segunda-feira, agosto 18, 2008

O relógio, o tempo, a família

Estava ontem a chegar a casa, quando reparei num outdoor com a informação da festa do Avante; pensei quase automaticamente: "Ainda não retiraram esta informação desde o ano passado?!" Ao mesmo tempo que me intrigava com a lentidão dos serviços municipais, na mudança e actualização dos outdoors, reparei que, afinal, sem que eu tivesse dado por isso, a festa do Avante reportava-se ao ano 2008, aquele em que nos encontramos agora. Conclusão? Estou a envelhecer. O tempo já não tem a mesma medida de outrora. Quando eu era uma menina de olhos grandes e doces, o tempo era maior do que eu e a minha ambição resumia-se aos 18 anos, que me pareciam escapar dos dedos ou entre os dedos. Aliás, os meus dedos já não chegam para indicar a minha idade, preciso de ajuda extra. E com uma mãozinha também não vou lá. Mas com duas... ajeita-se a coisa.
Não pensei que a juventude fosse a minha pele para a vida inteira; contudo, assusta-me saber que o meu processo de envelhecimento implica outros, mais antigos do que o meu. Não me apetece nada pensar que terei de abdicar (sim, pensamento muito pouco altruísta) de determinadas pessoas que existem comigo há demasiado tempo. Tenho a certeza de que perdê-las será perder uma parte de mim, talvez a mais bonita. Pergunto-me... o que serei eu sem elas? O que serei eu sem a minha avó a dizer-me (ainda hoje o faz) para ter cuidado quando saio? Sem o meu avô a repetir-me nomes de actores que já ninguém se lembra? Da minha mãe a perguntar-me mil vezes pelo neto? Do meu pai a "queixar-se" da minha ingenuidade?
Não sei o que serei, porém, sei que desejo ter a capacidade para ser a minha avó a tomar conta da casa, o meu avô sentado a ver todos os filmes, a minha mãe na dedicação à família e o meu pai na gerência do que poderia ter sido, mas não foi.
Eu com eles sou mais eles e, por isso, mais eu!

4 comentários:

Anônimo disse...

Ainda ontem quando observava a vitória da Vanessa Fernandes e a conquista da nossa primeira medalha constatei sem fazer qualquer tipo de esforço uma característica que me une a mim e ao meu pai. Da minha mãe sei bem qual ela é também, mas sobressai noutras circuntâncias. Dos meus avós infelizmente tenho apenas lembranças do meu avô paterno que recordo com carinho de há muitos anos atrás, quando me pedia enternecidamente que lhe tocasse uma música no acordeão com, muitas vezes, promessas de uns trocos para incentivar e espicaçar a minha timidez. Hoje toco todos os dias e muitas vezes não recebo nem um tostão, mas sinto-me rico. Sei que ele me ouvirá em todos os momentos que estiver a tocar sozinho, comigo, com e para ele e com todos os que me incentivaram para a música.
A marca das características que me unem à minha família são vincadas e transportam com o tempo a velhice que nos vai unindo. Fazem de nós mais e mais de mim juntamente com eles.

Sónia disse...

A sensação de escrever e ser entendida é quase tão boa como a sensação de ser feliz...

Anônimo disse...

A felicidade está associada às sensações, por isso é que nem sempre somos felizes. Mas nós estamos constantemente a sentir e o mais importante é que durante esse período contínuo, a maior parte das vezes não somos felizes.
Se a realidade fosse estática era bem simples prender a felicidade experimentada num momento agradável em que nos sentissemos bem. Esses momentos seriam sem dúvida muito fáceis de escolher para cada um de nós, porque toda a gente sonha, toda a gente sabe como gostaria de ser feliz. Até podia ser ao pedir que as pessoas de quem gostamos nunca mais desaparecessem. Até podia ser, ficar numa ilha paradisíaca como já muitas vezes o manifestámos quando estamos com a pessoa de quem gostamos. Mas não deixam de ser momentos, que passam, que não nos deixam, mais cedo ou mais tarde, afastar da realidade. E a realidade é dinâmica e o resultado é que não somos mesmo felizes de todo.
A felicidade continua um segredo tão grande como o de saber se estamos sozinhos no universo.
A felicidade é tão exigente que não conseguimos mesmo ser felizes. É uma cruz que teremos que tranportar o resto da nossa vida. É uma sensação que temos que preencher a todo o custo e é tão difícil de alcançar como a insaciabilidade do ser humano.
Mas se comecei por dizer que é porque sentimos que poderiamos ser felizes, embora a maior parte das vezes isso não aconteça, é com as sensações que crucificarei a felicidade. Elas despertam sentimentos que nos moldam e como estamos num processo de contínua transformação só me resta consolar na maturidade da idade para compreender que a minha felicidade se completa quando faço feliz alguém, quando algo de mim se entrega para em conjunto completar algo que falta a alguém de quem gosto. E só assim serei mais feliz com os outros e mais um pouco de mim próprio. Mas mesmo assim continua um grande mistério... A vida não é suficiente para alcançar determinados estados emocionais.

Anônimo disse...

Claro está, que só como tu sabes, puseste-me de lágrima nos olhos...
Tenho tido estes pensamentos com uma frequência que me abala... Quem serei eu sem estes pilares que me sustentam?!?!? Sem um membro da minha/nossa tão reduzida família?!?!? Sinto o tempo passar e... sinto que me levará alguém que AMO profundamente mas... Quem?!?!? Tenho o coração tão apertado quanto o botão das calças de ganga acabadas de vestir... e sei que vou sentir o meu mundo fugir... como há precisamente 12 anos atrás quando fiquei sem a Minha Avó, Madrinha e, acima de tudo, Amiga. Sinto a sua carícia durante as noites mais sufocantes, mais angustiantes e mais tristes. Sei que ela ainda ali está para mim e que usa de toda a sua sabedoria para falar-me, ainda que sussurrado em sonhos, e ajudar-me a caminhar em frente... todos os dias como se fosse o meu primeiro... :) MAS... FAZ-ME FALTA, MESMO ASSIM.