segunda-feira, outubro 06, 2008

Quem sou eu, afinal?

EU sou areia. Sou os passos de gente marcados na areia. Sou os grãos da areia. Sou os grãos da areia remisturados em si mesmos. Sou areia por fora, mas areia por dentro também. Sou o sol. Sou o riso das crianças felizes. Sou as gargalhadas dos ignorantes. Sou o amor. Sou a vida dos outros - muito pouco a minha própria. Sou os passos ligeiros das acácias, a luz tímida das buganvílias. Sou Lisboa. E sou o amor. Sou a pele enrugada dos velhos. Sou o beijo apaixonado dos amantes. Sou a amante. Mas também o amador. E só poucas vezes a coisa amada. Sou conversas atiradas por cima do futuro. Sou o futuro assustado com o vazio. Sou as horas em viagem. E sou o amor. Sou o cão que guarda o quintal. Sou o quintal que enfeita a casa. Sou a casa que recebe a família. Sou família. Sou os olhos do meu pai. O sorriso da minha mãe. Sou os cabelos da minha avó. As orelhas do meu avô. Sou tanto o amor. E sou o mar. Sou as ondas da manhã engasgando-se com a areia. Sou os barcos e os rastos dos barcos. Sou o horizonte, ao fundo. Sou o longe. O perto. E sou o amor. Sou as gaivotas à deriva. Sou a espuma. Sou o pó. Sou o vento. Sou a chuva. Sou os pingos da chuva, nas manhãs de Outubro. E sou Dezembro. Sou as montras cheias de luz, em Dezembro. E as ruas da cidade iluminadas e enfeitadas. Sou o Natal. E sou só amor, amor, amor. E não consigo, por mais que devesse, viver de boca fechada. Sou confissão inocente. Sou dizedora de afectos. Sou desbragada. Sou palavra. Sou diálogo. E sou... amor. Sou amor nos poros da pele. Sou amor no ar que respiro. Sou amor na ponta dos dedos. Sou amor no beijo que troco. Nas palavras que confesso. No toque das mãos. Sou amor no embate de peles nuas. Sou amor, amor, amor, amor, amor, amor, amor, amor, amor, amor, amor, amor, amor, amor, amor, amor, AMOR.

4 comentários:

Anônimo disse...

Devias estar aqui rente aos meus lábios

para dividir contigo esta amargura
dos meus dias partidos um a um

- Eu vi a terra limpa no teu rosto,
Só no teu rosto e nunca em mais nenhum..

Eugénio de Andrade

M.

Sónia disse...

Eu inspiradora de poesia?!
Surpreende-me ao mesmo tempo que me diverte.

"Um pouco mais de sol - eu era brasa
Um pouco mais de azul - eu era além"
Mário de Sá-Carneiro

Robson Ribeiro disse...

Olá Sófi!

Como é bom visitá-la...

As palavras agora me são poucas para descrever o momento. Infelizmente.

Beijos!

Anônimo disse...

Quem sou eu, afinal?
Eu sou Luz que não ilumina
Ponte que não une
Destino que não se cumpre
Estrada que não acaba
Sou o louco que te faz dançar
Eu sou amor que não ama