Nada vai mudar. No entanto, tudo já mudou. As coisas vão ser iguais, excepto naquilo em que serão completamente diferentes.
Não posso mais aguardar, febril, pela voz do outro lado do telefone, que me dizia:
- Anda pagar-me um café.
As moedas ficarão, agora, atiradas pela carteira, sem razão de existirem.
O telefone continuará naquele lugar: 8192, mas na verdade deixou de ter o mesmo funcionamento, pelo menos, em mim.
Não posso mais olhar incessantemente, à chegada e à saída, para o lugar onde estacionavas o teu carro, ele estava lá para demarcar a tua presença ou a tua ausência. Se o não via, o meu coração saltava de ânsia (onde é que ele andará, pensava); se o via, o meu coração saltava de ânsia (posso vê-lo a qualquer instante, pensava).
Se tudo isto é errado, se não és definitivamente merecedor dos meus afectos, então porque é que me dói tanto, mas tanto aqui dentro?
Se isto é apenas um "até já" então porque o meu coração o sente como um "adeus"?
Mas por que razão continuo eu a chorar como um bebé?
Incontrolável mágoa que me magoa os olhos e a alma, incontrolável paixão que não morre, nem mesmo quando lhe acerto os mais eficazes golpes.
Amanhã, cada passo dado na direcção daquela casa grande e assustadora, será um passo dado em direcção ao abismo. Toda a gente virá perguntar-me pelo meu sorriso e eu só desejarei estar só, em paz. Quero-te de volta. Quero-te de volta. Quero-te de volta. Quero-te de volta. Quero-te de volta. Quero-te de volta. Quero-te de volta. Quero-te de volta. Quero-te de volta. Quero-te de volta. Quero-te de volta. Quero-te de volta. Quero-te de volta. Quero-te de volta.
Sem ti, sou sempre menos eu.
"Se eu quisesse enlouquecia" é a primeira frase de um conto de Herberto Helder, do livro "Passos em Volta". Para mim, este "se eu quisesse" abre o mundo a infinitas possibilidades; deixa que a imaginação flua e que a vida se manifeste no entrelinhamento do mero desejo e do realmente acontecido. Entre uma margem e outra, escrevo.
sexta-feira, maio 30, 2008
sábado, maio 24, 2008
Ai, ai... que o calor não chega!
O calor teima em não chegar. Emigrou? Está com medo?
Eu entendo-o. Se tivesse escolha, se calhar, hoje estaria a passear-me por outras paragens. Com os preços do gasóleo a subir em flecha, fazendo com que uma simples ida ao supermercado se torne num gasto extra a ser ponderado com a máquina de calcular ao lado, ou com altas figurinhas do nosso Estado a serem apanhadas a fumar dentro de um avião e a reagir ao evento com um simples : "Lamento!", a vontade é a do exílio temporário. Lamentar ele lamenta, mas não por ter infringido a lei que o seu próprio governo aprovou em assembleia; lamenta apenas ter sido apanhado a fazê-lo. O problema, parece-me, não está no acto em si, mas no momento em que ele se torna público. Um caso que me lembra o da agressão à professora por uma aluna, que pôs o país em acesa discussão sobre a perversidade das novas tecnologias, uma vez que o episódio se tornou público após exposição no Youtube, depois de ter sido gravado a partir de um telemóvel. Mais uma vez digo, a questão não seria lamentável se a agressão se processasse dentro das quatro paredes da sala de aula, num acto privado e isolado, como tantas e tantas vezes sucede; a questão coloca-se porque a agressão extrapolou a ordem privada e tornou-se pública. De quem é a culpa? Dos telemóveis, pois claro! Resolução: proíbe-se o seu uso dentro das salas de aula. Conclusão? As agressões continuam a existir, as agressões e as violações à lei por parte de quem exerce as maiores responsabilidades civis, pelo menos todas aquelas que se mantêm longe dos olhos públicos!
