quinta-feira, abril 16, 2009

Swing

Quanto de nós damos a conhecer aos outros? Quanto de nós os outros desejam realmente conhecer?



Lembro-me de um professor de História aborrecido que tive no secundário: o Ângelo Cristo. Embora aborrecido como professor, adorava conversar com ele; dotado de um sentido de humor refinado, entre nós existia um código de entendimento forjado nos desenhos criativos que me mostrava ou no interstício de olhares de entendimento. O Ângelo Cristo fazia-me rir, percebi que dar aulas era o caminho que ele percorria para lhe entrar dinheiro no bolso mas não o caminho pelo qual suspirava todas as noites antes de adormecer.

Muitos anos depois, voltei a encontrá-lo. Tinha os seus quadros expostos numa galeria pequena. Foi uma revelação descobri-lo pintor. Mais ainda, descobri-lo moçambicano. O interessante no ser humano é exactamente isto, a possibilidade de não ser uma coisa só. Um professor aborrecido pode também ser um pintor; um escritor brilhante pode bater na mulher; uma cantora famosa pode chorar com medo do escuro; uma dona de casa pode escrever poesia.


Quanto de nós damos a conhecer aos outros? Quanto de nós os outros desejam realmente conhecer?


O nosso dia-a-dia faz-se de encontros mais ou menos superficiais com outros como nós: têm sonhos, têm ilusões, têm objectivos, têm problemas, têm frustrações, têm medos, têm paranóias, têm sentimentos, têm rasto, têm passado, têm amores, têm desamores, têm futuro, têm fantasias, têm voz, têm vida, têm morte, têm abraços, têm frio, têm televisão, têm livros, têm música, têm céu, têm terra, têm luz, têm sombras, têm calor, têm espelho, olhos, lábios e boca e têm tempo que usam ou não para dar um pouco de si a conhecer aos outros ou para receber o pouco ou muito que os outros desejam dar a conhecer de si.

4 comentários:

Eris disse...

Ah... pensava que era sobre swing, sou contra, claro.
:)

Sónia disse...

E fala sobre swing, ainda que de uma perspectiva pouco sexual! ;)

Robson Ribeiro disse...

E como seria monótona a vida se fôssemos sempre os mesmos...

Beijos!

FigueiRita disse...

O Ângelo Cristo era realmente Secante... Não lhe conseguia achar qualquer graça mas... sei que assim era contigo. Tens a capacidade de ver as pessoas como goatarias que fossem. Já eu os vejo como realmente São.