mim e a minha irmã, ou entre Margot e Pauline, é que competimos a toda a hora para provarmos a nossa diferença e no quanto essa diferença nos torna superiores uma à outra. O ódio e o amor na nossa relação, como na delas, coexiste e podemos passar de um ao outro num piscar de olhos.

Margot é escritora. Pauline é "dona de casa". Margot tem um casamento falhado com um escritor falhado. Pauline prepara-se para casar pela segunda vez, o seu noivo é Malcolm, um artista que não ganha dinheiro nem com a música nem com a pintura. Margot é mãe de Claude. Pauline é mãe de Ingrid. Margot diz sempre o que pensa, mesmo que isso fira os outros de morte - a maior vítima da sua verdade é o próprio filho:


Claude: Are you stoned, mom?

Margot: Maybe a little.

Claude: I don't like it.


Pauline é doce, mas insegura. Na relação com a irmã sai sempre a perder:


Pauline: Margot told Claude something I expressly told her in confidence, and he told Ingrid. I'm stunned that she put me in this position. It's so fucking infuriating!

Malcolm: Well, it's one of those things...

Pauline: Don't say anything, OK? You know what, just be there for me, silently.

Malcolm: OK.

Pauline: Why do I have to be so careful around her, but everyone is allowed to make fun of me?


Contudo, no exacto momento em que aquelas duas mulheres ficam vulneráveis às acções dos outros - no filme, Pauline descobre que o noivo se envolveu com uma adolescente (Maisy) e Margot não tem coragem para dizer ao filho que está a pensar deixar o seu pai - apoiam-se no colo uma da outra, até porque, apesar da distância, têm ambas consciência de que ninguém conhece tanto sobre a história de cada uma.

Julgo que é isso que acontece aos irmãos: crescem num ambiente que os envolve mutuamente, mesmo que o percepcionem segundo a sua própria sensibilidade. É nas memórias partilhadas que reside aquela amizade ininterrupta e indestrutível.


Jamais me esquecerei de um dia em que estávamos a almoçar - eu, a minha irmã e o meu pai - e fomos visitados por um amigo do meu pai que tinha um tique de linguagem, a cada conjunto de palavras ditas, ele introduzia "tás a ver":

Amigo: Ó Carlos, tás a ver, vais lá ver aquilo, tás a ver, diz-me depois o que achas, tás a ver, e conversamos, tás a ver(...)


Após alguns minutos nisto, tanto eu como a minha irmã estávamos prestes a rebentar em gargalhadas, era só ouvirmos mais um "tás a ver" dito espontaneamente. O meu pai começou a aperceber-se da nossa agitação e olhou-nos como só ele sabe. Isso bastou-me para perceber que irromper numa gragalhada sonora não era aconselhável, não naquele contexto; porém, para a minha irmã (mais rebelde e mais nova), aquele olhar não a colocou de sobreaviso, por isso, pouco tempo depois, levantou-se e foi dar as gargalhadas dela para a marquise, anexa à cozinha. Aí entrei em pânico, não só continuava a ouvir aqueles "tás a ver" ditos de minuto a minuto, como passei a estar exposta às suas gargalhadas (que me aumentava ainda mais a necessidade de rir), enquanto o meu pai mantia a pose, à mesa, e olhava para mim à espera de respostas.

Ainda hoje conseguimos as duas rir daquele dia; mais, conseguimos rir como naquele dia...

Pauline: It's hard, I think, to find people in the world you love more than your family.

segunda-feira, agosto 25, 2008

Se eu pudesse

O que fazer quando nos apetece deixar a boa educação de lado e gritar na cara de alguém o quanto a desprezamos?

Tenho o grito preparado, a entoação e o tom correctos e, mais uma vez, terei de engoli-lo, o mais certo é mastigá-lo, para não correr o risco de morrer engasgada.

Um dia quebrarei as minhas próprias regras e descerei àquele nível que a minha personalidade conciliadora ignora - é que às vezes é preciso descer um nível abaixo, para subir uns acima.

Ahhhhhhhhhhhhhhh, se eu pudesse!!!!

