Vi há pouco tempo As Serviçais, um dos filmes candidatos ao prémio dourado de 2012.
A história revela a ousadia e determinação de (sobretudo) duas empregadas domésticas que decidem detalhar pormenores do seu quotidiano nas casas dos patrões.
Importa dizer que o tempo da história é a década de 60 e o espaço físico, o Mississipi. Está bem de ver que as empregadas (Aibileen e Minny, Viola Davis e Octavia Spencer, respectivamente) são pretas, já os patrões são, inevitavelmente, os brancos inúteis que levaram décadas a perceber que a cor da pele não é motivo suficiente para discriminar e segregar.
Não me parece que este tipo de "lições" façam ainda hoje sentido. A discriminação e a segregação não acontecem nem unica nem exclusivamente por razões de pele. São, isso sim, intrínsecas ao ser humano. Por mais monstruoso que pareça não gostar de alguém porque é do Benfica ou porque não veste roupas de marca.
O filme fez-me recordar a vida da minha própria avó que, aos 16 anos, veio servir na casa de grandes senhores.
A minha avó é branca. Os patrões eram brancos. O espaço físico era Lisboa e o tempo da história, os belos anos 50. Ainda assim, a minha avó não tinha vida própria. Não satisfazia as suas necessidades básicas nos mesmos lugares dos patrões. Não era acarinhada. Não tinha nome. Nem idade. Nem nada.
A minha avó perdeu a virgindade num vão de escada de uma casa senhorial, onde o meu avô a visitava às escondidas.
Não me surpreende que os americanos vertam lágrimas ao ver o filme de Tate Taylor, será, a meu ver, uma forma de carpir o passado.
A estrela do filme, para mim, não são nem as empregadas domésticas, nem a escritora que lhes dá voz e identidade. A estrela do filme é a belíssima Sisy Spacek, a mãe tresloucada de uma das "patroas" do bairro. Sisy, como louca e alheada, traz a respiração que o filme precisa para acontecer e, ainda melhor, elimina o tom piegas que o mesmo tendencialmente promove.