Acordo, devagar, de um sono que não foi profundo.
Ainda encadeada pela luz, avanço pelo dia dentro. Há coisas que mudaram de sítio e pessoas que não moram mais nas casas de sempre.
Não me lembro se sonhei ou o que sonhei.
Estou sozinha, sei-o.
Socorro-me de memórias, do embalo de músicas que já não oiço porque também já não mas cantam.
Acordei diferente, sinto-o, ainda que o não veja.
Gostava de ter tempo para acordar um pouco mais devagar.
O sol não é o mesmo. As pessoas estão também elas diferentes, apesar de parecerem as mesmas.
Um dia a mais no calendário do tempo.
Um dia a menos no calendário da vida.
Não voltaria a dormir, se eu pudesse.
Se eu pudesse reuniria o antigamente, com o agora e com aquilo que há-de vir e dava-me por acabada.
Por acabar está a felicidade, mas também não é certo que esta deva ter um fim. Ou um qualquer início.
Voltei. Esperemos que também o resto volte para mim.
Devagar. Com o sol a bater-me nas pestanas reflectidas na janela do carro em andamento.
Estou aqui e não poderia deixar de dizê-lo.
Um comentário:
Quem é leitora de Herberto Helder só pode ter bom-gosto! :)
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