Fui mãe aos 6 anos. Prematuramente arrancaram-me a filha dos braços, porque estava velha e rota.
Chorei até se esgotarem lágrimas e dor - nessa altura, umas não existiam sem a outra.
Fui mãe outras vezes e de cada vez o amor era mais sério, mais comprometido com os filhos que ia tendo - os primos que cresciam lá por casa, os animais que trazia às escondidas do meu pai (borboletas, cães, gatos e até caranguejos que viajavam no meu balde e que eu insistia em fazer de meus) e os vizinhos de quem tomava conta em troca de um ou outro escudo.
Se voltar a cabeça para o lado do passado (será do lado esquerdo ou do direito?!) tudo na minha vida concorreu para um único momento: aquele em que agarrada às mãos, às voltas na cama do hospital em razão das dores lacinantes, já sem rosto, já sem olhar, já sem expressão, pedia à minha avó, acabadinha de morrer, para ajudar-me a trazer à luz o meu primeiro filho natural.
Percebo agora que as aprendizagens ganhas com as maternidades anteriores contribuiram para que eu fosse uma mãe eficiente, mesmo que aos 20 anos. Nunca me atrapalharam fraldas, biberões ou doenças. Ou o amor incondicional.
O que me atrapalha neste momento - pois o ensinamento não veio com as maternidades antigas - é ter o meu filho a competir comigo por coisas tão banais como o espelho, a banheira ou a tábua de engomar.
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