O silêncio das ruas permite ouvir o tamanho do calor que fica suspenso no ar da manhã. Poucos são os passos que se cruzam com os meus, poucos ou nenhuns. Há, de tempos a tempos, uns passos velhos e agastados, que arrastam idade e cansaço, assim como sacos de plástico pela mão. Também há ruas e ruelas estreitinhas, onde é possível esticar os braços e chegar num instante à janela da vizinha que nos empresta um pouco de poejo para temperar a comida. A antiguidade esconsa delimita geometrias de traçado antigo. Não há excesso. Também não há pouquidão.
Com passinhos em volta, atinge-se o paraíso, se ele houvesse, que eu sei que não há. Lá no alto, o céu é mais nosso e o horizonte não cabe apenas no olhar. É maior. Muito maior.
Tem uma cadeira de desejos. Uma cadeira que não é uma cadeira, é uma pedra esculpida na montanha a fazer de cadeira. Diz-se que no tempo em que os homens iam à tropa, as mães vinham sentar-se ali para pedir à santa que não lhes levasse os filhos. A santa não levava.
Também estive sentada naquela cadeira e pedi o meu desejo. Só que foi um de fingir, o desejo maior guardei-o em segredo, que é onde os desejos devem guardar-se...
2 comentários:
Quer dizer: aquele desejo de casar e ter um bando de filhos - ecoado por aquelas pedras - era só a fingir? E eu, pombo correio da Senhora da Penha (e não da Graça), o que lhe direi?
Diz-lhe que casar e ter filhos é coisa de gente formatada. Há que saber desejar mais do que apenas isso...
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