Assisti ontem a uma palestra sobre graffiti em contexto rodoviário. Exceptuando a discussão óbvia (comprensível e pertinente mas que para o caso pouco me interessa) à volta da questão da perigosidade dos graffiti e da sua potencial interferência na circulação e segurança rodoviárias, o que achei interessante foi perceber a necessidade incontrolável do ser humano em trazer para o centro o que pertence, por natureza, às margens.
Pelo que percebi, graffitar paredes é ilegal - quanto a mim, a inexistência de legislação sobre uma determinada actividade não faz dela ilegal, aliás, determinar qualquer coisa ilegal é porque essa coisa está contra a lei o que, inevitavelmente, faz depreender que ela exista; a questão é que não há qualquer legislação sobre os graffiti e assim deve continuar.
O que torna esta actividade tão atractiva quanto marginal é a proibitividade que lhe está inerente.
Não faz qualquer sentido - não para mim - amordaçar este tipo de manifestação artística - espontânea e imediata - a leis, até porque a arte acontece sempre quando existe a capacidade ou a oportunidade de ultrapassar e subverter normas ou tendências.
As artes de rua são para ser vividas na rua. Apreciadas na rua. No contexto de urbanidade que lhe dão suporte.
Não parece fazer qualquer sentido vir uma lei estipular onde podem ser pintados graffiti ou que cores deverão ser usadas. É tão absurdo quanto existir uma lei a proibir, nos textos literários, o uso de minúsculas quando se devem utilizar maiúsculas, ou o uso de palavras que não estejam dicionarizadas, ou impedir que a poesia reflicta sobre trivialidades - a ser assim, o que faríamos com Saramago, Guimarães Rosa ou Manuel de Barros?
Eu cá ia numa de graffitar mentalidades...
Skater by Ram