P.S. Este texto foi objecto de uma autocensura, é por isso que só eu o compreendo. Todavia, acreditem que escrevê-lo deu-me a capacidade para calar o grito ansiado por mais uns tempos...

quinta-feira, agosto 21, 2008

Alegria e morte...

O meu avô fez 72 anos ontem. Eu e a minha irmã jantámos com ele. Com ele e com a minha avó; é preciso sublinhar que não há avó sem avô e o contrário também é verdade. Cantámos os parabéns a quatro vozes.
O sr. que me vendeu o bolo faz anos em Outubro: 69 anos, disse-me ele, com um sorriso nos lábios, segurando a dentadura. A minha avó e o meu avô ainda dão as mãos e um ou outro beijo na boca.
A esta hora, em Espanha, as equipas de salvamento resgatavam pedaços de corpos carbonizados do chão do aeroporto.
Enquanto eu e a minha irmã dizíamos ao meu avô que ele é o melhor do mundo; familiares aguardavam pela esperança nos bancos desconfortáveis dos aeroportos de Barajas e Las Palmas.
O meu avô fez ontem 72 anos (e enquanto lhe tocava nas mãos, pensava em quantas mais oportunidades teria para oferecer-lhe bolos de aniversário...); neste dia, dois bebés morreram, pois encontravam-se entre os passageiros do JK 5022.
Ao mesmo tempo que o meu avô resplandecia na beleza dos seus recentes 72 anos, houve lágrimas, tristeza e dor nos olhos de gente que se estendia pelos terrenos de Barajas.
A vida é ou não é fodid...?!?

...