O que sei é que o calor pode tardar, mas eu garanto que os meus pés não voltarão a estar fechados dentro de um par de botas. Não quero saber se farei figuras ridículas por correr de chinelo no pé para não ser apanhada pela chuva, ou tiritar de frio, por estar com eles (os pés) expostos. O certo é que me recuso a sucumbir ao Inverno que por aí anda. E como gosto de ser coerente, quis tornar a minha resolução pública. Se não o fizesse, segundo os novos tempos, ela tornava-se menos verdadeira e, por consequência, inexistente. Estou certa?
Eu entendo-o. Se tivesse escolha, se calhar, hoje estaria a passear-me por outras paragens. Com os preços do gasóleo a subir em flecha, fazendo com que uma simples ida ao supermercado se torne num gasto extra a ser ponderado com a máquina de calcular ao lado, ou com altas figurinhas do nosso Estado a serem apanhadas a fumar dentro de um avião e a reagir ao evento com um simples : "Lamento!", a vontade é a do exílio temporário. Lamentar ele lamenta, mas não por ter infringido a lei que o seu próprio governo aprovou em assembleia; lamenta apenas ter sido apanhado a fazê-lo. O problema, parece-me, não está no acto em si, mas no momento em que ele se torna público. Um caso que me lembra o da agressão à professora por uma aluna, que pôs o país em acesa discussão sobre a perversidade das novas tecnologias, uma vez que o episódio se tornou público após exposição no Youtube, depois de ter sido gravado a partir de um telemóvel. Mais uma vez digo, a questão não seria lamentável se a agressão se processasse dentro das quatro paredes da sala de aula, num acto privado e isolado, como tantas e tantas vezes sucede; a questão coloca-se porque a agressão extrapolou a ordem privada e tornou-se pública. De quem é a culpa? Dos telemóveis, pois claro! Resolução: proíbe-se o seu uso dentro das salas de aula. Conclusão? As agressões continuam a existir, as agressões e as violações à lei por parte de quem exerce as maiores responsabilidades civis, pelo menos todas aquelas que se mantêm longe dos olhos públicos!
O que sei é que o calor pode tardar, mas eu garanto que os meus pés não voltarão a estar fechados dentro de um par de botas. Não quero saber se farei figuras ridículas por correr de chinelo no pé para não ser apanhada pela chuva, ou tiritar de frio, por estar com eles (os pés) expostos. O certo é que me recuso a sucumbir ao Inverno que por aí anda. E como gosto de ser coerente, quis tornar a minha resolução pública. Se não o fizesse, segundo os novos tempos, ela tornava-se menos verdadeira e, por consequência, inexistente. Estou certa?
segunda-feira, maio 19, 2008
Para que servem os amigos?
Para nada e dizer nada é dizer TUDO.
Os amigos protegem-nos da nossa existência, ou melhor, são a nossa existência. Por vezes, chegam de mansinho e arrastam-nos para outras dimensões, mais coloridas, diferentes. Também podem aproximar-se de rompante, sem qualquer aviso prévio, arrebatando-nos o tempo e a alma. Os amigos são uma caixinha preciosa, onde guardamos os mais terríveis segredos, aqueles que nos desnudam e nos revelam na inteireza crua da realidade. Sim, somos capazes de fazer o inaceitável, mas os amigos, os verdadeiros, não usam um discurso judicativo, informando-nos sobre os melhores caminhos; ao contrário, eles caminham de mão dada connosco e deixam-nos ser livres para fazermos as nossas escolhas.
Não tenho muitos amigos. Não existem assim tantas pessoas a quem possa telefonar e ser capaz de dizer apenas: "Quero chorar. Estou triste." Todavia, as que existem, funcionam como ponteiros do mesmo relógio, nunca param e movimentam-se sempre para o mesmo lugar, marcando a passagem do tempo de forma imperceptível, mas coordenada.
