terça-feira, agosto 26, 2008

Sisters like no others

http://www.youtube.com/watch?v=_NQobRrZhvo

É engraçado que, dias após ter escrito um texto sobre mim e a minha irmã, por ocasião do seu aniversário, tenha assistido a um filme que retrata precisamente a relação complexa entre duas irmãs. O realizador de Margot at the Wedding (Margot e o Casamento, em português) é Noah Baumbach - realizador de A Lula e a Baleia - e os protagonistas são Nicole Kidman (Margot), Jennifer Jason Leigh (Pauline) e Jack Black (Malcolm). Com este elenco poderoso, talvez não fosse necessário aprofundar demasiado o tema.

Apesar do filme não ser "demolidor", é cru na forma como desfolha a relação caótica, exasperante e, por isso, sincera, de Pauline e Margot.

Podemos ser levados a pensar que as relações sanguíneas bastam para garantir os laços de amor entre as pessoas e que os irmãos se defendem e se amam porque é assim que está estabelecido (só desconheço onde). O que o filme prova, assim como o meu texto, é que as relações entre seres humanos nunca são o que deveriam; muito menos entre irmãos, sobretudo entre mulheres.

O que se passa entre mim e a minha irmã, ou entre Margot e Pauline, é que competimos a toda a hora para provarmos a nossa diferença e no quanto essa diferença nos torna superiores uma à outra. O ódio e o amor na nossa relação, como na delas, coexiste e podemos passar de um ao outro num piscar de olhos.

Margot é escritora. Pauline é "dona de casa". Margot tem um casamento falhado com um escritor falhado. Pauline prepara-se para casar pela segunda vez, o seu noivo é Malcolm, um artista que não ganha dinheiro nem com a música nem com a pintura. Margot é mãe de Claude. Pauline é mãe de Ingrid. Margot diz sempre o que pensa, mesmo que isso fira os outros de morte - a maior vítima da sua verdade é o próprio filho:


Claude: Are you stoned, mom?

Margot: Maybe a little.

Claude: I don't like it.


Pauline é doce, mas insegura. Na relação com a irmã sai sempre a perder:


Pauline: Margot told Claude something I expressly told her in confidence, and he told Ingrid. I'm stunned that she put me in this position. It's so fucking infuriating!

Malcolm: Well, it's one of those things...

Pauline: Don't say anything, OK? You know what, just be there for me, silently.

Malcolm: OK.

Pauline: Why do I have to be so careful around her, but everyone is allowed to make fun of me?


Contudo, no exacto momento em que aquelas duas mulheres ficam vulneráveis às acções dos outros - no filme, Pauline descobre que o noivo se envolveu com uma adolescente (Maisy) e Margot não tem coragem para dizer ao filho que está a pensar deixar o seu pai - apoiam-se no colo uma da outra, até porque, apesar da distância, têm ambas consciência de que ninguém conhece tanto sobre a história de cada uma.

Julgo que é isso que acontece aos irmãos: crescem num ambiente que os envolve mutuamente, mesmo que o percepcionem segundo a sua própria sensibilidade. É nas memórias partilhadas que reside aquela amizade ininterrupta e indestrutível.


Jamais me esquecerei de um dia em que estávamos a almoçar - eu, a minha irmã e o meu pai - e fomos visitados por um amigo do meu pai que tinha um tique de linguagem, a cada conjunto de palavras ditas, ele introduzia "tás a ver":

Amigo: Ó Carlos, tás a ver, vais lá ver aquilo, tás a ver, diz-me depois o que achas, tás a ver, e conversamos, tás a ver(...)


Após alguns minutos nisto, tanto eu como a minha irmã estávamos prestes a rebentar em gargalhadas, era só ouvirmos mais um "tás a ver" dito espontaneamente. O meu pai começou a aperceber-se da nossa agitação e olhou-nos como só ele sabe. Isso bastou-me para perceber que irromper numa gragalhada sonora não era aconselhável, não naquele contexto; porém, para a minha irmã (mais rebelde e mais nova), aquele olhar não a colocou de sobreaviso, por isso, pouco tempo depois, levantou-se e foi dar as gargalhadas dela para a marquise, anexa à cozinha. Aí entrei em pânico, não só continuava a ouvir aqueles "tás a ver" ditos de minuto a minuto, como passei a estar exposta às suas gargalhadas (que me aumentava ainda mais a necessidade de rir), enquanto o meu pai mantia a pose, à mesa, e olhava para mim à espera de respostas.

Ainda hoje conseguimos as duas rir daquele dia; mais, conseguimos rir como naquele dia...

Pauline: It's hard, I think, to find people in the world you love more than your family.

3 comentários:

Anônimo disse...

Tás a ver... :) por isso é que eu não resisti... tás a ver, quem consegue conter as risadas?!? Tás a ver... ninguém...tás a ver... Ao fim de 10 "tás a ver" não há viva alma que resista... a, tás a ver, romper numa risada tal que o som das gargalhadas ecoe pelo espaço e pelo tempo... tás a ver... é ou não é bom ter uma irmã meio avariada e desinibida... e espontanea... tás a ver... ;)

Sónia disse...

Não sei se será assim tão bom ter uma irmã avariada, mas sei que é bom escrever sobre ti, ou ainda melhor, sobre nós!

Anônimo disse...

What?!?!? Não é Bom? Ah... já sei é Maravilhosos não é? Bom é muito pouco... ;)