PASSENGER LIST JK 5022 20AUG08
TIME: 1520 LT
NAMES
--------------------------------------------------------------------------------ROUTE MADLPA
MEDINAVEGA/YAIZA
ACOSTAMENDIOLA/ALFREDO JESUS
ACOSTASIERRA/ALFREDO ALFONSO
DOMINGUEZPEREZ/ISABEL
GONZALEZCABANAS/MARIA LORETO
HERNANDEZGIL/MARCO
MARTINDOMINGUEZ/CRISTIAN
MARTINPEREZ/MANUEL
MENDIOLARODRIGUEZ/GREGORIA
ORTEGA/LEANDRO
VIDALRODRIGUEZ/RAFAEL
AFONSOMARRERO/PEDRO PABLO
AFONSOSOSA/JORGE
AFONSOSOSA/MIGUEL
ALCAZAR/MARIA DE LAS NIEVES
ALCAZARASENSIO/INMACULADA
ALCAZARJIMENEZ/JOSE
ALONSOALONSO/JOSE
ALONSOFILLOY/AMALIA
ALONSOFILLOY/MARIA
ALVARADO/OSCAR GABRIEL
ALVARADO/ROBERTO
ALVARADO/ROBERTO ALEXANDRE
ALVAREZCARRETERO/MARIA
ALVAREZCARRETERO/ROBERTO
ANDRACAGOLZARRI/BEGONIA
ANDRAKAGOLZARRI/ISABEL
ASENSIOCHAVES/MARIA VICTORIA
BACHO/MUKESHMANI
BARBOSARAMIREZ/ELSA
BERNAOLAITURBE/MIGUEL
BETANCORSANCHEZ/VERONICA
BORGE/ESPERANZA
CABALLERO/DAVID
CARPINTERORUIZ/ANGELES
CELISDIBOWSKY/YANINA
CHARILAS/PIERRICK
CHARILAS/ETHAN
CIPRIAN/CARMEN
CONEJO/SARA
CONTRERASBAEZA/MARIA GEMA
CORTESCABRERO/NIEVES
DELARIVA/SERGIO
DELGADOESTEVEZ/LIDIA
DELGADOCORCOBADO/CARLOS
DIAWARA/DEMBA
DIAZGONZALEZ/CLARA
DIAZMENDOZA/MARIA DEL PINO
DIEPALEON/MONICA
DOMIGUEZORTIZ/CRISTINA
DOMINGUEZ/ISAAC + INF
DOMINGUEZMELIAN/ALICIA
DOMINGUEZMELIAN/ARACELI
ERDIL/MUSTAFA
ESTEBANCONTRERAS/LAIA
ESTEVEZGONZALEZ/MARIA LUISA
FALCONDENIZ/AYOZE JAVIER
FERNANDEZ/JULIANA
FERRONOLMEDO/FERNANDO
FILLOYSEGOVIA/AMALIA
FLORESGARCIA/ANA GEMA
FLORESGARCIA/JOSE PABLO
FONTRODRIGUEZ/MARIA JESUS
FORTANNERNOU/MA DEL CARMEN SOFIA
GALLARDO/TAMARA
GALLEGOORTEGA/ANA
GALLEGOORTEGA/CRISTINA
GARCIAHERNANDEZ/CARLOS
GARCIAFERNANDEZ/MARIA RESURRECCION
GARCIAHERNANDEZ/ELENA
GARCIAMARTIN/LAUDENCIO
GARCIADELCARPIOROMERO/JOSE MANUEL
GARCIASANCHEZ/ANTONIO
GARCIA/MARIANO
GOMESSILVA/RONALDO
GOMEZ/CECILIA
GONZALEZDIAZ/PEDROANGEL
GONZALEZFERREIRA/PIL
HERNANDEZ/ABENAUARA
HERNANGOMEZ/PEDRO
HERNANDEZ/ZENAIDA DEL PINO
HERNANDEZ/SIOMARA + INF.
HERNANDEZ TANAUSU
HERNANDEZGUEDES/LUCRECIA
HERNANDEZMARTIN/MARIA TERESA
HERRAEZNOGUERAS/CARLOS
HULT/ANNMARIE
IBANEZSANCHEZ/BETSABE
JULIHENRIQ/AGUSTIN
JULIHENRIQ/MANUEL
LOPEZDUQUE/PILAR
MARQUEZVALLE/PILAR
MARTEL/MANUEL
MARTIN/MONICA
MARTINCONSUEGRAPENA/CRISTINA
MARTINEZCONDE/MERCEDES
MENDOZAMARCIAL/ANGEL JOSE
MOLINORODRIGUEZ/TELESFORO
MORALES/MA TERESA
MORENOPEREZ/RAFAEL
MORILLOPEREZ/PATRICIA
MROTZEK/CLAUDIA
MROTZEK/GERD
MROTZEK/LUCAS
MROTZEK/NIKLAS
MURIANALOPEZ/JUAN
MURIANAMARTINEZ/MERCEDES
NARANJO/JORGE
NARANJO/JORGE
NARANJO/RAQUEL
NODAPENA/FAYNA ELIZABETH
NORIEGAREY/SERGIO
NORIEGAREY/VICTOR
NORIEGARICO/MARIO
NUNEZ/FRANCISCO JAVIER
NUNEZ/MARIA
NUNEZPIRETTI/EUGENIA
NUNEZPIRETTI/JORGE
OJEDAPEREZ/CLAUDIO MANUEL
ORTEGASANCHEZ/M CARMEN
ORTEGADELACRUZ/GABRIEL
OSPINA/GLADYS
PALOMINORIVEROS/LIGIA
PAYERAS/DANIEL
PEREZDEOBANOSLISO/JOSE JOAQUIN
PLACERESPEREZ/INES
PRADOS/BALDOMERO
PRADOS/IGNACIO
PRADOS/JOSE FRANCISCO
PUYECEESAY/MUSTAPHA PAGANNA
PUYEFORTANER/SIRA
RAMIREZGONZALEZ/MARIA LOURDES
RAMIREZRODRIGUEZ/JOSE
REITZSAAVEDRA/ESTHER MARIA
REYESOJEDA/MARIA BEATRIZ
REYMURILLO/MARIA LUISA
RISO/DOMENICO
RIVEROSUAREZ/RAYCO
ROBAINASUAREZ/JOSE VICENTE
RODRIGUEZDAVILA/HONORIO
ROJOROSA/M CARMEN
RONDONUWU/NGUNI TOKA
SANCHEZ/PABLO ENRIQUE
SANCHEZBERNAL/TOMAS
SANCHEZORTIZ/MARIA DEL CARMEN
SANCHEZPEREZ/RUBEN DANIEL
SANGRADOR/JORGE
SANTANACASTILLO/CARMEN ISABEL
SANTANAMATEO/RUBEN
SOSAHERNANDEZ/MARIA DEL CARMEN
STANIMIROVA/ANTOANET
STEFANIDES/ANNA MAIJA
SUAREZESTEVEZ/JAVIER SEBASTIAN
TATEPEREZ/KIM YVONNE
VALLEJOJUNCO/M DEL CARMEN
VALLESMARCOS/FRANCISCO JAVIER
VERANESPEREIRA/ANAM
VILLANUEVAMARTIN/ALEJANDRO
VILLANUEVASANTANA/ALEJANDRO
VILLANUEVASANTANA/DARA
VILLANUEVASANTANA/KEILA

