segunda-feira, fevereiro 23, 2009

No dia que é teu, pergunto-te...

Que mais posso eu fazer por ti?
Senão oferecer-te estas palavras que ainda não tens? Ou emprestar-te esta verdade que pode ser ou não?
Que posso eu fazer por ti?
Senão apenas provar-te que o desconsolo dos dias pode ser o consolo das noites? Ou que os sonhos não terminam até nós dizermos que terminam?
Que posso eu fazer por ti?
A não ser oferecer-te estas palavras que são as que oiço, ainda que os teus lábios não se movam?

"De que sedas se fizeram os teus dedos,
De que marfim as tuas coxas lisas,
De que alturas chegou ao teu andar
A graça de camurça com que pisas.

De que amoras maduras se espremeu
O gosto acidulado do teu seio,
De que Índias o bambu da tua cinta,
O oiro dos teus olhos, donde veio.

A que balanço de onda vais buscar
A linha serpentina dos quadris,
Onde nasce a fescura dessa fonte
Que sai da tua boca quando ris.

De que bosques marinhos se soltou
A folha de coral das tuas portas,
Que perfume te anuncia quando vens
Cercar-me de desejo a horas mortas."

José Saramago, in Poemas Possíveis

E o que fazes tu por mim? Finges que precisas que eu faça tudo isto por ti...

3 comentários:

Anônimo disse...

"O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração."

Fernando Pessoa

Sónia disse...

Esse poema tem do que se lhe diga... Obrigada por mo fazeres recordar!

Beijo

Ego. disse...

Li sorrindo...
tem coisa melhor? Obrigada viu!

Bj querida*