terça-feira, março 16, 2010

Angústia a dois compassos

Compasso I

Estou completamente angustiada.
Pensei que a reentrada na sala de aulas fosse revigorante e exultante. Ao invés, foi ultrajante e muito pouco prestigiante.
Quiseram enfiar-me (este é o verbo mais do que adequado) a mim e a mais 20 alunos Erasmus numa sala onde havia mesas e cadeiras. Também havia um quadro branco, mas sem canetas.
Acho que a indignação na minha cara foi tão óbvia que fizeram tudo para me encontrar uma sala com computador, Data Show e quadro e, já agora, canetas.
Percebi, exactamente no instante em que o computador desta segunda sala deixou de funcionar, que vivo num país demasiado pequeno e pobre para se dar a soberbas de europeísmo.

Compasso II

Estou completamente angustiada, com nós no estômago e na garganta também.
Ontem o Rodrigo esfregou-me (este é o verbo mais do que adequado) na cara, na minha e só na minha, de que necessita de privacidade; por essa razão, não quis contar-me o teor das mensagens que continuamente trocava com uma amiga.
Percebi, exactamente no instante em que os lábios dele se fecharam, que sou demasiado pequena e pobre para não usar da chantagem emocional para extorquir-lhe os segredos. Usei a chantagem, ainda assim, fiquei sem saber os segredos.

2 comentários:

Big Blue disse...

Se fousse em Africa seria muito pior..

Sei que é fácil dar opiniões sem estar bem dentro do assunto..

Mas, que tal encarar como uma missão? È que estamos num país em "vias de" desenvolvimento.

:)

Sónia disse...

Portugal não faz parte dos países em vias de desenvolvimento. Ainda que, em muitos assuntos, o pareça.
A minha missão é proporcionar àqueles alunos o melhor de mim e da minha língua, mas sem recursos, essa missão não só é difícil como penosa.
Ainda assim, obrigada pela força!