Este texto tem hoje a responsabilidade de existir. Ele escreve-se por si, independentemente das teclas que eu escolha ou do que o meu pensamento sugira. Teclo na palavra EU mas é a palavra TU que fica escrita. O texto redige-se a si mesmo, sem que eu possa contrariar ou interferir no seu rumo. A teia vai sendo construída para além da minha vontade. Escrevo TRISTE e TRISTE não aparece em lugar algum. Em vez disso, há palavras no ecrã que nem sei o que significam. Inventam-se e recriam-se, tornando-me eu alheia ao processo que deveria partir de mim. Eu quero escrever TRISTE. Deixa-me escrever a palavra TRISTE, por favor. Tenho de escrever TRISTE. E continuamente aquele TU a impor-se mais do que seria desejável. Este texto quer provar-me que é mais forte e mais capaz do que eu. Que, na verdade, a palavra TRISTE não é assim tão importante. Insiste em revelar-me a minha impotência, diante de um bando de palavras que se perfilam à frente dos meus olhos, por baixo dos meus dedos teclantes. E a palavra TRISTE que me confortaria não existe, desaparece no confronto suspenso com a palavra TU.
Tenho as mãos inundadas pelo sangue de inocentes. Lavo as mãos, mas o cheiro não desaparece.
2 comentários:
Só TU e unicamente TU...
E EU aqui parado a tentar escrever-te algo. Mas ao contrário, este texto tem dificuldade em redigir-se sozinho. Está vivo. Mas desorientado. Tem alma. Mas está parado. Há tempo demais.
EU.
Pensei que TU pudesses ser um OUTRO. Estava enganada. E com isso percebi que já não importa saber-te de verdade. És um EU e quem quer que se esconda por detrás desse EU, entende o que escrevo, logo, entende-me a mim!
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