quarta-feira, agosto 13, 2008

"A Kiss is Just a Kiss"

"A única linguagem verdadeira no mundo é o beijo."

Alfred de Musset




Klimt, The Kiss


Invenção antiga; aliás, como tudo o que realmente importa. O beijo é definido no dicionário como o acto de poisar os lábios em algum ser ou coisa em sinal de amor, afeição ou veneração. A palavra tem a sua origem no vocábulo latino basium.


A leitura do beijo não é simples, nem pacífica. Há que ter em atenção as variantes sócio-culturais que lhe atribuem uma infinidade de propósitos. Por exemplo, em França, no século XV, os nobres estavam autorizados a beijar qualquer mulher; já em Itália, se um homem beijasse uma mulher em público teria obrigatoriamente de casar com ela. Na Rússia, os homens cumprimentam-se com um beijo na boca. Em Portugal, trocam-se dois beijos no rosto (ou apenas um, se a morada corresponder a Cascais ou à Lapa; e se não corresponder, age-se como se correpondesse!). Os reis recebiam um beijo na mão. Já os esquimós beijam-se roçando o nariz no nariz do outro.
Por que estou eu com esta conversa toda?
Eu explico.
Apercebi-me de que o beijo, além de todas as matizes culturais e de intencionalidade que possui, significa coisas diferentes ao longo do nosso crescimento; não só para nós próprios como para quem nos beija. Assim, aos 12 anos, os beijos traziam consigo o prazer da experimentação inocente e despreocupada com o "depois". Nenhuma amiga pensou estar grávida por ter beijado alguém na boca, esses mitos urbanos existiam (sim, e continuam a existir) apenas nas páginas do consultório do amor da revista Maria. Aos 20, os beijos que se trocavam já faziam parte de uma relação adulta e, supostamente, funcionavam como a consagração de um amor sincero, que duraria para sempre. Chegados aos 3o, beijar alguém pode não significar um acto simples e descomplexado, que aos 12 ainda era possível. O "depois" chega a impor-se ao "antes"; às vezes, ainda nem sequer se tocou nos lábios do outro e já as permissas do "eh, pá, eu não estou apaixonado por ti", ou "eu não quero namoradas/os", assim como "estou numa fase complicada", nos atingem vorazmente sem que possamos usufruir do gesto que exige a movimentação de 29 músculos; que acelera os batimentos cardíacos, que vão de 60 a 150 por minuto, e que gasta em média 12 calorias. Isto para não falar das implicações emocionais envolvidas e que, em príncipio, oferecem uma enorme sensação de bem-estar.


Vamos lá ver se esclarecemos umas coisas; um beijo é apenas um beijo, os significados que se lhe atribui dependem de inúmeros factores. Agora, uma pessoa saudável não pressupõe que o beijo é um sinal claro de enamoramento ou um pedido de compromisso para a vida. Colocar sinais proibidos em territórios que nos propomos começar a explorar é ou não é ridículo?
É como se estivéssemos às portas da floresta amazónica, vestidos com calções e camisa do Coronel Tapioca, levando às costas a mochila com os acessórios que nos vão ajudar a descobrir um local mágico e ter uma cancela que nos proíbe de entrar. Eu sei que agora está na moda essa coisa da sinceridade. "Ah... digo-te isto porque quero ser sincero/a contigo." Vá lá... Estamos a enganar quem? Dizer que não se está apaixonado por alguém que acabámos de beijar ou referir que não estamos com vontade de namorar tem muito pouco a ver com necessidade de ser sincero. Sincero com quem? Consigo mesmo? Alguém pediu/exigiu essa sinceridade? Cá para mim tem a ver, isso sim, com a necessidade de desresponsabilização. Só que, deixem-me dizer, ninguém beija ninguém sem que esse acto acarrete um compromisso. Mesmo que ele dure apenas os breves momentos em que os lábios se mantêm unidos.
Como diria a música da banda sonora de Casablanca http://www.youtube.com/watch?v=F_bMFVDu9yo:

"You must remember this:
A kiss is just a kiss, a sigh is just a sigh.
The fundamental things apply
As time goes by.
And when two lovers woo, they still say "I love you,"
On that you can rely, no matter what the future brings,
As time goes by . . .
Moonlight an' love songs never out of date,
Hearts full of passion, jealousy an' hate,
Woman needs man and man must have his mate,
That no one can deny . . .
It's still the same old story, a fight for love an' glory,
A case of do or die, the world will always welcome lovers,
As time goes by . . . "

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