quinta-feira, fevereiro 18, 2010

Um é igual a dois, que são três

Não sei amar metades. Ou amar por partes. Ou ainda amar alternadamente. Não sei amar devagar. Com calma. Sem pressas. Ou amar a medo, com a cabeça ligeiramente inclinada para trás, a defender-me do porvir.
Sou exagerada no amor, como em tudo. Estou mais do que certa de que este é um tique de genética familiar. E como todos os tiques, ele é em mim e quase já nem dou pela sua existência...
Foi num dia comum de Fevereiro. Não estava excessivamente frio. A minha casa, por ser nova, encontrava-se vazia. Aos poucos, pensava, ela há-de ganhar vida e alma.
A minha irmã era uma barriga enorme, prestes a rebentar a qualquer hora. E essa hora não tardou demasiado. Foi só o tempo de descarregar as compras feitas no IKEA e correr para levá-la para a maternidade.
Vê-la sofrer mata-me por dentro, viajo quase instantaneamente para a casa da nossa infância, onde estamos as duas sentadas à mesa, ela numa ponta, eu na outra. Há palitos dispostos e eu incito-a a soprá-los. Com olheiras profundas e uma respiração ofegante - o som mais vivo é o da sua respiração aflitiva - ela sopra nos palitos com o vigor que a sua frágil saúde permite. Eu bato palmas e rio, procurando que a minha alegria a contagie também. Eramos apenas duas crianças a tentar escapar à voracidade da asma que lhe consumia muitos dos dias e das noites.
Voltamos à maternidade e às dores que o seu rosto e a sua voz revelavam. Levaram-na para dentro e não mais a vi. E nunca mais voltei a vê-la como antes. A minha irmã deixou, nesse dia comum de Fevereiro, de ser apenas a minha irmã. Desde essa altura, ela é a minha irmã e a mãe do meu sobrinho.
Desconheço qual das duas amo mais, se a irmã, se a mãe. Exagerada como sou, devo amá-las a ambas com a mesma força e a mesma verdade.
No dia 18 de Fevereiro de 2006, a minha irmã foi mãe do meu sobrinho e o meu tique de genética familiar ganhou novas razões para existir - mesmo sem delas precisar.

4 comentários:

Patrícia disse...

Então parabéns tia babada. E um feliz 5º aniversário para o sobrinho.

Anônimo disse...

É sempre bom degustar as tuas palavras.
Só ama assim quem tem um coração grande, como tu tens.
Sorte a de quem cabe nele.
Com um coração desses podias ser uma boa ciclista ou maratonista.:)

beijos,

Ugly Duck

FigueiRita disse...

Amei...
E, para não variar, fiquei de lágrimas nos olhos...
Mas... foi em Fevereiro de 2006 que me tornei Mãe, mana. Mãe desta criança que me abençoa todos os dias e enriquece as nossas vidas... ;-)
Sem ti... seria menos.
Beijo-te

Sónia disse...

Já emendei a data no texto! Falhou-me o dedo... ou o cérebro. Um dos dois foi!