terça-feira, agosto 12, 2008

Dark Ledger



Não, não, não, não. O filme Dark Night, realizado por Christopher Nolan e sequela de Batman Begins, não me merece um comentário porque tem no elenco Heath Ledger. Ele merece-me um comentário porque, morto ou não (isso acaba por ser um pormenor que alimenta apenas os "abutres" do acessório), Heath fez de Jocker a melhor personagem do filme (de todos os filmes da série). A mais coerente. A mais equilibrada. A mais sincera. Isto, numa película, onde todas as personagens são mais do que boas. Não me surpreendeu. Já em Monter's Ball (2001) percebi que este actor tinha a capacidade de fazer o complexo parecer simples; percebi mesmo antes, quando, em The Patriot (2000), foi um Gabriel mais homem do que anjo. Por tudo isto, a sua personagem em Brockeback Mountain (2005) - Ennis del Mar -, trouxe-me tão só a confirmação do que eu suspeitava: Heath Ledger era um actor com alma.
Dark Night é um filme noir, não apenas estilisticamente, mas cromaticamente. O único vislumbre de luz aparece nas cenas em que participa Jocker e o branco-choque do rosto que esconde; ou que desvenda?! Tenho cá para mim que ele usa aquela máscara de tinta com o único propósito de revelar aquilo que realmente é. O que esperar de alguém que parece um monstro e age como um: monstruosidades?! Uma coisa é certa, ninguém poderá acusá-lo de defraudar expectativas; que é, afinal, o conflito interior que perturba os grandes heróis (sou ou não sou aquilo que os outros esperam que eu seja?), desde Batman a Spider Man, que, no fim de contas, os torna vulneráveis e falíveis. Jocker não erra. O seu mundo é o caos: "I choose chaos."



O mais assustador é que o desequílibrio e a maldade nele são tão viscerais que causam no espectador a higienização da sua loucura; para nós, ele chega a ser o único que possui a sabedoria total: "I'll show you: I now the truth", provando que as margens da bondade e da maldade são meramente ilusórias; o Homem pode ter os pés numa ou noutra, consoante as circustâncias lho exijam: "You either die a heroe or you live long enough to see yourself become a villain."

Heath morreu ainda com idade suficiente para se tornar um herói; o tempo encarregar-se-á disso mesmo. Não me parece mal de todo, uma vez que James Dean e Marilyn Monroe são uns desconhecidos para as gerações que acreditam que a televisão existiu sempre e que o Michael Jackson foi branco a vida inteira...

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