Do amor, com amor, pelo amor. Amor a mil. Amor de dia, de noite. Com frio, ao calor. Sem reservas. Amor de mãe. O meu. Para ti. |
"Se eu quisesse enlouquecia" é a primeira frase de um conto de Herberto Helder, do livro "Passos em Volta". Para mim, este "se eu quisesse" abre o mundo a infinitas possibilidades; deixa que a imaginação flua e que a vida se manifeste no entrelinhamento do mero desejo e do realmente acontecido. Entre uma margem e outra, escrevo.
segunda-feira, março 25, 2013
sexta-feira, março 22, 2013
o meu país já não se chama
O que anda este país a fazer às pessoas?
O que seria deste país sem as pessoas?
O país. As pessoas.
Não há país que não seja para as pessoas, pelas pessoas.
E haverá pessoas sem país?
Há um barco à deriva no tejo, nem sei se leva gente dentro.
O meu país, como o barco, está à deriva num rio que não se chama tejo mas tem outro nome qualquer. Terá um nome ou, no limite, Nenhum Nome Depois, como o da Maria.
Gostava de saber o que pensa a Maria deste barco, em forma de país, à deriva pelo rio: rio acima e rio abaixo.
As pessoas gostam de ter um país. Interessa-lhes por razões de justificada identidade.
Já duvido se o país gosta de ter pessoas. Se gostasse, o chão frio não seria cama digna para alguns deitarem a cabeça; se gostasse, a fome não amarelecia o rosto de outros tantos; se gostasse, as crianças não teriam nas mãos vazias o medo do futuro.
O futuro. Que futuro? Qual futuro?
Este país não está com as pessoas.Não existe nas pessoas.
Hoje, este país poderia ter um nome qualquer. Ser qualquer outro.
Tenho saudades de ser pessoa no meu país. Oxalá o meu país tivesse saudade de ser pessoa.
quarta-feira, março 20, 2013
A felicidade tem dias
Acordo, devagar, de um sono que não foi profundo.
Ainda encadeada pela luz, avanço pelo dia dentro. Há coisas que mudaram de sítio e pessoas que não moram mais nas casas de sempre.
Não me lembro se sonhei ou o que sonhei.
Estou sozinha, sei-o.
Socorro-me de memórias, do embalo de músicas que já não oiço porque também já não mas cantam.
Acordei diferente, sinto-o, ainda que o não veja.
Gostava de ter tempo para acordar um pouco mais devagar.
O sol não é o mesmo. As pessoas estão também elas diferentes, apesar de parecerem as mesmas.
Um dia a mais no calendário do tempo.
Um dia a menos no calendário da vida.
Não voltaria a dormir, se eu pudesse.
Se eu pudesse reuniria o antigamente, com o agora e com aquilo que há-de vir e dava-me por acabada.
Por acabar está a felicidade, mas também não é certo que esta deva ter um fim. Ou um qualquer início.
Voltei. Esperemos que também o resto volte para mim.
Devagar. Com o sol a bater-me nas pestanas reflectidas na janela do carro em andamento.
Estou aqui e não poderia deixar de dizê-lo.
Ainda encadeada pela luz, avanço pelo dia dentro. Há coisas que mudaram de sítio e pessoas que não moram mais nas casas de sempre.
Não me lembro se sonhei ou o que sonhei.
Estou sozinha, sei-o.
Socorro-me de memórias, do embalo de músicas que já não oiço porque também já não mas cantam.
Acordei diferente, sinto-o, ainda que o não veja.
Gostava de ter tempo para acordar um pouco mais devagar.
O sol não é o mesmo. As pessoas estão também elas diferentes, apesar de parecerem as mesmas.
Um dia a mais no calendário do tempo.
Um dia a menos no calendário da vida.
Não voltaria a dormir, se eu pudesse.
Se eu pudesse reuniria o antigamente, com o agora e com aquilo que há-de vir e dava-me por acabada.
Por acabar está a felicidade, mas também não é certo que esta deva ter um fim. Ou um qualquer início.
Voltei. Esperemos que também o resto volte para mim.
Devagar. Com o sol a bater-me nas pestanas reflectidas na janela do carro em andamento.
Estou aqui e não poderia deixar de dizê-lo.
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