quarta-feira, agosto 20, 2008

Medo de ser IRRESPONSÁVEL


Estou com uma vontade louca de ser totalmente irresponsável. Sinto-me extenuada intelectualmente, já para não falar fisicamente. Isto de mudar de um emprego para outro sem fazer uma lavagem espiritual pelo meio não é benéfico. É por isso que neste momento, neste agora que inauguro enquanto escrevo a palavra "agora", me apetecia correr de mim para fora, esquecer as minhas mil e uma responsabilidades e dedicar-me inteiramente a ver-me passear pelo tempo.

Se fosse completamente irresponsável, estava agora a fazer o que mais me apetece: terminar a leitura do belíssimo livro A Sombra do Vento. Se eu fosse o que não sou, andava a vaguear pelas ruas de Barcelona, essas ruas que só existem nas páginas do livro de Zafón. E naquele livro, mais do que saber o que aconteceu a Carax, quero descobrir em quem se tornará Daniel.



Vejo daqui uma palmeira e imagino o que seria se nela habitasse uma ave e se eu pudesse escutar o seu canto. Aquela palmeira que eu vejo encontra-se perdida entre estruturas de cimento (ou pedra?) e está ali para que eu me lembre (sim, ela está ali só por causa de mim) que a vida é uma palmeira perdida entre estruturas de cimento. O segredo - se é que existe um - é tentar ignorar as estruturas e encontrar o caminho até à palmeira.


Bem... a Sombra do Vento não está aqui comigo, aguarda-me em casa. Não vale a pena estar a pensar em coisas que me apetecia fazer se a irresponsabilidade fosse uma característica ao meu alcance; não é. Só consegue ser irresponsável quem não tem medo do amanhã, seja ele qual for. E eu tenho. Sinto medo de todos os amanhãs que me aguardam.

