sexta-feira, março 22, 2013

o meu país já não se chama

O que anda este país a fazer às pessoas?
O que seria deste país sem as pessoas?
O país. As pessoas.
Não há país que não seja para as pessoas, pelas pessoas.
E haverá pessoas sem país?

Há um barco à deriva no tejo, nem sei se leva gente dentro.

O meu país, como o barco, está à deriva num rio que não se chama tejo mas tem outro nome qualquer. Terá  um nome ou, no limite, Nenhum Nome Depois, como o da Maria.
Gostava de saber o que pensa a Maria deste barco, em forma de país, à deriva pelo rio: rio acima e rio abaixo.
As pessoas gostam de ter um país. Interessa-lhes por razões de justificada identidade. 
Já duvido se o país gosta de ter pessoas. Se gostasse, o chão frio  não seria cama digna para alguns deitarem a cabeça; se gostasse, a fome não amarelecia o rosto de outros tantos; se gostasse, as crianças não teriam nas mãos vazias o medo do futuro.
O futuro. Que futuro? Qual futuro?

Este país não está com as pessoas.Não existe nas pessoas. 

Hoje, este país poderia ter um nome qualquer. Ser qualquer outro.

Tenho saudades de ser pessoa no meu país. Oxalá o meu país tivesse saudade de ser pessoa.


Um comentário:

FigueiRita disse...

Hoje, ao olhar o meu recibo de ordenada, senti-me desprezada. Ando a trabalhar desde que me conheço, faço verdadeira magia todos os meses, com uma criança, e... este país tira-me a dignidade de viver. Passei a ter de sobreviver, com estas taxas e sobretaxas, novos escalões de irs... Hoje sinto-me triste, despida de qualquer esperança... só me apetecia ser pessoa, como tu, no meu país.