quarta-feira, maio 13, 2009

A pretidão do céu

(tia) - És mau.
(sobrinho) - Mau és tu.
(tia) - És preto.
(sobrinho) - Preto és tu.
(tia) - És lindo.
(sobrinho) - ...
O céu disse-lhe que o pai era preto. Mas o céu não fala, quanto muito, ouve. Mas ele insiste que o céu lhe disse que o pai era preto. Nós assentimos com os braços e avançamos com a vida. A nós não nos importa a cor da sua pele. Não nos importa mesmo. Só na medida em que sabemos que importa a outros. E que estes outros convivem com ele, não são seres resguardados na distância.
(sobrinho) - Não quero essa música. É feia. Põe Da Weasel.
(extensão de braços maternais) - Não podemos ouvir sempre música de pretos.
A escola, principalmente na primeira infância, tem de funcionar como extensão dos braços maternais e familiares. As mães não têm tempo, trabalham. Os pais não têm tempo, trabalham. E os filhos já não podem ficar entregues aos avós, pois estes também não têm tempo, trabalham. A extensão dos braços maternais e familiares não podem dar respostas como "não podemos ouvir sempre músicas de pretos."
Os pretos e os brancos. Nós e os outros. Os pretos. Os brancos. Nós. Os outros. Pretosbrancos. Nósoutros.
Já não tenho raiva, só pena dos ignorantes que vêem a vida com filtros de cor, raça, religião, etnia, estatuto social. Só pena.
A minha irmã descobriu hoje que o céu, afinal, não só fala como ouve: tem braços, pernas, boca e um cérebro de um tamanho tão mísero que lhe afecta a visão. Trabalha no sítio da extensão dos braços maternais e familiares e chama-se... imagine-se... CÉU!

2 comentários:

Ego. disse...

E o arco-iris é tão lindo!!! ;)

Essa questão racial sempre mexeu muito comigo, desde antes me tornar-me pedagoga!!!
Na faculdade pude discutir, questionar... eram palestras, seminários, livros, teorias e blablabla... Tudo isso é fundamental, um suporte legitímo!!!
Mas as situações reais são bem mais complexas, as pessoas são bem mais complexas...
e as questões vivem vagando por ai, muitas sem respostas...
Penso eu cá com meus botões que as perguntas não podem morrer por falta de respostas, é tão importante não aceitar o inaceitável né... rs!!!
Será que me entendeu Sofi???

E continuo dizendo o arco-iris é tão lindo...

Bjus querida*

Sónia disse...

Por onde tem andado a sua segunda pele? Sinto saudades de lê-la.

Beijo grande