terça-feira, agosto 19, 2008

Só para ti

PARABÉNS, MANA

Ela gosta de piscinas. Eu gosto de mar. Ela limpa a areia do corpo pois incomoda-a. Eu enrolo-me na areia, pois aquece-me. Ele come toblerones, devora-os. Eu prefiro chocolate Milka. Ele bebe leite como quem bebe água e saboreia o café devagar; eu bebo água como devia beber leite e derreto-me por uma chávena de chá. Ela ouve D. Kikas e Da Weasel de sorriso aberto e cheia de ginga no corpo. Eu oiço Souad Massi e Mariza, que ela detesta. Ela não gosta que os meus amigos lhe digam que ela é tão diferente de mim. Eu gosto que os meus amigos percebam a nossa diferença. Ela chora e ri simultaneamente. Eu choro nos dias tristes e rio em todos os outros. Ela ri alto. Eu rio para o alto. Ela diz "amo-te" com a mesma facilidade com que sente o que diz. Eu escondo os "amo-tes" com a mesma facilidade com que os sinto. Ela convenceu-se de que o mundo está contra ela. Eu asseguro-me de que o mundo está aí para mim. Ela lê Paulo Coelho, entende-o e respeita-o. Eu desprezo-o (com a certeza de que a ignorância sobre o que ele escreve é total) e dedico-me a ler Carlos Ruiz Zafón. Ela sabe da existência de um Deus (o dela), eu renuncio à constatação da Sua existência. Ela diz o que pensa sobre as pessoas, eu digo o que gostaria de pensar sobre elas. Ela é meiga e doce na sua bravura; eu nem sei o que bravura significa. Ela é mordaz na sua inteligência; eu sou voraz na falta dela. Os seus abraços permanecem na nossa pele tempo indefinido; a minha pele perde-se nos abraços. A força da sua voz enfraquece-nos a alma, do lado dela, somos infinitamente pequenos. A força da minha alma enfraquece-me a voz e, do meu lado, as pessoas parecem maiores do que são. Ela faz-me rir. Eu a ela eventualmente. Ela não come batatas assadas, eu prefiro-as às fritas. Ela é a menina do papá. Eu a da mamã. Ela perde horas a olhar para a lua, a fazer Reiki e a acreditar que a meditação fa-la-á ser melhor pessoa. Eu gostava de poder olhar para o sol sem chorar e acreditar que um dia os meus chakras entrarão em equilíbrio sem sequer eu saber o significado de chackras. Ela despreza a depilação com cera, a manicure e a pedicura, eu não as dispenso. Ela sabe que ser mulher é qualquer coisa que existe para lá de qualquer artifício. Eu sei que ser mulher se consubstancia nesses artifícios. Ela goza com a forma como a minha voz se transforma ao telefone. Eu delicio-me a vê-la dançar kizomba, morna, batuque e tudo o que tenha África inscrito. Ela busca África na música. Eu na literatura. Ela é a melhor mãe do mundo. Eu desejaria sê-lo. Ela ama o filho como ninguém. Eu amo o meu filho como ninguém. Ela tem voz de anjo quando canta. Os anjos fogem quando me ouvem cantar, ou fugiriam, se os houvesse. Ela é mais nova do que eu três anos, três meses, três dias e não sei quantas horas (eu não me lembro, mas ela sabe-o, com certeza). Ela inventa memórias da nossa infância. Eu tenho as minhas próprias. Ela discute comigo. Eu discuto com ela. Ela gosta de mim como ninguém poderá um dia gostar. Eu gosto dela como ninguém poderá. Ela é minha irmã há 29 anos. E eu não me lembro de mim sem me lembrar dela. Ela é diferente, sim. Somos como duas flores nascidas da mesma planta, só que temos sabor e cores diferentes; todavia, não deixamos de ser as duas flores da mesma planta. Ela sou eu com outro gesto e outra substância; eu sou ela com outra forma e jeito de ser. Somos ambas mulheres e mães, mas somos sobretudo amigas que discutem com a convicção de que podem tornar o munda da outra mais respirável, mais habitável. Não é uma relação pacífica, só que ela sabe e eu sei que seríamos miseráveis sem o amor uma da outra. Aliás, ela sabe e eu sei que uma com a outra somos mais capazes.


P.S. Este texto é só para ti!

