Por que é que, de vez em quando, sinto que não pertenço a lado nenhum? Inauditas as sensações que me habitam por dentro. Estou vazia, ressequida até, como se o meu corpo tivesse sofrido uma exposição demorada ao sol.
Olho em volta de mim e reconheço tão pouco daquilo que vejo. A minha família não é mais a mesma. Parece que viajei e que, agora, no regresso, aqueles que deixei são já outros. Têm o mesmo rosto, a mesma voz e o mesmo odor, que me compelem para o abraço e para o beijo; só que, na verdade, de tão habituados à minha ausência, depressa me coroam com a indiferença, como se tivessem necessidade de demonstrar que a vida acontece para além de mim. Fujo. Corro quilómetros, sem sequer sair do mesmo lugar. Costuma passar-se enquanto durmo, nunca quando estou acordada. O "nunca" da frase anterior não pode mais voltar a ser utilizado. É que estou acordada, ainda assim, as minhas pernas, frenéticas, balançam como se corressem, o certo é que não saio do mesmo lugar.
Não pertencer a lado nenhum faz de mim ninguém. Sou ninguém com ambição de ser alguém. Ou serei alguém com a ambição de ser ninguém?
Poderei eu recomeçar de novo? É isso de que necessito, recomeçar de novo. Acordar de manhã como se fosse a primeira vez, para poder libertar-me das sombras que me perseguem. Estas sombras que insistem em ter o meu corpo e o meu peso e, pior ainda, o meu nome. Posso perder tudo, todavia, se abdicar do meu nome, serei impedida da esperança. E eu não quero isso.
2 comentários:
Ora, é só questão de saber estar descontraída, que logo se resolve tudo :-)
A questão é precisamente essa: saber! E há tanta coisa que não sei ainda. Mas quero aprender: e vou. ;)
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