Não vou com frequência assistir a bailados, mas vi, há tempos, o Baile dos Cisnes, por uma companhia russa: não gostei. Na verdade, já tinha apagado esse bailado da minha memória até ao momento em que vi Black Swan, de Darren Aronofsky.
Não sou nenhuma crítica de cinema, nem o que escrevo sobre os filmes tem a pretensão de forjar qualquer crítica, mas há filmes que me "obrigam" a escrever sobre eles, na verdade, acho que escrevendo sobre eles é sobre mim que escrevo.
A história de Black Swan centra-se na bailarina Nina Sayers, ou melhor, nos lados que compõem Nina: o da pureza quase virginal e o da sombra vibrante e purgada.
A história leva-nos aos lugares da sua vida vivida e da sua vida imaginada, mas nem uma nem outra são amplamente desveladas. Apesar de me inquietar, gosto quando os filmes não me dão tudo o que eu exijo saber para compreendê-los. Há, nisso, a possibilidade de também eu acrescentar qualquer coisa à narrativa que progride.
O que é extremamente interessante na tessitura do Darren é que ele reúne factores não só na história da Nina e das personagens (?) que ela encarna, enquanto prima ballerina, mas da própria realidade. Por exemplo, não é factual que seja a Winona Ryder a fazer o papel de bailarina preterida, num filme em que se assiste à consagração da Natalie Portman.
Se ao início, o filme parece conter uma história dentro de outra história, rapidamente percebemos que não há duas ou mais histórias, mas apenas uma: Nina é o cisne branco, o cisne negro, o príncipe, o feiticeiro - ela é a representação arquetípica da mulher moderna. Não, da sociedade moderna doente e esquizofrénica.
Há uma lição inevitável a retirar do filme: a mente do Homem é uma arma letal.
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