segunda-feira, agosto 18, 2008

O relógio, o tempo, a família

Estava ontem a chegar a casa, quando reparei num outdoor com a informação da festa do Avante; pensei quase automaticamente: "Ainda não retiraram esta informação desde o ano passado?!" Ao mesmo tempo que me intrigava com a lentidão dos serviços municipais, na mudança e actualização dos outdoors, reparei que, afinal, sem que eu tivesse dado por isso, a festa do Avante reportava-se ao ano 2008, aquele em que nos encontramos agora. Conclusão? Estou a envelhecer. O tempo já não tem a mesma medida de outrora. Quando eu era uma menina de olhos grandes e doces, o tempo era maior do que eu e a minha ambição resumia-se aos 18 anos, que me pareciam escapar dos dedos ou entre os dedos. Aliás, os meus dedos já não chegam para indicar a minha idade, preciso de ajuda extra. E com uma mãozinha também não vou lá. Mas com duas... ajeita-se a coisa.
Não pensei que a juventude fosse a minha pele para a vida inteira; contudo, assusta-me saber que o meu processo de envelhecimento implica outros, mais antigos do que o meu. Não me apetece nada pensar que terei de abdicar (sim, pensamento muito pouco altruísta) de determinadas pessoas que existem comigo há demasiado tempo. Tenho a certeza de que perdê-las será perder uma parte de mim, talvez a mais bonita. Pergunto-me... o que serei eu sem elas? O que serei eu sem a minha avó a dizer-me (ainda hoje o faz) para ter cuidado quando saio? Sem o meu avô a repetir-me nomes de actores que já ninguém se lembra? Da minha mãe a perguntar-me mil vezes pelo neto? Do meu pai a "queixar-se" da minha ingenuidade?
Não sei o que serei, porém, sei que desejo ter a capacidade para ser a minha avó a tomar conta da casa, o meu avô sentado a ver todos os filmes, a minha mãe na dedicação à família e o meu pai na gerência do que poderia ter sido, mas não foi.
Eu com eles sou mais eles e, por isso, mais eu!

quarta-feira, agosto 13, 2008

"A Kiss is Just a Kiss"

"A única linguagem verdadeira no mundo é o beijo."

Alfred de Musset




Klimt, The Kiss


Invenção antiga; aliás, como tudo o que realmente importa. O beijo é definido no dicionário como o acto de poisar os lábios em algum ser ou coisa em sinal de amor, afeição ou veneração. A palavra tem a sua origem no vocábulo latino basium.


A leitura do beijo não é simples, nem pacífica. Há que ter em atenção as variantes sócio-culturais que lhe atribuem uma infinidade de propósitos. Por exemplo, em França, no século XV, os nobres estavam autorizados a beijar qualquer mulher; já em Itália, se um homem beijasse uma mulher em público teria obrigatoriamente de casar com ela. Na Rússia, os homens cumprimentam-se com um beijo na boca. Em Portugal, trocam-se dois beijos no rosto (ou apenas um, se a morada corresponder a Cascais ou à Lapa; e se não corresponder, age-se como se correpondesse!). Os reis recebiam um beijo na mão. Já os esquimós beijam-se roçando o nariz no nariz do outro.
Por que estou eu com esta conversa toda?
Eu explico.
Apercebi-me de que o beijo, além de todas as matizes culturais e de intencionalidade que possui, significa coisas diferentes ao longo do nosso crescimento; não só para nós próprios como para quem nos beija. Assim, aos 12 anos, os beijos traziam consigo o prazer da experimentação inocente e despreocupada com o "depois". Nenhuma amiga pensou estar grávida por ter beijado alguém na boca, esses mitos urbanos existiam (sim, e continuam a existir) apenas nas páginas do consultório do amor da revista Maria. Aos 20, os beijos que se trocavam já faziam parte de uma relação adulta e, supostamente, funcionavam como a consagração de um amor sincero, que duraria para sempre. Chegados aos 3o, beijar alguém pode não significar um acto simples e descomplexado, que aos 12 ainda era possível. O "depois" chega a impor-se ao "antes"; às vezes, ainda nem sequer se tocou nos lábios do outro e já as permissas do "eh, pá, eu não estou apaixonado por ti", ou "eu não quero namoradas/os", assim como "estou numa fase complicada", nos atingem vorazmente sem que possamos usufruir do gesto que exige a movimentação de 29 músculos; que acelera os batimentos cardíacos, que vão de 60 a 150 por minuto, e que gasta em média 12 calorias. Isto para não falar das implicações emocionais envolvidas e que, em príncipio, oferecem uma enorme sensação de bem-estar.


