- Mãe.
A palavra fica, até hoje, ancorada no meu dentro. A desdobrar-me a vida em plenitude e satisfação.
-Mãe, já viste que este ano eu só quero de presente coisas de que preciso mesmo?
Sim, já vi. Já vi que te estás a tornar homem muito rápido. Pelo menos, para mim, é rápido demais, mesmo que ficasses criança a vida toda nunca seria tempo suficiente.
O amor de mãe é sôfrego, desesperado, ambicioso e egoísta. O amor de mãe é tão egoísta.
Se eu pudesse, porque querer eu queria, serias só de mim.
Dezassete. De-zas-se-te. Dez mais sete. Dez com sete.
E daqui a nada, o voo, por fim. Como fim de uma vida que conhecemos tão bem os dois. Nós os dois, juntos.
- Filho, já viste que não me cabes no colo?
- Filho, já viste que a tua barba me pica quando me beijas?
- Filho, já reparaste que viras a cara para não me ver despida?
- Filho, já reparaste que fechas todas as portas atrás de ti?
- Filho, já reparaste que preferes conversar com os teus amigos do que comigo?
-Filho, já viste que eu estou menos mãe e tu menos filho?
Amo-te de um amor tão profundo que, estupidamente, choro só por escrever que te amo de um amor tão profundo.
Tenho tantas mas tantas saudades de nós. De nós antigamente. E tenho ainda mais saudades de nós no futuro.
És único.
És vivo.
És pleno.
És vida.
És graça.
És eu.
És nós.
És meu, mesmo sendo do mundo.
És meu, mesmo quando não existir eu.