Não me incomoda falar da morte, pensar na morte, admitir que penso na morte. Como não me incomoda dizer CANCRO ou SIDA ou TUBERCULOSE. E fico pior do que estragada - ainda que ame as palavras e o que se pode dizer e ocultar com elas - quando oiço isto:
- Morreu de doença prolongada.
O que é uma doença prolongada? Do que é feita? A que sabe? Tem cura? Não tem cura? Faz doer?
Pensem de mim o que queiram, mas eu falo na morte, na doença e na tristeza sem luvas de pelica; mexo, remexo, toco, retoco nessas realidades incómodas como o cheiro do lixo que se atravessa na estrada, apanhando-nos desprevenidos a voltar de um lugar qualquer.
Se vimos um pobre, viramos a cara. Se vimos um velho, viramos a cara. As coisas feias não têm lugar no nosso mundo. Vivemos cada vez mais à procura do eternamente belo, só que é precisamente por ser raro e breve e instantâneo que o belo tem valor estético.
Para quê eternizar o que durou sempre e apenas um instante?
3 comentários:
É pq Narciso acha feio o que não é espelho!!!
A sociedade é muito louca...!!!
Bjus querida*
Quem vira a cara é ignorante... Nunca devemos esquecer a Lei do Retorno...
A vida é bela nas suas imperfeições... E a beleza reside nelas.
Quem me dera poder curar o mundo do superficialismo...
Devemos tratar as coisas pelo nome não camuflar ou florear...
Beijo
Vida e morte são quase uma mesma coisa, ou pelo menos compõem uma outra coisa maior...
É como enxergo isto!
Beijos!
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