segunda-feira, fevereiro 21, 2011

Os gordos que querem ser magros e os magros que têm de ser gordos

Os estereótipos são uma carga adicional ao percurso de vida do ser humano, carga que, tantas vezes, não corresponde em nada àquilo que o indivíduo realmente vale/é/merece. Nas mulheres, essa carga aumenta exponencialmente - porquê? Porque além de bonitas, têm de ser magras. Mesmo que a natureza/genética contrarie o ideal estabelecido, há que recorrer a tudo o que estiver ao alcance para repor a ordem - dietas líquidas, mediterrâneas, as que só se pode comer sopa, as que só se pode beber chá, aquelas em que se come apenas fruta, as que se pode comer de tudo, enfim, são inúmeras as oportunidades e hipóteses no mercado para adquirir a silhueta das  raparigas fantásticas que aparecem na televisão, seja em filmes seja em campanhas publicitárias. E se as dietas não resolverem, há ainda os comprimidos ou o recurso à cirurgia (esta última hipótese é normalmente a primeira escolha das mulheres com carteiras mais recheadas).
Desconhecia por completo que, em determinadas sociedades, o culto da magreza não só não existe como o ideal feminino se consubstancia na gordura. De tal forma a gordura é sinónimo de prosperidade e fortuna que as mães aplicam uma dieta "ao contrário" às  filhas de 7/8 anos, preparando-as para o casamento. Esta dieta "ao contrário" consiste em alimentá-las à força, obrigando-as a ingerir quantidades absurdas de comida para engordarem ao ponto de se apresentarem apetecíveis ao futuro marido e, desta forma, não envergonharem a família. A mulher magra é  proscrita. Não serve para casar porque não alimenta o estereótipo de boa parideira.
A técnica de "engordanço" é conhecida por gavagem. E a esta técnica associa-se um método de tortura que consiste na colocação do pé da criança que se quer forçosamente alimentar entre dois paus que servem, por um lado, para imobilizá-la e, por outro, para causar-lhe dor a cada recusa de alimento.
O choro e o desespero que vi em algumas crianças da Mauritânia, nas quais eram infligidos tais tratos, não é muito diferente do choro e do desespero pelo qual muitas crianças ocidentais passam em virtude do olhar de desprezo e nojo que os outros lhes dirigem apenas por serem gordas.
Não consigo decidir qual a tortura mais odiosa, se a primeira se a segunda...

Um comentário:

Robson Ribeiro disse...

Fiquei impressionado com o seu relato, Sônia. Na verdade essa ditadura da magreza é uma mina de ouro. E, por outro lado, o sedentarismo e o consumo desenfreado (de alimentos altamente calóricos e prejudiciais) também são incentivados.

Afinal, é preciso haver sempre alguém insatisfeito com o seu corpo.

Estereótipos são uma perda de tempo.