Vamos lá ver se esclarecemos umas coisas; um beijo é apenas um beijo, os significados que se lhe atribui dependem de inúmeros factores. Agora, uma pessoa saudável não pressupõe que o beijo é um sinal claro de enamoramento ou um pedido de compromisso para a vida. Colocar sinais proibidos em territórios que nos propomos começar a explorar é ou não é ridículo?
É como se estivéssemos às portas da floresta amazónica, vestidos com calções e camisa do Coronel Tapioca, levando às costas a mochila com os acessórios que nos vão ajudar a descobrir um local mágico e ter uma cancela que nos proíbe de entrar. Eu sei que agora está na moda essa coisa da sinceridade. "Ah... digo-te isto porque quero ser sincero/a contigo." Vá lá... Estamos a enganar quem? Dizer que não se está apaixonado por alguém que acabámos de beijar ou referir que não estamos com vontade de namorar tem muito pouco a ver com necessidade de ser sincero. Sincero com quem? Consigo mesmo? Alguém pediu/exigiu essa sinceridade? Cá para mim tem a ver, isso sim, com a necessidade de desresponsabilização. Só que, deixem-me dizer, ninguém beija ninguém sem que esse acto acarrete um compromisso. Mesmo que ele dure apenas os breves momentos em que os lábios se mantêm unidos.
Como diria a música da banda sonora de Casablanca http://www.youtube.com/watch?v=F_bMFVDu9yo:

"You must remember this:
A kiss is just a kiss, a sigh is just a sigh.
The fundamental things apply
As time goes by.
And when two lovers woo, they still say "I love you,"
On that you can rely, no matter what the future brings,
As time goes by . . .
Moonlight an' love songs never out of date,
Hearts full of passion, jealousy an' hate,
Woman needs man and man must have his mate,
That no one can deny . . .
It's still the same old story, a fight for love an' glory,
A case of do or die, the world will always welcome lovers,
As time goes by . . . "

terça-feira, agosto 12, 2008

Shiuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu!

Resta dizer que vi o filme ao lado do silêncio (e que bem que me soube), que me sussurrou ao ouvido, só para que o silêncio fosse mais silencioso ainda: "It is better to keep your mouth closed and let people think you are a fool than to open it and remove all doubt." - Mark Twain

Dark Ledger



Não, não, não, não. O filme Dark Night, realizado por Christopher Nolan e sequela de Batman Begins, não me merece um comentário porque tem no elenco Heath Ledger. Ele merece-me um comentário porque, morto ou não (isso acaba por ser um pormenor que alimenta apenas os "abutres" do acessório), Heath fez de Jocker a melhor personagem do filme (de todos os filmes da série). A mais coerente. A mais equilibrada. A mais sincera. Isto, numa película, onde todas as personagens são mais do que boas. Não me surpreendeu. Já em Monter's Ball (2001) percebi que este actor tinha a capacidade de fazer o complexo parecer simples; percebi mesmo antes, quando, em The Patriot (2000), foi um Gabriel mais homem do que anjo. Por tudo isto, a sua personagem em Brockeback Mountain (2005) - Ennis del Mar -, trouxe-me tão só a confirmação do que eu suspeitava: Heath Ledger era um actor com alma.
Dark Night é um filme noir, não apenas estilisticamente, mas cromaticamente. O único vislumbre de luz aparece nas cenas em que participa Jocker e o branco-choque do rosto que esconde; ou que desvenda?! Tenho cá para mim que ele usa aquela máscara de tinta com o único propósito de revelar aquilo que realmente é. O que esperar de alguém que parece um monstro e age como um: monstruosidades?! Uma coisa é certa, ninguém poderá acusá-lo de defraudar expectativas; que é, afinal, o conflito interior que perturba os grandes heróis (sou ou não sou aquilo que os outros esperam que eu seja?), desde Batman a Spider Man, que, no fim de contas, os torna vulneráveis e falíveis. Jocker não erra. O seu mundo é o caos: "I choose chaos."



O mais assustador é que o desequílibrio e a maldade nele são tão viscerais que causam no espectador a higienização da sua loucura; para nós, ele chega a ser o único que possui a sabedoria total: "I'll show you: I now the truth", provando que as margens da bondade e da maldade são meramente ilusórias; o Homem pode ter os pés numa ou noutra, consoante as circustâncias lho exijam: "You either die a heroe or you live long enough to see yourself become a villain."

