segunda-feira, setembro 13, 2010

Caixinhas

Os dias de Setembro são frescos. Mesmo que o sol intensifique nos céus, já não aquece como antes.
Uma destas manhãs fui acordada por sons antigos. Daqueles sons familiares, próximos, ainda que totalmente adormecidos ou guardados em caixinhas multicolores na minha consciência.
Foi com alguma surpresa que os meus ouvidos se apropriaram da melodia e o meu cerébro a reconheceu: ouvi um amolador, mais a sua gaita, a anunciar presença na proximidade do 302.
Antigamente, os amoladores vinham em bicicletas ferrugentas oferecer os seus préstimos às donas de casa de bairros periféricos. Julguei que a profissão estivesse extinta. Tal como as donas de casa. Pelos vistos, enganei-me.
Este amolador vinha de moto. Ferrugenta. Ao bairro periférico, no 302. Mas não houve dona de casa que se aproximasse. Assim veio. Assim foi. Sem história, a não ser o facto de ter acordado em mim sons da infância, cada vez mais distante, preservada em caixinhas multicolores na minha consciência.
Também as haverá escuras. Pretas. Sombrias. Como a caixinha de Pandora, que guardava todos os males da Humanidade.Que a essas não haja melodia que as desperte. Assim reze a esperança...

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