segunda-feira, setembro 28, 2009

Morrer em África


Fico sempre espantada com a quantidade de ignorância que há em mim. Os dias que ainda me restam não serão suficientes para eu aprender tudo o que gostaria. É por isso que me é tão difícil imaginar uma vida sem livros ou sem filmes.

Este domingo vi Shoting Dogs, um filme que descreve o genocídio ocorrido no Ruanda entre Abril e Junho de 1994. Na altura, enquanto 800 mil ruandeses (tutsis) sucumbiam aos golpes ferocíssimos das catanas de outros tantos ruandeses (hutus), discutia-se no ocidente a semântica dos acontecimentos:

- Quantos mortos têm de existir para podermos considerar que estamos perante um genocídio?

- É possível falar-se em genocídio se os mortos forem, na sua maioria, pretos?

No filme, uma das personagens, uma repórter da BBC, descreve ao professor de inglês, a viver a sua primeira experiência de "guerra", a sua passagem pela Bósnia:

- Na Bósnia chorava todos os dias. Cada mulher morta que via, pensava que podia ser minha mãe. Mas não aqui. Aqui são só africanos mortos.

A ONU estava no território, em observação, o que tecnicamente os impediu de travar que 2500 refugiados tutsis, que se abrigaram nas imediações da Escola Técnica Oficial de Kigali, fossem brutalmente assassinados. Só puderam intervir na morte dos cães que se alimentavam dos cadáveres espalhados pelas ruas, porque punham em risco a saúde pública.
Para completar este círculo que inicei ao acaso terei de ver Hotel Rwanda, para que a minha ignorância me pese um pouco menos nos meus bolsos de branca.


3 comentários:

Anônimo disse...

Lê o excelente livro "Ébano febre Africana" do Ryszard Kapuscinski

Anônimo disse...

Foi preso o cérebro do genocídio no Ruanda!! :)

Sónia disse...

Que anónimos tão queridos, um oferece-me uma sugestão de leitura; outro uma notícia fantástica!

Agradeço aos dois!