Heath morreu ainda com idade suficiente para se tornar um herói; o tempo encarregar-se-á disso mesmo. Não me parece mal de todo, uma vez que James Dean e Marilyn Monroe são uns desconhecidos para as gerações que acreditam que a televisão existiu sempre e que o Michael Jackson foi branco a vida inteira...

terça-feira, agosto 05, 2008

Da quantidade do amor

É frequente encontrar pessoas que me falam da sua incapacidade para perceber o que sentem por outras pessoas com quem se relacionam; e que a percepção sobre a intensidade (ou não) dos seus sentimentos apenas se efectiva quando a perda se torna inevitável ou irreversível. Já eu não costumo precisar desses artifícios para determinar o amor que sinto por alguém. A mim basta-me processar os ínfimos sinais que me são concedidos na vivência dos dias e das noites.
Hoje, por exemplo, eram 06.30 da manhã e já eu me rebolava na cama, com dificuldade em manter os olhos fechados. Acordei porque me debatia com um pesadelo violentíssimo: o Rodrigo tinha desaparecido na praia. As educadoras e os colegas que com ele partilhavam as actividades de tempos livres, numa escola qualquer, regressavam , mas nem sequer se tinham apercebido da ausência do Rodrigo.
É-me impossível descrever com finura os sentimentos experimentados naqueles segundos de vivência. O vazio provocado pelo facto do meu filho não ter regressado com os outros, como seria expectável, a claustrofobia que me assolou de repente, impedindo-me de respirar, a ansiedade que me constrangia o corpo e me limitava o raciocínio e, pior, o nome dele ecoado na voz daqueles que, como eu, o amam para lá de qualquer limite, trouxe-me de uma vez só a medida para determinar o quanto ele é importante na minha vida. Aqueles instantes, ou micro-instantes, foram tão reais para mim como estes que agora uso para teclar no computador as palavras que outros lerão mais tarde. Para mim, ficou bem explícito que o amor que sinto pelo Rodrigo não é mensurável pelas medidas comuns. O amor que sinto por ele engloba os quilos, os metros, os litros, os quilómetros e todas as medidas que não consigo definir.
Mais um sinal devidamente processado.

segunda-feira, agosto 04, 2008

Errar é comigo

Sou um erro. Um erro a gostar das pessoas de que não devo. Um errro a determinar o que os outros pensam de mim. E se errar é humano, isto fará de mim a pessoa mais humana que conheço? Não creio. Essa frase serve apenas para desculpabilizar-nos e desresponsabilizar-nos em relação a uma série de atitudes que tomamos, mas que poderiam ter sido diferentes, só que, por razões que importaram naquele determinado contexto, não foram!
O meu erro é excatamente do meu tamanho e tem todas as minhas medidas. A ter um nome próprio, seria Sófi, mas os erros não precisam de nomes próprios. Costuma dizer-se igualmente que a dor que o erro provoca faz crescer. Se assim fosse, eu teria a altura dos gigantes, de tanto errar e crescer. E não me venham com histórias, é mentira que uma pessoa não cometa o mesmo erro duas vezes. Aliás, já perdi a conta aos erros que repeti inúmeras vezes e sei que continuarei a repeti-los; pensar que não o farei é, desde logo, um erro!
Posso até estar errada nas considerações que agora fiz, só que errar é a minha natureza; portanto, nada serve pensar em não fazê-lo. Os meus erros serão curtos, compridos, pontiagudos, quadrados, rectangulares, cinzentos, brancos, às flores, às riscas e terão todos a minha personalidade inscrita neles. Também haverá erros abaulados, disformes, conformes, inteiros, partidos; haverá outros que não serão meus, mas que me atingirão e, a partir daí, ganharão a minha identidade. Não é fácil ou pacífico fazer a gerência de todos estes erros: os meus e os adoptados.

Será assim tão difícil ser feliz? Ou é errado pensar que temos todos de ser felizes? Se calhar, a minha função é só errar. Se assim for, sou a melhor de todas. Bem que eu sabia que tinha de ser melhor em qualquer coisa...