quarta-feira, dezembro 30, 2009

Cachanga

Estou cada vez menos preparada para a euforia induzida destes últimos dias do ano. Chamem-me o que quiserem, mas não tenho paciência nenhuma para o "Feliz 2010". Porém, como tenho ainda menos paciência para viver dias repetidos ou semelhantes, este ano vou passar a noite de 31 para 1 em Santo André, rodeada de vários amigos, pouquinhos: só 30. E como no grupo haverá uns novatos, o pessoal está a sugerir fazer-se um jogo porreiro para facilitar o entrosamento entre todos. O jogo chama-se Cachanga e consiste em pôr uma pedra de gelo, grande, em cima da mesa para cada um lhe dar uma cabeçada ao mesmo tempo que grita CACHANGA (para minimizar a dor), na tentativa de assim se quebrar o gelo entre os presentes. Fico sempre surpreendida com a capacidade inventiva e criativa dos meus amigos.
Ainda assim, não são eles os únicos a ter capacidade de me surpreender; enquanto escrevia este post, jazia ao meu lado o telemóvel do meu novo parceiro de sala,  apercebi-me disto porque a cada nova sms que entrava, ouvia: "Poupe a vida da sua máquina com Calgon". Quem, mas quem tem este toque no telemóvel? Pelos vistos o meu novo companheiro...
Estou ansiosa de ter confiança com ele para dizer-lhe: "Que merda de toque é esse, pá?" ou "Tu muda-me isso JÁ!"
Bem... enquanto for a do Calgon, o pior é se ele decide mudar para a do Pingo Doce. Se mudar, convido-o para jogar o Cachanga!

Re-start botom

Há dias em que me convenço que não gosto de inícios. Cansam-me, assustam-me, depauperam-me energias e emoções.
Outros há em que acredito convictamente que não existe nada melhor do que a sensação de começar qualquer coisa do zero.
Ainda não sei em que dia me encontro hoje...

quarta-feira, dezembro 23, 2009

Dizer NADA é dizer TUDO?

Podia escrever uma mensagem de Natal. Não vou fazê-lo. O melhor do Natal é aquilo que não se diz sobre ele. Aliás, o melhor de qualquer coisa que se faça é o que não se diz sobre ela. Mas o que se saboreia, experiencia, o que se experimenta ao fazê-la. A escrita será sempre uma reflexão secundária sobre determinados acontecimentos - essencial apenas porque permite aguçar a consciência e prolongar a memória - a nossa e a dos acontecimentos.
Na tentativa de prolongar a noite de sábado, 19 de Dezembro, publico as fotos que uma deusa com asas de anjo alaranjadas fez o favor de captar. As fotos falam por mim e pelo amor que se multiplicou nos gestos, nos abraços, nos sorrisos, nas gargalhadas trocados em nome da amizade: da minha por eles, da deles por mim.









P.S. Houve amigos que não puderam estar presentes, pelo menos, fisicamente presentes. Mas eles sabem, como eu sei, que a sua ausência foi uma presença assumidíssima.

terça-feira, dezembro 22, 2009

Frozen

Se em Macau não é gramaticalmente aceitável ter o nome "criança" associado ao adjectivo "feia" - pelo que lá é impossível haver crianças feias  - devia ser igualmente inaceitável associar ao nome "amigo" a expressão "cancro em fase terminal".

sábado, dezembro 19, 2009

Apontamentos


  1. Dei sangue pela primeira vez. E senti-me tãoooooooooo bem. Acho que fiquei com a folha de cadastro completamente limpinha; todos os meus pecados foram, agora, eliminados; ao mesmo tempo, percebi por que há pessoas que não são mais vezes solidárias. É que só se pode dar sangue depois de se responder a questões dificílimas como: "Mudaste de parceiro sexual nos últimos seis meses?" ou "Alguma vez fizeste sexo em troca de dinheiro?".


  2. Estas épocas são propícias ao convívio inter-pessoal. Ele é almoços de Natal, ele é jantares de Natal, ele é lanches de Natal; enfim, uma canseira! Agora, há almoços e almoços, jantares e jantares. Há jantares onde se aprende que há pessoas que têm o "fulmão pulmado". Ou onde as boas-festas são escritas em postais coloridos, com mensagens simples, tipo: "Desejo um bom Natal a todos voz". Ou ainda frases-mistério que ajudam a descobrir quem foi o amigo que te ofereceu a prenda: "De: Gustavo; Para: Ricardo" - com este enigma, como descobrir o autor do presente? Difícilllllllllllllllllll.


  3. Planos. Há quem não viva sem eles. Eu, ao contrário, faço planos para não ter planos. É que, quando os faço, vêm as voltas e trocam-me a vida. A minha mãe estava hoje, desde as 9 da manhã, sentada no café à espera que eu chegasse para tomarmos o pequeno-almoço juntas e irmos, em seguida, às compras de Natal. Já eu, enquanto ela aguardava calmamente, dava um pulo gigante da cama, lavava-me apressadamente e corria para o carro porque sabia-me atrasada 20 minutos. Assim que cheguei ao carro, liguei-o  e... NADA. Mais uma vez o gajo deixou-me pendurada - não pegou. Estou fartinha do raio do carro. Na verdade, o meu carro é como os amantes de luxo, parece que resolvem os teus problemas mais prementes mas, na verdade, só existem para te sugar dinheiro ilimitadamente. Odeio-os - aos carros, não aos amantes de luxo.