Os amigos protegem-nos da nossa existência, ou melhor, são a nossa existência. Por vezes, chegam de mansinho e arrastam-nos para outras dimensões, mais coloridas, diferentes. Também podem aproximar-se de rompante, sem qualquer aviso prévio, arrebatando-nos o tempo e a alma. Os amigos são uma caixinha preciosa, onde guardamos os mais terríveis segredos, aqueles que nos desnudam e nos revelam na inteireza crua da realidade. Sim, somos capazes de fazer o inaceitável, mas os amigos, os verdadeiros, não usam um discurso judicativo, informando-nos sobre os melhores caminhos; ao contrário, eles caminham de mão dada connosco e deixam-nos ser livres para fazermos as nossas escolhas.
Não tenho muitos amigos. Não existem assim tantas pessoas a quem possa telefonar e ser capaz de dizer apenas: "Quero chorar. Estou triste." Todavia, as que existem, funcionam como ponteiros do mesmo relógio, nunca param e movimentam-se sempre para o mesmo lugar, marcando a passagem do tempo de forma imperceptível, mas coordenada.
Sem os meus amigos, a minha vida não seria a minha vida. Seria outra coisa, mas não seria vida. Ao seu lado, tudo pode desmoronar-se, tudo pode tornar-se feio, cinzento, doloroso, pois olhar nos seus rostos é perceber que o futuro faz-se adiante e necessita da minha presença.
somewhere over the rainbow
quinta-feira, maio 08, 2008
Pontes sem margens
Hoje não foi um bom dia.
A minha irmã e os meus amigos mais próximos andavam preocupados comigo porque eu não conseguia dizer adeus ao amor. Tentaram de todas as formas possíveis procurar mostrar-me que amar sem receber nada em troca era errado, porque eu merecia mais, merecia tudo. Coisas de amigos e de irmãos. Não que eles não tivessem a sua razão ou a não tenham. O problema é que eu mesma tinha de encontrar razões, as minhas, para deixar de amar. Se as encontrei? Não. Talvez nem nunca as encontre, mas percebi que virar costas a um grande amor é uma manifestação de força (nunca de fraqueza) . Não sei se o sofrimento nos faz crescer, ainda não decidi se acredito neste mito. O que sei é que não preciso sofrer para crescer, pois conheço outras formas. E agora que tudo se tornou irremediavelmente definitivo, sobram-me 15 dias para fazer a desintoxicação. Não será fácil, eu sei. Terei mais dias como este: tristes. Terei dias em que o meu único conforto serão as lágrimas caídas no meu rosto. Todavia, mais cedo ou mais tarde, ele não será o meu primeiro pensamento do dia, nem o segundo, nem o último e, sem que eu perceba, transformar-se-á em memória de tempos idos. A partir de agora, a ponte não terá as margens que a sustentavam...
Hoje não foi um dia bom!
A minha irmã e os meus amigos mais próximos andavam preocupados comigo porque eu não conseguia dizer adeus ao amor. Tentaram de todas as formas possíveis procurar mostrar-me que amar sem receber nada em troca era errado, porque eu merecia mais, merecia tudo. Coisas de amigos e de irmãos. Não que eles não tivessem a sua razão ou a não tenham. O problema é que eu mesma tinha de encontrar razões, as minhas, para deixar de amar. Se as encontrei? Não. Talvez nem nunca as encontre, mas percebi que virar costas a um grande amor é uma manifestação de força (nunca de fraqueza) . Não sei se o sofrimento nos faz crescer, ainda não decidi se acredito neste mito. O que sei é que não preciso sofrer para crescer, pois conheço outras formas. E agora que tudo se tornou irremediavelmente definitivo, sobram-me 15 dias para fazer a desintoxicação. Não será fácil, eu sei. Terei mais dias como este: tristes. Terei dias em que o meu único conforto serão as lágrimas caídas no meu rosto. Todavia, mais cedo ou mais tarde, ele não será o meu primeiro pensamento do dia, nem o segundo, nem o último e, sem que eu perceba, transformar-se-á em memória de tempos idos. A partir de agora, a ponte não terá as margens que a sustentavam...
Hoje não foi um dia bom!
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