sexta-feira, agosto 21, 2009

Quando for grande...

foi depois de tudo. dos caracóis devorados entre conversas próprias - todas as famílias têm uma língua natural, imperceptível para os outros, os de fora - da carne que o meu avô escolheu e não quis comer. do leite creme com açúcar queimado que a minha avó substituiu pela gelatina com natas - que ela adora, mas que não havia - dos sms que a minha irmã trocou com gente que acabou, afinal, por nos acompanhar ao jantar.


foi só depois disto, quando o carro parou em frente ao prédio branco do bairro 1.º de Maio - decorei o nome do bairro assim que aprendi a ler, uma vez que, a tinta preta, estava escrito na parede do lado direito, em cima: 1.º de Maio, bloco D, n.º 8 - e depois da anedota do cigano que nunca foi contada, por que não era preciso, só de falar nela dava-nos vontade de rir; foi quando ficámos, eu e a minha irmã, sozinhas no carro e voltámos o pescoço para a porta do prédio, para acenar ao meu avô e avó, até que tivémos de usar o espelho retrovisor para vê-los, foi aí que reparámos: a atravessar a rua, o meu avô e a minha avó, casados há 51 anos apesar das mentiras, do sangue da minha mãe jorrado nas sebentas da escola, das socas atiradas contra a sua cabeça de filha-menina, das bebedeiras intermináveis, dos filhos da puta e caralhos e vão-se foder gritados contra tudo e contra todos os que ousassem respirar, atravessaram a rua de mão dada...

Um comentário:

Ego. disse...

Ai que amor!!!
:)

Vc está escrevendo ou desenhando?
Lindo demais!