  4. A minha irmã ligou-me. Queria - uma vez que eu supostamente andava às compras - que  lhe comprasse pilhas para a máquina fotográfica. Informei-a, sem perder a calma : "Não, o filho da p#*$% do carro voltou a deixar-me a pé". Ela, na tentativa de se solidariazar comigo, começou a contar-me que tinha acordado há pouco e que se sentia como se tivesse sido atropelada por um camião. Ao lado dela, o meu sobrinho, ao ouvir o que ela tinha acabado de dizer, exclamou, quase de seguida: "Um camião? Eu bem te avisei para não ires para a estrada!"

E com estes apontamentos a minha vida vai-se fazendo, umas vezes mais do que outras, mas sempre em direcção ao depois...

quarta-feira, dezembro 16, 2009

Aniversário 34.º

"A vida é um sopro"

Hoje é o meu aniversário 34.º. Antes, antes de tudo, estava convencida de que o dia 16 de Dezembro só existia no calendário porque eu nasci, pelo que esse dia era meu: pertencia-me. Não foi difícil convencer-me disso: entre tantos dias existentes, um haveria de ser só meu. Mas este pensamento ligeiro e absolutamente ingénuo não durou mais do que uns simples minutos - são minutos e não anos a medida de tempo correcta que dista entre o dia em que éramos donos do mundo e o dia em que o mundo é dono de nós.
Percebi, então, que o dia 16 não me pertencia de todo, como também pertencia a outras pessoas que nasceram igualmente nessa data. Em vez de me sentir triste ou revoltada ou frustrada, senti-me feliz, segura de que a vida é muito mais vida se ao nosso lado estiver gente - muita gente - que nos acompanhe neste sopro fugidio.
Não gosto de ser sozinha. Gosto, ao contrário, de estender a mão em todas as direcções e sentir que essa mão toca outras mãos em melodias descoordenadas, atrapalhadas, distantes, próximas, reais, imaginadas, doloridas, ineficazes, incapazes, verdadeiras, efusiantes, inebriantes, intensas, indeléveis, passageiras. É pela razão desse toque que ainda vale a pena celebrar o dia do meu aniversário.
Parabéns a mim. Parabéns a ti. Parabéns  a nós, que somos tantos.

segunda-feira, dezembro 14, 2009

Surfando na idade

Haverá uma idade indicada para para iniciar seja o que for na nossa vida?

Ontem tive a minha segunda aula de surf. Nada de especial se, entretanto, não fizesse tanto frio na rua. Só fui capaz de esquecê-lo (e apenas por breves instantes) no momento em que o professor chegou e nos disse - sem nos dar qualquer hipótese de escolha - "vão buscar os fatos". E eu fui. E eu despi-me na praia, em frente a várias pessoas que desfrutavam do sol brilhante, mas não quente, que iluminava a esplanada e me olhavam com olhos de comiseração: enquanto eles se encontravam envoltos em camisolas, camisolões, casacos, casacões, gorros, luvas, cachecóis, eu ia ficando em pelota, preparada para vestir o fato.
Assim que agarrei na prancha e entrei na água esqueci o frio de vez. O prazer das ondas no meu corpo, o cheiro do mar e a vontade de me pôr em pé na prancha foram suficientes para o frio deixar de ser determinante.
Descobri, só agora, que gosto de surfar - ou melhor, gosto da ideia de um dia vir a surfar - e vou fazer de tudo para agarrar este desejo meio adolescente que me nasceu no meio de uma idade já nada adolescente.

(Obrigada R. pelos ensinamentos e tranquilidade transmitida no mar em chamas)

sexta-feira, dezembro 04, 2009

Decide!

Hipótese um: Gal Costa, no CCB;


Hipótese dois: Nouvelle Vague, na Aula Magna;


Hípótese três: Ary Sempre, no Coliseu dos Recreios.




Quando a oferta é muita... opta-se pelo sofá lá de casa, mais o aquecimento, mais as mantas e mais a companhia pessoal, própria e individualizada.

Decidi-me, antes que viesse alguém decidir por mim!

quinta-feira, dezembro 03, 2009

Com asas nos dedos

Queria escrever um post onde pudesse manifestar a minha tristeza por não ter estado presente ontem, na Gulbenkian,  a ver o Gustav Dudamel a dirigir a orquestra juvenil ibero-americana.
Queria escrever um post que fosse capaz de dizer que Dudamel é excessivo no seu brilhantismo enquanto maestro - e sê-lo-á também enquanto homem.
Queria escrever um post em que  fosse capaz de exprimir a minha admiração por pessoas como Dudamel, que apesar de não terem nascido em berço de ouro, constroem-nos com as suas próprias mãos - e que mãos: delicadas, efervescentes, tempestuosas e com asas na ponta de cada dedo.

(Eu queria, mas às vezes não consigo as coisas só de querê-las tanto. Seria bom que tivéssemos acesso a certas coisinhas só pela razão de as desejarmos.)

Desculpa, Dudamel, mas fui incapaz. Faltaram-me asas nos dedos.



terça-feira, dezembro 01, 2009

Amar por extenso

Há pessoas que não podem ser amadas abreviadamente: num instante; num impulso ou num pulinho.
Há pessoas que merecem ser amadas por extenso.