Não é nos sons intermináveis que faz com as mãos, com os pés, com a boca.
Não é no rasto de desarrumação que arrasta atrás de si. À frente de si. Ao lado de si. Por baixo de si.
Não é nas horas que rouba ao espelho em silêncio.
Não é nas roupas que veste e que despe que-despe-e-que-veste-e-que-veste e torna a despir para vestir enfim.
Não é nos braços compridos, fortes que limitam a visão da criança que foi outrora.
Não é na maturidade do discurso: calmo, equilibrado, bem pronunciado.
Não é na insegurança do que o que os outros dizem, do que os outros pensam, os outros, os outros, os outros (e tão pouco ele).
Não é na gargalhada vibrante que acorda os mortos.
Não é no carinho aos molhos com que chama seus aos seus.
Não é na preguiça que lhe molda os gestos, passados e futuros.
Não é na ambição de fazer 59' aos 100m crowl e e não-sei-quantos a bruços e outros tantos a livres.
Não é no sentido de humor refinado, contagiante, genial com que desarma os que o ouvem.
Não é na capacidade infinita de amar dolorosamente, fidelissimamente, fervorosamente, eternamente um ser, uma causa, o nada.
Não é no gosto e no tempo que dedica à música.
Não é nos desenhos que rabisca cujos traços lhe definem a alma.
Nem nos "i-ó-mãe" ditos em tudo.
Nem na facilidade com que diz "obrigada" ou "desculpa".
Não é no sentido de protecção exímio ou expedito com que me defende das agressões externas, internas, reais mas também as imaginadas.
É em mim. E na parte minha que já é dele.
É nele. E na parte sua que já é minha.
14 anos. E o tempo a carregá-lo longe. Para longe. Lá longe. No lugar da independência.