Há sinais que escutamos devagar, outros que, sem os escutar, chegam de mansinho e nos revelam mais do que gostaríamos. Há fogos que nos arrebatam por dentro e nem a água gelada que lhes deitamos por cima os faz desvanecer; ou os transforma em cinza, matéria sobrante do que foram e não podem ser mais. Há sinais antes dos fogos. Há fogos depois dos sinais. Os sinais são sempre nossos e de outros também. Os fogos não podem ser objecto de pertença; vão e vêm, para nos avisar que estamos vivos e que o "caminho se faz caminhando", sem a serventia dos atalhos.
E quando os sinais são de fogo?
Sinais de fogo, os homens se despedem.
exaustos e tranquilos, destas cinzas frias.
E o vento que essas cinzas nos dispersa
não é de nós, mas é quem reacende
outros sinais ardendo na distância
um breve instante, gestos e palavras.
ansiosas brasas que se apagam logo.
Jorge de Sena
in Visão Perpétua
Julho/Agosto 1967
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