segunda-feira, dezembro 29, 2008

E o prémio vai para?

Acabei de saber, por estes dias, que um dos meus escritores de eleição decidiu concorrer a um prémio de poesia para autores-revelação recorrendo ao uso de um pseudónimo e (imaginem?!) ganhou o dito prémio.
Factos a registar:
1. Um prémio para autores-revelação não deveria ser um prémio para autores-revelação? - Que motivos terão levado um autor de mérito reconhecido concorrer a um prémio "menor"? Para mim, é como se a Mariza decidisse concorrer a uma eleição para jovens fadistas, recorrendo a outro nome, mas não a outra voz ou experiência...
2. A mensagem transmitida aos outros concorrentes que preeencheram os requisitos pré-estabelecidos para o concurso é a de que, afinal, em determinadas circunstâncias, podem ignorar-se os pré-requisitos. - Em que mundo vivemos nós? Em que mundo deseja o meu querido autor que vivamos?
3. O universo editorial não escapou à crise generalizada que se instalou um pouco por toda a parte e este ano que está prestes a terminar trouxe agitamentos confusos e fusões ainda mais desconcertantes. Terá sido uma estratégia editorial que levou o meu autor querido a participar em estapafúrdio concurso?

Depois de ser informada desta história, lembrei-me imediatamente de uma professora fantástica que tive no meu primeiro ano de faculdade. Ela dizia sempre para evitarmos conhecer pessoalmente os autores dos livros, uma vez que a pessoa de carne e osso não corresponde, na sua maioria, ao autor de papel, transmissor de uma sabedoria infinita e humana. Apesar de compreender o que nos dizia, fui incapaz de seguir o seu conselho e relacionei-me com vários escritores. Um deles este de quem agora falo. Além de lhe admirar a mestria de uso das palavras e do senso com que arruma o mundo, reconheço-lhe a simplicidade com que tem lidado com o sucesso; por isso é que é tão difícil aceitar que pudesse participar em algo tão descabido. Ao mesmo tempo, a razão de ser da nossa humanidade está no facto de cometermos erros, de não sermos seres irrepreensíveis ou dotados da verdade absoluta. Por saber disto, aceito o erro do meu escritor de carne e osso; aceito o erro dos jurados que, apesar de serem informados mais tarde do facto, o mantiveram em concurso; aceito também o erro daqueles que insistem em defender a atitude do meu escritor em nome da amizade; só não posso deixar de lembrar que a amizade e o amor são dois sentimentos que exigem mais do que palmadinhas nas costas.

2 comentários:

ricardo teixeira disse...

Será por acaso que fico marcado pelas conclusões dos teus textos?!

"só não posso deixar de lembrar que a amizade e o amor são dois sentimentos que exigem mais do que palmadinhas nas costas."

E não são esses o nossos melhores amigos? Aqueles que, independentemente de saberem que nos vai doer, nos dizem o que lhes vai realmente na alma? É fácil? Não acho.

Gostei...

Sónia disse...

Gynja,

Sabe bem ter-te por aqui. Tu sabes e eu sei que gerir o que devemos e o que podemos não é fácil, mas é daí que vem o "gosto" pela vida.

Beijo