Violino. Piano. Saxofone. A ter de escolher, estes seriam os sons da minha banda sonora pessoal.
Detesto despedidas. Se posso, antecipo-me a elas e finto-as na curva. Antes da dita hora, já eu me despedi. Disse o adeus embargado na voz, filtrei a saudade que o tempo acentua e aprisionei memórias a que recorro em momentos específicos. As lágrimas que ficam após, a acariciar-me o rosto, são o apaziguamento da dor que veio antes, muito antes.
Oiço o violino e procuro entender o que diz. Com o piano já não é assim: desinteressam-me as mensagens que ele fala. Ao saxofone sou eu que tenho vontade de lhe dizer coisas, e mais vontade ainda tenho que ele as oiça e as entenda.
As despedidas, mesmo as pequenas, são indeterminadas. É impossível saber se a pessoa a quem dissemos adeus será a pessoa que reencontraremos no regresso. Seremos nós próprios os mesmos? Acredito que não.
Disto estou eu certa, quem desejamos reencontrar não é a pessoa que veio, mas tão só a que foi.
Com sorte, ainda encontrarás um cabelo meu perdido no teu corpo. Se assim for, solta-o ao vento e deixa que todos os violinos do mundo te digam quem eu sou, deixa que todos os pianos se desinteressem por quem tu és e deixa, ó por favor, deixa que todos os saxofones te digam, como se a sua voz fosse a minha, mesmo não sendo, mas como se: bom-dia...O som do violino. O som do piano. O som do saxofone.
Um comentário:
Li um livro sobre os anos que Mata Hari passou na prisão... Diz, a páginas tantas, que ela soltava os cabelos que lhe caíam para lá do muro da prisão, de modo a que uma parte dela encontrasse a liberdade. Lembrei-me disso ao ler o teu texto.
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