É frequente encontrar pessoas que me falam da sua incapacidade para perceber o que sentem por outras pessoas com quem se relacionam; e que a percepção sobre a intensidade (ou não) dos seus sentimentos apenas se efectiva quando a perda se torna inevitável ou irreversível. Já eu não costumo precisar desses artifícios para determinar o amor que sinto por alguém. A mim basta-me processar os ínfimos sinais que me são concedidos na vivência dos dias e das noites.
Hoje, por exemplo, eram 06.30 da manhã e já eu me rebolava na cama, com dificuldade em manter os olhos fechados. Acordei porque me debatia com um pesadelo violentíssimo: o Rodrigo tinha desaparecido na praia. As educadoras e os colegas que com ele partilhavam as actividades de tempos livres, numa escola qualquer, regressavam , mas nem sequer se tinham apercebido da ausência do Rodrigo.
É-me impossível descrever com finura os sentimentos experimentados naqueles segundos de vivência. O vazio provocado pelo facto do meu filho não ter regressado com os outros, como seria expectável, a claustrofobia que me assolou de repente, impedindo-me de respirar, a ansiedade que me constrangia o corpo e me limitava o raciocínio e, pior, o nome dele ecoado na voz daqueles que, como eu, o amam para lá de qualquer limite, trouxe-me de uma vez só a medida para determinar o quanto ele é importante na minha vida. Aqueles instantes, ou micro-instantes, foram tão reais para mim como estes que agora uso para teclar no computador as palavras que outros lerão mais tarde. Para mim, ficou bem explícito que o amor que sinto pelo Rodrigo não é mensurável pelas medidas comuns. O amor que sinto por ele engloba os quilos, os metros, os litros, os quilómetros e todas as medidas que não consigo definir.
Mais um sinal devidamente processado.
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