Amanhã parto. A partida exige pouca bagagem, para não desperdiçar espaço imprescindível no regresso. Quando chegar, quero ter a minha bagagem cheia de Big Ben, de Harrold's, de Hyde Park, de Daniela, de bares quentes e barulhentos, de noites mal dormidas em sacos-cama espalhados pelo chão, de riso e luz de Cláudia, de alívio por regressar a casa, aos braços de quem me ama todos e a cada dia, longe ou perto, bonita ou feia.
É inevitável o medo do avião a quem me deixa partir e aguarda, ansioso, pelo meu regresso. O Rodrigo, logo pela manhã, mencionou sentir medo de o meu avião cair. Eu não penso sequer nessa hipótese. Ou só remotamente, mas entendo-o, pois sempre que ele se ausenta, na sua maioria das vezes, de carro, não há uma única vez que não pense, ao beijá-lo, que aquela poderá ser a última vez. Nesse instante, prolongo o beijo e assim que ele termina, não permito que aquele pensamento de acidente/última-vez-que-te-vejo permaneça por muito mais tempo em mim.
Disse-lhe para não se preocupar, se por acaso o meu avião caísse, a única coisa que ele teria de fazer era chorar a minha morte e continuar com a sua vida procurando ser feliz, mesmo sem a minha companhia.
Pode parecer cruel, mas é prático. As pessoas morrem todos os dias e todos os dias há outras obrigadas a recontinuar vidas, apesar das perdas. O Rodrigo não seria excepção. Embora me apetecesse que ele fosse, pela razão do imenso amor que lhe tenho.
6 comentários:
Não vai cair, Rodrigo, fique tranquilo...
Gostei do título, e como tal faço uma sugestão musical para a viagem (que vai correr muito bem, no worries!):
Morphine - Empty Box
Robson, essa é uma posição complicada de assumir perante uma criança de 12 anos. Já imaginou se o avião cai?
Beijo
Se por acaso isso acontecesse, lá teria eu de inventar uma maneira de ir ao passado e evitar que entrasses nesse avião ou melhor, evitar que ele caísse...
E juro-te... seguir em frente seria muito, muito difícil!
Beijos e boa viagem!!!
Faz tempo que não leio algo assim..
Então só para compartilhar...
Que ternura que me chegou
Do teu pensamento até aqui
Esse beijou que saudade inventou
E o desprendimento sobre amor partir
São só palavras você diria
Mas tem uma foto com um sorriso
Que lúdico tenho motivos
De quase me expor à revelia
Do teu senso me acusar
Por ser fraco pela beleza
Um caso reles e vulgar
De admiração pelo que intuio
Fiquei de soslaio a ver
Anônimo emocionado ao te perceber
Tens esta capacidade extraordinária de me fazer pensar e repensar e não chagar a conclusão nenhuma :)
Continuo sem saber o que pensar desta tua posição...prática (sem dúvida) e cruel (com muitas dúvidas).
Ainda assim, ainda que tu talvez não saibas, não é o que dizes ao teu filho que o irá ajudar a superar uma perca, é a forma como te relacionas com ele que o irá fazer construir-se sobre os cacos que inevitavelmente o cobrirão.
O luto mais fácil, advém das palavras que não ficaram por dizer :)
Confusa? Eu também! :)
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